quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Vamos apostar na produtividade ou na competitividade?

Frequentemente, vamos ouvindo notícias sobre os níveis de produtividade e competitividade de Portugal e respetivas conclusões: de que Portugal necessita de apostar na produtividade, de que os portugueses trabalham muito mas não são produtivos, salientando-se que maiores níveis de produtividade garantem maiores níveis de competitividade.
A liderar o ranking da produtividade do trabalho por hora, na União Europeia, está a Bélgica, com um índice de 133,1, seguido dos Países Baixos, com 129,4, e da Dinamarca, com 129. Esta informação, recolhida no PORDATA, apresenta um índice de produtividade do trabalho por hora para Portugal de 65,3, situando-se acima apenas da Bulgária (43,3), Roménia (45,1), Letónia (57), Polónia (60), Estónia (60,9) e Hungria (61,6).
A situação portuguesa no que respeita à sua classificação nos rankings de produtividade não é a melhor, nem a desejável. Mas a causa estará nas capacidades e qualificações dos trabalhadores portugueses?
Os fatores que poderão influenciar os níveis de produtividade de uma empresa são os custos com a matéria-prima, infraestruturas e equipamento e a mão-de-obra.
Contudo, qualquer uma destas medidas pode, por si só, não significar melhorias ao nível da produtividade. E, no caso concreto de Portugal, é preciso ter em conta aspetos culturais, opções estratégicas, processos, procedimentos e formas de gestão implementadas nas empresas, que poderão limitar efetivamente os seus níveis de produtividade.
Ao mesmo tempo que se fala de produtividade, fala-se de competitividade e da necessidade de sermos mais produtivos para podermos competir à escala europeia e mundial, relacionando assim produtividade com competitividade.
Uma empresa poderá ter aumentos de produção porque, por exemplo, trabalhou mais horas ou porque foi feito um investimento numa máquina tecnologicamente mais avançada, garantindo assim uma maior oferta de produtos, mas não quer dizer que sejamos mais competitivos, pelo menos ao nível do preço. Podemos colocar no mercado maiores quantidades de produto, mas a preço superior, não garantindo assim níveis de competitividade (por exemplo, se competirmos com a China). Podemos até colocar no mercado maiores quantidades de produto a um preço inferior ao praticado no mercado, mas sem qualquer valor acrescentado, por exemplo, ao nível da inovação do produto, e aí não estaremos também a ser competitivos (por exemplo, se competirmos com Alemanha).
Na sua última edição, o Índice Global de Competitividade do Fórum Económico Mundial avaliou Portugal na 36ª posição dos países mais competitivos do mundo. Atualmente este ranking é liderado pela Suíça, seguindo-se Singapura, Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, Japão, Hong Kong, Holanda, Reino Unido e Suécia.
É preciso apostar em maiores níveis de competitividade nas empresas portuguesas e posicionar Portugal num patamar superior, e isso poderá acontecer através de maiores níveis de produtividade...mas não só!
A competitividade da economia portuguesa passa pela aposta na inovação, na diferenciação da oferta e no desenvolvimento de produtos com real valor acrescentado.
Temos vindo a assistir ao longo dos anos a uma evolução positiva de investimento privado em I+D+i, contudo essa aposta ainda não é significativa quando comparada com outros países da União Europeia. Não assistimos a grandes níveis de transferência de tecnologia das universidades, centros tecnológicos e centros de I+D+i para as empresas, deixando grande parte dos projetos de ter aplicabilidade no mercado empresarial. E o certo é que a competitividade da economia portuguesa poderá passar por aí.
Por um lado, é necessário aproximar as empresas destes centros. Por outro lado, é importante apostar em projetos que tragam valor acrescentado à indústria e que possam ser propostos ao meio empresarial.
Portugal poderá competir globalmente, apresentando diferenciação através, por exemplo, de produtos desenvolvidos por empresas de base tecnológica, por produtos desenvolvidos pela indústria tradicional portuguesa mas com incorporação de I+D+i ou design. O setor do calçado ou do têxtil são um exemplo. Empresas como a Petratex ou Luis Onofre deram a volta ao panorama nacional e vingam no mercado mundial.
Mais do que apostar na produtividade, acredito na aposta em mais e melhores empregos, em mais conhecimento e transferência de massa critica para as empresas portuguesas. Só assim conseguiremos posicionar Portugal lá fora. Os trabalhadores portugueses são produtivos, trabalham bem e muito, mas precisam também que sejam criadas condições ao nível laboral, organizacional, apostando na qualificação dos seus gestores e lideres.
          Assim, é possível aliar a produtividade à competitividade.

Francisca Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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