quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Economia da Arte

O pensamento económico tem vindo a ser aplicado nas mais vastas áreas, como a educação, a poluição e até a corrupção. A arte não é exceção. Existe uma extensão de mercados relacionados com as diferentes formas de arte, que com o passar dos anos se transformaram em indústrias, como o caso das indústrias da música e do cinema.
Relativamente à arte, de uma perspetiva tradicional, mais propriamente as pinturas e as esculturas, existe todo um pensamento económico que vai um pouco contra os mercados de bens e serviços a que estamos habituados.
Uma tela de linho, tintas, pincéis e outros materiais necessários para a criação de uma obra custam, em média, pouco mais de 50€. Se partirmos do pressuposto que o tempo médio de trabalho, que na realidade tanto pode durar algumas horas como vários dias, seja de 3 dias, o custo total de produção poderá rondar os 200€. Então, porque é que existe tanta discrepância entre os valores das obras de arte? 
A questão da valoração e da determinação de preços está dependente não dos custos da produção mas sim dos potenciais compradores e da perceção dos especialistas. Podemos, então, dizer que a procura no mercado da arte depende de 3 elementos: em primeiro lugar, temos o valor social, isto é, o “status” social que o comprador obtém ao adquirir a obra; de seguida, temos o valor artístico, comparando com obras contemporâneas que marcam uma corrente artística ou um acontecimento histórico, ou a importância que tem para as gerações atuais e para as vindouras; por fim, temos o historial de preços que a obra detém, isto é, se o comprador adquiriu a obra com a perspetiva de, no futuro, o preço aumentar, ou seja, como forma de investimento. 
Um exemplo que retrata perfeitamente estas questões de valoração das obras de arte é o quadro de Róbert Berény, um artista húngaro do início do séc. XX. Este quadro foi utilizado como adereço no filme “Stuart Little”(1999), tendo sido adquirido pela cenógrafa por uma ninharia, numa loja de antiguidades em Pasadena, Califórnia. Só uma década mais tarde é que um historiador de arte húngara deu conta da obra, enquanto via o filme com a sua filha. A obra será leiloada dia 13 de Dezembro, com o valor inicial de €110.000. 
O que podemos retirar daqui é que o mesmo quadro, num curto espaço de tempo, passou de um valor irrisório para um valor superior a €100.000. Neste caso, o que foi valorizado foi a bagagem histórica e a importância artística que o autor da obra tem, na medida em que foi um dos artistas do movimento “avant-garde” que introduziu o expressionismo e o cubismo na arte húngara naquela época. 
Naturalmente, tudo isto questiona todas as perceções de mercado que nós temos, visto que não existe outro produto que tenha um valor acrescentado tão elevado como a arte. Materiais, custos de produção e mão-de-obra não têm qualquer importância ou significado quando se trata de uma obra de arte, nem sequer a noção tradicional da lei da oferta e da procura consegue explicar este fenómeno. A procura por arte em nada se restringe à questão da propriedade, visto que a experiência da observação da obra, o usufruto, o desejo de ver e de partilhar a experiência detêm uma maior relevância culturalmente. Como tal, com o passar do tempo, as obras mais importantes e mais marcantes vão para Museus. Quanta maior a afluência para ver uma determinada obra, maior o seu valor de mercado.
 Um exemplo é o Museu do Louvre, o museu mais visitado do mundo, onde, para além das muitas obras lá expostas, as pessoas deslocam-se apenas com o intuito de ver a mais enigmática obra de Leonardo Da Vinci, a Mona Lisa. Este quadro está estimado em cerca de 1,9 mil milhões de euros e o Governo francês até estudara a hipótese de vender o quadro para pagar as dívidas do Estado, tal como o governo português pretendeu fazer no caso dos quadros de Miró. Se tal acontecesse, deixariam as pessoas de visitar o Museu do Louvre?
Podemos então dizer que, tal como a arte em si, a economia inerente à arte é imprevisível, controversa, e por vezes um pouco disparatada, e ninguém entende o seu significado. 

Filipa Barros

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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