sábado, 20 de dezembro de 2014

A crise e a saúde mental dos portugueses

Crise, palavra tão insinuada e debatida nos dias de hoje… Sim, é esta a palavra escolhida para definir todos os danos, muitos deles irreversíveis, que se têm verificado ao longo dos anos e nos mais variados sectores da economia portuguesa. Da educação à saúde, os problemas são cada vez mais preocupantes e, no que toca a soluções, estas parecem não existir. 
Mas terá o povo português tanta capacidade de adaptação a estas situações como dizem? Terão, estas pessoas (nas quais eu me incluo), algum motivo para encarar a situação de degradação do país de ânimo leve, sabendo que isso se repercute de forma avassaladora no estado da sociedade? Apesar das diferentes manifestações e protestos que fazem (e aos quais não têm resposta), não existirá nenhum tipo de corrosão do seu foro psicológico, do seu estado mental, da maneira como encaram a vida ao não receberem pelo menos metade daquilo que dão em dobro ao seu país? 
A verdade é que o problema é mais grave do que aquilo que parece e as respostas a estas perguntas demonstram uma “face” do povo lusitano que ninguém conhecia e que tem vindo a transparecer. 
Segundo instituições como a OMS, a UE, o Parlamento Europeu e a Federação Mundial de Saúde Mental, “as crises económicas ao provocarem desemprego, empobrecimento e insegurança, têm repercussões na saúde mental dos envolvidos, particularmente com evoluções depressivas e risco acrescido de suicídio, em especial quando se agrava o endividamento e é afetada a situação residencial dos mesmos”. As notícias e relatórios que têm vindo a tirar este tipo de conclusões são vários e, segundo o Diretor do Programa Nacional da Promoção de Saúde Mental, a solução para estes “impactos da crise na saúde mental, nomeadamente o suicídio, está na criação de trabalho e no apoio social nas situações mais dramáticas” e não nos “medicamentos e em psicoterapias”. O mesmo enfatiza esta sua posição defendendo “que os efeitos da crise na saúde mental são um problema transversal porque não se resolvem sem respostas da segurança social, do mercado social de emprego ou de cursos de formação que respondam a áreas em que há défice a nível de mercado para reduzir o desemprego”. 
Da mesma forma, o Observatório Português dos Sistemas de Saúde, além de concordar com as medidas mencionadas anteriormente, aponta ainda para a necessidade de um aumento do suporte familiar, de respostas ao endividamento e de políticas relativas ao alcoolismo, uma das dependências que cresce com a crise. 
É então fácil de concluir que, apesar de todas as discussões e opiniões que se geram em torno deste assunto, as crises económicas constituem momentos de alto risco para o bem-estar mental da população portuguesa, existindo por isso uma emergência na definição e implementação de medidas para que a situação não tome ainda maiores proporções. Apesar dos abalos que tem sofrido o Sistema de Saúde Português, são poucos os esforços que se têm verificado para o melhorar e para inverter ou minimizar os impactos negativos da atual conjuntura económica e financeira de Portugal no mesmo. 
São medidas como programas de apoio familiar, cuidados de saúde de proximidade, incluindo de saúde mental para as pessoas mais vulneráveis, desenvolvimento de competências que visam a proteção da depressão e do comportamento suicidário, reconhecimento precoce de consumos de risco e do seu respetivo contributo para a depressão e suicídio, maior apoio das estruturas da comunidade, em particular dos cuidados de saúde primários, programas de formação em saúde mental dirigidos a profissionais de saúde mental e sensibilização da população em geral, serviços de cuidados primários acessíveis e implementação de um sistema de cuidados partilhados entre cuidados de saúde primários e outros níveis de cuidados, nomeadamente cuidados hospitalares, de modo a assegurar uma resposta eficaz e eficiente junto da comunidade, que, na minha opinião, podem sinceramente fazer a diferença, criando melhorias num povo debilitado mas com esperança de encontrar um futuro melhor.

                                                                                                            Luísa Cunha Lima 
Bibliografia:
http://www.portaldasaude.pt/NR/rdonlyres/B7E58F6F-48F5-4907-BDE2-B5EB65AE9BC3/0/Parecer_CNSM.pdf

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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