segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Dados pessoais: um negócio assustadoramente lucrativo e atual

Será que nós achamos que estamos seguros porque temos uma palavra passe para cada rede social, app ou qualquer outra plataforma? A maior parte das pessoas não lê os termos de utilização de dados por uma questão de pragmatismo e rapidez. No entanto, tudo o que fazemos fica registado no mundo virtual, desde os jogos, as compras online, a nossa atuação em redes sociais, o uso de uma app, entre outros exemplos.
Todos estes serviços têm algo em comum: são necessários dados para a sua utilização, muitas vezes apenas indiretamente. As redes possuem dados relativos às conversas que estabelecemos, fotografias e informações pessoais que partilhamos. Além disso, as apps que usamos têm, por norma, as chamadas cookies que armazenam a nossa informação e que nós aceitámos sem sequer ler as suas condições.
Todas essas informações que partilhamos, ainda que sem termos sempre essa noção, são uma grande fonte de negócio de grandes empresas como a Google, que prestam serviços de informação que permitem traçar os perfis dos consumidores. Então a Google vende os nossos dados? Não! Se alguém gosta de nadar e fá-lo com frequência, a probabilidade de comprar produtos ligados à natação é mais relevante. Assim sendo, é aí que entram estas multinacionais, exibindo os anúncios com produtos de natação a quem pratica ou gosta desse desporto. Na verdade, o facto de não vender os dados é o que torna o negócio tão lucrativo, disponibilizando a informação que pode, no momento certo, ao cliente que faz mais sentido.
A Google sabe muito sobre nós, conhece o que compramos online na nossa loja preferida, os compromissos que temos registados no calendário ou todos os locais que percorremos? Será que temos assim tanto poder de escolha? Na teoria temos, mas as nossas decisões, por exemplo de consumo, são muitas vezes condicionadas por aquilo que pesquisamos na internet. De facto, isto acontece até mesmo quando vamos ao supermercado, já que o uso dos cartões de desconto permite-lhes perceber quais os produtos que nos vão suscitar interesse, para que depois possam enviar aquela mensagem “nada programada” a informar que na semana seguinte irão fazer promoção nesses artigos.
Os maiores defensores da privacidade dos dados pessoais dos indivíduos acreditam que se pode proteger mais informações com uma maior transparência sobre os dados que realmente existem e não podem ser utilizados para nada além do estritamente aceite. Nesta linha de pensamento, a Google tem sido multada por violar alguns desses direitos. A mais recente contraordenação teve a ver com o uso não autorizado de informações de crianças via Youtube, tendo sido aplicada uma multa na ordem dos 150 milhões de euros. De facto, a Children's Online Privacy Protection Act (criada em 1998) nunca tinha revelado uma punição com um valor monetário tão avultado.
De facto, a realidade dos dias de hoje pode ser bastante assustadora quando refletimos um pouco sobre a mesma. Pensar que tudo aquilo que fazemos está à disposição de todo um mundo digital é realmente apavorante. No entanto, toda essa evolução está associada a uma maior eficiência das empresas, pois conseguem direcionar muito mais a sua atuação para os seus alvos e os consumidores têm acesso a informação e publicidade sobre produtos que vão de encontro às suas necessidades.
Concluindo, não vou dizer que a falta de privacidade não me deixa insegura, mas, numa perspetiva macro, esta permite uma melhor interação e concretização da lei da oferta e da procura, ou seja, um melhor funcionamento da economia

Alice Graça

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: