Olhamos à nossa volta e vemos, todos os meses, milhares de jovens emigrar. Ouvimos amigos a falar dos seus planos para partir. Não com a satisfação de quem procura novas experiências, mas com a frustração de quem sente que o país onde nasceu não lhe dá nem lhe dará no futuro qualquer oportunidade.
Estamos a perder agora as primeiras gerações de gente qualificada. Qualificada graças a um investimento que, no discurso dominante, é tida como um luxo incomportável. O emigrante dos anos 60 vinha de meios rurais e era, em muitos casos, ou analfabeto ou próximo disso. O emigrante atual é jovem, qualificado e procura carreira, e não apenas dinheiro para sobreviver no estrangeiro e depois regressar. A emigração de jovens qualificados é hoje um indicador problemático para o nosso país.
O número de emigrantes portugueses com o ensino superior aumentou mais de 87% numa década, passando de um total de 77.790 em 2001 para mais de 145 mil em 2011. Numa perspectiva comparada com o total da emigração portuguesa, são já 10% os portugueses que emigram com curso superior, sendo que há dez anos o número de emigrantes qualificados não passava de 6%, o que representa um salto de quase 60% neste indicador. O Reino Unido é hoje o principal destino da emigração e o principal destino dos emigrantes qualificados. Segue-se a Suíça, tendo-se mantido constante como importante foco de emigração portuguesa desde o final da década de 80, e a Alemanha reaparece no mapa como um dos principais destinos de emigrantes qualificados. Para quarto lugar cai a Espanha, que está hoje a assistir a um ligeiro decréscimo da população portuguesa emigrada com o colapso da construção civil, que veio com a crise financeira de 2008.
Constatamos, então, que os jovens mais qualificados olham, de uma forma global, para as oportunidades de carreira, pelo que é natural que considerem mais vantajoso algumas saídas profissionais no estrangeiro. São engenheiros, enfermeiros, professores, economistas. É inúmera a diversidade de estudantes qualificados que procuram novas oportunidades e novos desafios fora do seu país. Portugal investiu em educação mas esqueceu-se que era necessário criar empregos para os milhares de alunos que terminam os seus cursos todos os anos. O estado português financiou a nossa educação durante anos e agora quem irá beneficiar dos seus frutos serão países como o Reino Unido, a Suíça e Alemanha, entre outros, pois estes países são sinónimo de oportunidade. Oportunidade de adquirir e aplicar novos conhecimentos, oportunidade de ter um futuro.
O incentivo à emigração dos jovens fará com que o país perca o seu bem mais valioso, o único capaz de o fazer renascer: o capital humano qualificado. É então necessário a reorganização do nosso mercado, numa lógica de valorização do capital humano e da criação de oportunidade de desenvolvimento profissional, para que se criem condições de acolhimento para esta geração que se vê aliciada a emigrar e que, apesar de poder trazer algumas vantagens disso, é uma geração altamente qualificada e preparada, que muito pode dar ao país e ajudar no seu desenvolvimento.
Ana Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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