Frequentemente,
vamos ouvindo notícias sobre os níveis de produtividade e competitividade de
Portugal e respetivas conclusões: de que Portugal necessita de apostar na
produtividade, de que os portugueses trabalham muito mas não são produtivos,
salientando-se que maiores níveis de produtividade garantem maiores níveis de
competitividade.
A liderar o ranking da produtividade do trabalho por
hora, na União Europeia, está a Bélgica, com um índice de 133,1, seguido dos Países
Baixos, com 129,4, e da Dinamarca, com 129. Esta informação, recolhida no
PORDATA, apresenta um índice de produtividade do trabalho por hora para
Portugal de 65,3, situando-se acima apenas da Bulgária (43,3), Roménia (45,1),
Letónia (57), Polónia (60), Estónia (60,9) e Hungria (61,6).
A situação
portuguesa no que respeita à sua classificação nos rankings de produtividade não é a melhor, nem a desejável. Mas a causa
estará nas capacidades e qualificações dos trabalhadores portugueses?
Os fatores que poderão influenciar os níveis de
produtividade de uma empresa são os custos com a matéria-prima, infraestruturas
e equipamento e a mão-de-obra.
Contudo, qualquer
uma destas medidas pode, por si só, não significar melhorias ao nível da
produtividade. E, no caso concreto de Portugal, é preciso ter em conta aspetos
culturais, opções estratégicas, processos, procedimentos e formas de gestão
implementadas nas empresas, que poderão limitar efetivamente os seus níveis de
produtividade.
Ao mesmo tempo que
se fala de produtividade, fala-se de competitividade e da necessidade de sermos
mais produtivos para podermos competir à escala europeia e mundial,
relacionando assim produtividade com competitividade.
Uma empresa poderá ter aumentos de produção porque, por
exemplo, trabalhou mais horas ou porque foi feito um investimento numa máquina
tecnologicamente mais avançada, garantindo assim uma maior oferta de produtos,
mas não quer dizer que sejamos mais competitivos, pelo menos ao nível do preço.
Podemos colocar no mercado maiores quantidades de produto, mas a preço
superior, não garantindo assim níveis de competitividade (por exemplo, se
competirmos com a China). Podemos até colocar no mercado maiores quantidades de
produto a um preço inferior ao praticado no mercado, mas sem qualquer valor
acrescentado, por exemplo, ao nível da inovação do produto, e aí não estaremos
também a ser competitivos (por exemplo, se competirmos com Alemanha).
Na sua última
edição, o Índice Global de Competitividade do Fórum Económico Mundial avaliou
Portugal na 36ª posição dos países mais competitivos do mundo. Atualmente este ranking é liderado pela Suíça,
seguindo-se Singapura, Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, Japão, Hong Kong,
Holanda, Reino Unido e Suécia.
É preciso apostar
em maiores níveis de competitividade nas empresas portuguesas e posicionar
Portugal num patamar superior, e isso poderá acontecer através de maiores
níveis de produtividade...mas não só!
A competitividade
da economia portuguesa passa pela aposta na inovação, na diferenciação da
oferta e no desenvolvimento de produtos com real valor acrescentado.
Temos vindo a
assistir ao longo dos anos a uma evolução positiva de investimento privado em
I+D+i, contudo essa aposta ainda não é significativa quando comparada com outros
países da União Europeia. Não assistimos a grandes níveis de transferência de
tecnologia das universidades, centros tecnológicos e centros de I+D+i para as
empresas, deixando grande parte dos projetos de ter aplicabilidade no mercado
empresarial. E o certo é que a competitividade da economia portuguesa poderá
passar por aí.
Por um lado, é
necessário aproximar as empresas destes centros. Por outro lado, é importante
apostar em projetos que tragam valor acrescentado à indústria e que possam ser
propostos ao meio empresarial.
Portugal poderá
competir globalmente, apresentando diferenciação através, por exemplo, de
produtos desenvolvidos por empresas de base tecnológica, por produtos
desenvolvidos pela indústria tradicional portuguesa mas com incorporação de I+D+i
ou design. O setor do calçado ou do
têxtil são um exemplo. Empresas como a Petratex ou Luis Onofre deram a volta ao
panorama nacional e vingam no mercado mundial.
Mais do que
apostar na produtividade, acredito na aposta em mais e melhores empregos, em
mais conhecimento e transferência de massa critica para as empresas
portuguesas. Só assim conseguiremos posicionar Portugal lá fora. Os
trabalhadores portugueses são produtivos, trabalham bem e muito, mas precisam
também que sejam criadas condições ao nível laboral, organizacional, apostando
na qualificação dos seus gestores e lideres.
Assim, é possível aliar a produtividade à
competitividade.
Francisca Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário