domingo, 29 de setembro de 2019

Carros elétricos: já passado ou (ainda) futuro?

Após décadas a poluir constantemente este planeta, nos últimos anos vemos uma crescente preocupação com a Natureza. Esta preocupação levou a que nos anos 90, com os novos acordos ambientais (por exemplo, a norma EURO 0 – imposição de limites máximos de emissões de poluente), surja um renascimento da discussão sobre a sustentabilidade rodoviária e os veículos elétricos. Sim, renascimento.
O primeiro carro elétrico já data de 1884, construído pelo engenheiro Thomas Parker. E os carros elétricos “dominavam” o quotidiano até…Henry Ford construir o Model T, a gasolina. Assim, a produção de carros elétricos passou a ser praticamente nula até que nos anos 70, devido à crise petrolífera provocada pelo embargo dos países da OPEP, muitos viram os automóveis elétricos como uma possível solução. Hoje, mais de 1 século depois de Parker, temos as maiores marcas do mercado com carros elétricos no mercado.
Mas voltando ao carro elétrico, afinal o que é um carro elétrico? Os carros elétricos diferenciam-se dos demais pelo facto de utilizarem um sistema de propulsão elétrica e não terem a necessidade de recorrer à combustão interna. O motor elétrico converte a energia armazenada (em baterias recarregáveis), alimentando um motor que, por sua vez, fará a conversão da energia em energia mecânica, possibilitando que o veículo se mova.
Agora a questão que se prende é: os carros elétricos vão cair novamente em desuso ou, desta vez, é para se imporem firmemente no mercado?
Por um lado, quem compra um carro elétrico ainda tem direito a muitos benefícios por optar por esse tipo de viaturas. Deste modo, os governos, as leis, as normas tentam impor a ideia de que os carros elétricos vão ter uma posição cada vez mais forte no mercado. Um dos incentivos, a nível nacional, prende-se com o facto das pessoas singulares poderem receber um incentivo de € 3 000 e as pessoas coletivas receberem até quatro unidades de incentivo (€ 2 250 cada incentivo, num total de 9 000 euros). Outro exemplo é a aquisição destas viaturas e as respetivas despesas não estarem sujeitas a qualquer tributação autónoma e, ainda ser possível deduzir o IVA (os valores limites de dedução referem-se ao preço base dos carros, sem impostos). Mesmo o IUC destes carros é consideravelmente mais baixo. Além disto tudo, todos sabemos que já existem zonas (em Lisboa, por exemplo) que impedem a entrada de viaturas que tenham determinados níveis de emissão de poluentes. Estas medidas sugerem que a um curto/médio prazo vão surgir (possivelmente, até já existem) zonas de países que estejam restritas ao acesso a carros elétricos.
Contudo, nem tudo é bom nestas viaturas. Um dos principais problemas prende-se com o custo e recarregamento das baterias destes carros. Outro é o custo de instalação de postos de recarregamento de baterias.
Assim, volto a perguntar: esta ideia de carros elétricos não está a começar a ficar em desuso, novamente?
E, de facto, já há algum tempo que se vem mencionando o novo “modelo” de carros: carros movidos a… hidrogénio!! Isso mesmo, hidrogénio e, os próprios responsáveis de algumas marcas defendem esta ideia. De acordo com o responsável da Mercedes na Índia, Roland Folger, “…dentro de pouco mais de duas décadas, todas as populações vão conduzir automóveis a hidrogénio!”. Outro a defender esta ideia é um dos diretores executivos da Continental. Segundo este, as baterias dos carros elétricos são muito limitadas. Estas limitações permitem assim abrir portas aos veículos movidos a hidrogénio. Outra desvantagem apontada por este diretor é o facto dos carros elétricos terem uma relação qualidade/preço mais baixa do que os modelos a gasolina ou diesel. Assim, o mesmo conclui que a Continental já está a considerar investir na tecnologia das células de combustível a hidrogénio.
Uma das principais vantagens do hidrogénio é o facto de ser o elemento mais abundante no universo e ter grande densidade energética. E depois, claro, também não contribui com efeitos nocivos para o ambiente. A nível de custos, são ligeiramente superiores aos elétricos. Além disso e como ainda não são tão populares como estes, ainda não têm tantos benefícios.
Num futuro próximo, os carros elétricos ainda continuarão muito provavelmente a circular, a par dos carros movidos a hidrogénio (apesar de neste momento só a Toyota, Hyundai e Honda comercializarem estes carros). Como tal, a nossa escolha deverá recair em dois principais aspetos: preferimos ter um carro com bateria, que pode carregar em casa todos os dias (sem contudo, estar assegurado, neste momento, um sistema nacional de rede elétrica que permita esse carregamento numa situação dos carros serem elétricos a 100%) ou preferimos ter um carro a hidrogénio, mais eficiente e que abastece muito mais rápido, com um custo ligeiramente superior?
Esta luta entre estes dois tipos de células de combustível será resolvido pelas marcas e pelos produtores. No entanto, as decisões deles serão influenciadas diretamente pelo mercado, no qual os consumidores (e os governos de todos os países) têm uma palavra muito importante a dizer.

Pedro Luís Pereira de Sousa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: