A taxa de
desemprego é-nos dada pelo rácio de indivíduos sem emprego sobre a população
activa. Neste momento, a taxa de desemprego em Portugal é de 15,8%. Ou seja
15,8% da população que está em idade de trabalhar (18-65 anos) está sem
emprego. Trata-se de uma taxa de desemprego bastante alta comparada com o
histórico da evolução da taxa de desemprego das últimas três décadas. Mas não
estamos tão aflitos como os nossos vizinhos espanhóis, com uma taxa de
desemprego de 25,8% em Setembro de 2012, e como os gregos, com uma taxa de
desemprego 25,2% em Julho de 2012.
Numa perspectiva histórica, a
nossa taxa de desemprego, ao longo das últimas décadas, foi relativamente
baixa. Mais baixa em relação a países como Grécia, Espanha, Alemanha, chegando
mesmo a ser mais baixa que a média da União Europeia a 27. A segunda metade da
década de 80 e início da década de 90 foi marcada por uma queda da taxa de
desemprego de quase 5,4 pontos percentuais, depois da intervenção do FMI em
1983. Coincidiu com os dois mandatos de Cavaco Silva como primeiro-ministro
(governo social democrata). Esta descida da taxa de desemprego é enganadora. Essa
diminuição da taxa de desemprego foi muito à custa do aumento do número de
funcionários públicos e é um dos motivos que nos levou a pedir ajuda externa em
2011. As despesas públicas aumentaram, mas eram compensadas pelas taxas de
crescimento do PIB elevadas. Houve também um grande crescimento do investimento
em sectores intensivos em mão-de-obra barata, como por exemplo as confeções. Em
Janeiro de 1992 Portugal tinha uma taxa de desemprego de 3,9%, 2,1 pontos
percentuais a menos em relação à Alemanha. No final da segunda legislatura de
Cavaco Silva, a taxa de desemprego voltou a aumentar, fruto da crise de 1993,
em que o PIB caiu cerca de 2%, e do descontentamento popular em relação às
reformas implementadas. De 1995
a 2002 ocorreram os dois mandatos de António Guterres
(governo socialista). Neste período a taxa de desemprego volta a diminuir
resultante do aumento do número de funcionários públicos. Novamente o erro de
aumentar o número de funcionários foi seguido, agravado pela perda da sua
eficiência. A taxa de desemprego passou dos 7,2% em Dezembro de 1995 para os
5,2% em Abril de 2002. A
entrada para a união monetária foi assinada em 1992 no tratado de Maastricht,
mas só em 2002 é que entrou em circulação o euro.
Curiosamente é a
partir de 2002 que a taxa de desemprego segue uma trajetória de crescimento
contínuo. Neste ano há uma mudança de primeiro-ministro e uma mudança à direita
do espectro político. Durão Barroso ganha as eleições e tem como principal
objectivo tomar o controlo das contas públicas, acabando com o estado
despesista herdado das conjunturas anteriores. Só que a entrada para a união
monetária tornou-nos vulneráveis pois a nossa economia não é uma economia
competitiva em relação às demais economias da zona euro. Como ficámos sem a
política monetária, ou seja deixamos de poder desvalorizar a moeda, as empresas
de mão-de-obra intensivas começaram a falir. Para não falar das ténues taxas de
crescimento económico de 2001 e de 2002, para além da recessão de 2003 (todas
elas a baixo do produto potencial), que pouco ou nada contribuíram para a
criação de emprego.
No seu primeiro
mandato, podemos distinguir duas fases: a primeira, de consolidação das contas
públicas (2005-2007); e a segunda marcada pela crise financeira (2008-2009). Na
primeira, José Sócrates conseguir diminuir o défice público para o limite
imposto pelo pacto de estabilidade e crescimento. As taxas de crescimento do
PIB aumentaram, atingindo os 2,37% em 2007, a maior taxa desde 2000. Neste período a
taxa de desemprego mantém-se constante entre os 8% e os 9%. Já na segunda fase
o país é atingido pela crise mundial, o PIB estagna em 2008 e diminui em 2009
em quase 3%. Neste período, o desemprego aumenta aproximadamente 3 pontos
percentuais, acabando nos 11,3% no final do primeiro mandato de José Sócrates
(inicio de Novembro). No segundo mandato é realizada uma enorme injecção de
dinheiro público na economia para controlar a queda do PIB, aumentando de forma
irresponsável o défice do estado para tentar contrariar a tendência negativa do
crescimento da economia. Em 2010, o PIB cresce 1,4% mas a taxa de desemprego
atinge os 12,5% no final do governo de gestão de Sócrates.
No governo de
Passos Coelho (ainda um ano e alguns meses corridos), a taxa de desemprego
continua a aumentar muito por causa da redução do número de funcionários
públicos e devido à queda do PIB e à destruição de emprego, principalmente da
área de bens não transacionáveis.
A perspectiva para o futuro é
que haja uma estabilização da taxa de desemprego devido a algumas políticas
adoptadas pelo actual governo para flexibilizar o mercado de trabalho. Mas não
deixa de ser apenas uma estabilização. O que o país precisa é que os governos
olhem para os dados do desemprego e vejam os erros que foram cometidos, pois os
políticos até agora têm tido tendência a caírem nos mesmos erros. É necessário
repensar as políticas que têm sido tomadas até agora pois quem fica a ganhar
com elas muitas vezes são pequenos grupos da população portuguesa. É preciso
que os jovens qualificados integrem o mercado de trabalho, numa tentativa de
aumentar a competitividade da economia. É preciso uma reforma na tributação
feita às empresas e dar apoio as empresas que estejam viradas para as
exportações. É verdade que o nosso mercado de trabalho precisa de ser
reformulado e flexibilizado numa tentativa de criação de emprego, mas o que se
está a fazer agora não é mais do mesmo.
Diminuir os funcionários públicos e
criar medidas de flexibilização não irá mudar grande coisa. É preciso ir à raiz
do problema: estudar o caso Português e adoptar uma reforma estrutural no
mercado de trabalho para que mais tarde possamos observar uma melhoria na taxa
de desemprego.
Bruno Fernandes
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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