segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Quando as promessas diferem da realidade

O período de governo de Pedro Passos Coelho sempre ficou marcado pelo seu discurso bastante optimista face à realidade dos números e indicadores macroeconómicos, contudo a estratégia para 2015 parece ser ainda mais optimista uma vez que em breve iremos entrar no ano de eleições. Começando pelas previsões bastante distintas do real e acabando no orçamento de estado demasiado “bom” para ser verdade, tudo isto surge como uma espécie de pré-campanha do atual primeiro-ministro para que possa manter-se no cargo nos próximos quatro anos.
Desde cedo se percebeu qual seria a estratégia deste governo: aguentar nos primeiros tempos os danos causados pela perca de popularidade e da percepção de competência para depois se poder vangloriar com pequenas melhorias na economia resultantes da austeridade aplicada.
Todavia, o resumo dos quase quatro anos de governação de Passos Coelho cinge-se a um aumento brutal dos impostos e a um corte indescritível nos salários e pensões, pelo que em relação a isto pouco ou nada de positivo se pode extrair do mandato deste governo.
Quando se imaginava que, para 2015, o governo se iria preocupar um pouco mais com as classes mais desfavorecidas e lhes reduzisse a carga fiscal de modo a tornar o sistema mais justo, os seus principais objetivos apenas se focaram nas eleições, pelo que as medidas tomadas em nada foram de encontro a esta situação. Outro ponto em que o governo irá falhar, tendo em conta o orçamento de estado, é na não redução do IVA sobre a restauração, que se encontra nos 23%, visto que este setor perde consumidores devido a preços elevados, e se tivesse um IVA mais baixo iria ser muito mais lucrativo (não nos podemos esquecer que Portugal é um país bastante turístico, pelo que a restauração é um setor com grande peso na economia).
O aumento do salário mínimo em 20 euros e das pensões mínimas em 1,5%, são os doces que este governo deu aos eleitores para garantir os seus votos. Passos Coelho pensa que estes doces, aliados a projeções optimistas para 2015 (mas irreais), são o suficiente para voltar a ter a confiança de muitos portugueses, e que se o seu discurso for sempre de encontro ao “crescimento económico”, a população irá pensar que as políticas demasiadamente austeras foram as ideais.
Relativamente ao desemprego, este governo também tem falhas bastante acentuadas, pois em vez de tentar controlar o seu valor, incentivava ainda à saída de população ativa para o exterior, provocando assim uma diminuição artificial da taxa de desemprego. Além disso, gerou-se um clima de precariedade em relação ao trabalho, uma vez que o estado destinou alguns milhões destinados a estágios profissionais, ou seja, mais uma forma de contornar os números do desemprego em Portugal.
O início deste novo crescimento económico é meramente artificial, pelo que uma evolução positiva com um crescimento sustentado da economia portuguesa não será um cenário viável no curto prazo, correndo-se mesmo o risco de se entrar novamente em recessão.
É verdade que o governo tem gasto alguns milhões nos últimos tempos em estágios profissionais e para aumentar o salário mínimo, mas isso não passam de medidas “para inglês ver”, pois, além de serem a pensar nas eleições, são autênticas migalhas que não escondem a verdadeira e cruel realidade portuguesa, que é a inexistência de uma política real de criação de emprego e de crescimento económico. Ao longo destes quatro anos, a tão aclamada “Reforma de Estado” ainda não foi concluída com sucesso, tendo ainda o governo muitas “gorduras” que necessitam de ser cortadas para que funcione melhor e não haja um nível de pobreza tão acentuado em Portugal.
Em suma, podemos concluir que este crescimento sazonal foi provocado estrategicamente pelo governo para garantir a vitória nas eleições no próximo ano, logo, as previsões que podemos fazer neste momento é que apenas em 2016 veremos o verdadeiro estado da nação.

Ricardo Fernando Azevedo da Silva 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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