quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Carne de vaca – medida extremista ou pequeno contributo?

Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra (UC), pretende abolir a carne de vaca da ementa das 14 cantinas daquela instituição de Ensino Superior. Numa cerimónia de receção a novos alunos, disse que “Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”, fazendo com que a Universidade de Coimbra se torne na “primeira universidade portuguesa neutra em carbono”.
Por outro lado, esta medida que começará a ser implementada a partir de janeiro de 2020, não foi bem encarada pela Confederação dos Agricultores de Portugal e pela Federação Nacional das Associações de Bovinicultores. Estes últimos consideravam - se “em choque”. Com isto, deverá a Universidade de Coimbra continuar com o uso desta carne nas suas cantinas ou deverá aboli-la, tornando-se numa Universidade mais sustentável? Ora vejamos:
A bovinicultura é uma atividade muito poluente em todo o processo. Os animais emitem metano para a atmosfera e os seus alimentos foram gerados com o uso de fertilizantes e pesticidas. Para além disso, há que considerar a desflorestação provocada. Por outro lado, a carne de vaca é um dos alimentos mais usados na cozinha portuguesa. Assim, importa referir que uma Universidade Portuguesa que é visitada por imensos estrangeiros anualmente deveria continuar a mostrar o legado português.
Esta instituição que está preocupada com a pegada ecológica provocada, está também a substituir os kits de receção ao caloiro por uns mais sustentáveis, utensílios de madeira e palhinhas de papel. No entanto, só está agora a proceder à colocação de ecopontos nas residências universitárias, o que é uma medida que, a meu ver, estará muito atrasada no tempo.
Com a diminuição deste consumo, a UC terá que fazer uma substituição adequada face aos níveis nutricionais necessários e usar alimentos que proporcionem esses níveis adequados, não sendo apenas usados os alimentos que trazem uma maior poupança. Essa escolha teria que ser obviamente pensada e balanceada com a sustentabilidade, pois alimentos como tofu e seitan, usados para substituir carne, têm uma pegada ecológica ainda maior.
Para além disso, importa também referir que esta é das carnes mais caras do mercado e que a visibilidade que a UC poderá estar a ter, mostrando que é sustentável, poderá ser apenas uma medida para poupar imenso dinheiro e continuar a cobrar o mesmo por algo que dantes incluía na sua ementa. Lembro ainda que, para muitos jovens estudantes, esta poderá ser a única refeição diária quente e com carnes vermelhas, que também são essenciais ao bem-estar físico.
Então o que deverá fazer a Universidade de Coimbra para dignificar a ciência que representa e mostrar-se um agente informado, em que prova não estar a tomar esta medida de forma leviana? Pois bem, na minha opinião, em detrimento da abolição total de carne de vaca, deveriam aboli-la parcialmente – utilizar carne desfiada ou menores porções, por exemplo. Um pequeno contributo já faz diferença e, para além disso, também deveria apoiar alguma medida relativamente a queijos e leite, que são produtos derivados da bovinicultura.
As novas opções e refeições deverão ser bem ponderadas. O uso de vegetais e peixes de origem desconhecida ou com más condições de conservação não são uma melhor opção do que carnes provenientes de agricultura extensiva com uso abusivo de fertilizantes e pesticidas. Um bom exemplo é o Instituto Politécnico de Bragança. Este, apenas serve carne de vaca mirandesa com Denominação de Origem Protegida. A aposta em produtos da região dá apoio e incentivo a pequenos produtores, que de outra forma não teriam tanta visibilidade nem sucesso.

Alexandra Isabel Machado de Oliveira

Fontes:
https://observador.pt/opiniao/fraca-carne/?fbclid=IwAR39WyedtP4DfNYv-VRirlcOXa0n25ycW-ODTbub10TO8KHJ83SCJFmzsDA (acedido em 22 de setembro de 2019)

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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