domingo, 29 de setembro de 2019

Eleições e abstenção - inimigas letais?

Eleições: um direito muito disputado ao longo dos séculos, desde o começo dos começos com o simples direito ao voto, passando por lutas mais recentes que permitiram que este direito fosse de todos os cidadãos e não só de classes/géneros específicos, como fora no passado.
A existência de eleições é, a meu ver, algo extremamente positivo, permitindo que tenhamos algum impacto nas decisões feitas pelas identidades para as quais votamos. Claro está, tem custos inerentes (alguns muito significativos), desde a paralisação do país nos meses que antecedem as eleições, passando pela aprovação/manifestação de ideias dos políticos no período final do mandato apenas para agradar ao eleitorado, aos custos da própria eleição. Importa não esquecer, ainda, os ciclos viciosos de repetição de eleições, que têm-se tornado mais comuns na Europa, com graves consequências para os países por afetar a estabilidade e a imagem destes face a investidores estrangeiros.
Ainda assim, pesando ambos os lados da balança, continua a fazer todo o sentido manter este direito que tanto custou a conseguir. Mas, parece que nem toda a gente pensa desta maneira, ou pelo menos os dados da abstenção isso indicam:

Acima, pela leitura do gráfico, é possível detetar um crescimento bem claro. Destacar ainda que se trata de dados sobre a abstenção para a eleição da AR. Se analisássemos para as Europeias, os números seriam ainda mais expressivos.
Elevadas abstenções são graves? Evidentemente, pela simples razão que comprometem a democracia – aumenta a distância entre os eleitores e os governantes, correndo inclusive o risco destes últimos serem elegidos de forma enviesada, ou seja, não refletirem efetivamente a maioria com que o país se identifica.
Porque estão as pessoas a deixar de votar? Existe um famoso paradoxo, o “paradoxo do voto”, que ajuda a explicar isto. Economicamente, falando de milhões a votar para estas eleições, o benefício que tiramos do nosso voto, que estatisticamente não terá influência, é inferior ao custo (seja ele um dia em casa com a família ou um dia a passear de carro). Logo, racionalmente, ninguém deveria votar. Mas as pessoas votam! Votam pela consciência de que é um direito cívico e que é a forma de preservar o nosso estilo de vida democrático.
Achámos então o nosso problema e com ele a solução: as pessoas deixaram de estar consciencializadas com esta mentalidade e, portanto, a solução passa por voltarem a estar.
Na minha perspetiva, formas de o conseguir podem surgir por uma referência a este direito mais frequentemente, utilizando os media e as redes socias para chegar aos jovens (um dos segmentos populacionais com maior abstenção) e também por um estilo político mais perto dos mesmos, com referência a causas que estes acham relevantes (o PAN suporta muito o seu crescimento neste método). Sejam estas, ou outras soluções mais concretas, o facto é que é um problema muito atual e todos devemos endereçar esforços para o solucionar, e em especial a esfera política.

Rui Moutinho Bessa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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