quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Será o recurso ao crédito a melhor solução?

Com a crise económica atual vivida no país, as famílias têm vindo a assistir a uma quebra do seu rendimento real, acompanhada de uma subida dos preços, ou seja, têm vindo a perder poder de compra.
No caso das famílias que conseguiram efetuar poupanças, com uma queda acentuada do seu rendimento real ver-se-ão tentadas a utilizar parte das mesmas para manterem o nível de vida a que estão habituadas. Poderá ser este o motivo que tem provocado uma diminuição da poupança das famílias. O recurso a poupanças tem vindo a crescer, tendo sido o mês de setembro deste ano, desde há três anos, o mês em que se procedeu ao levantamento de maior volume de dinheiro – os portugueses levantaram cerca de 725 milhões de euros de depósitos a prazo e 851 milhões, contando também com os depósitos à ordem[1].
Por outro lado, como grande parte das famílias vive apenas com aquilo que ganha, sem efetuar qualquer poupança, a existência de uma forte quebra no seu rendimento disponível leva a que muitas vejam como única solução/alternativa o recurso ao crédito. Se olharmos à nossa volta com atenção, não é difícil perceber o porquê desta tentação: existem imensas agências de crédito a serem publicitadas em quase todos os meios de comunicação. Estas agências são, em parte, responsáveis pela decisão final das famílias em recorrer ao crédito para os diversos fins possíveis, mas também os bancos tomam parte ativa neste papel. As promessas de soluções imediatas ou de acesso a dinheiro fácil, para manter o mesmo nível de vida, a ilusão de baixos juros e pagamentos fáceis de gerir, parecem, à primeira vista, altamente aliciantes. Contudo, antes de tomar uma decisão desta magnitude é necessário analisar em profundidade as consequências que dela poderão advir. Serão estes créditos “fáceis” realmente uma boa solução para as famílias?
Bem, em primeiro lugar é necessário esclarecer que na maioria dos casos (senão mesmo em todos) estes créditos são tudo menos fáceis, pelo menos para o consumidor, pois as agências e os bancos pretendem ter lucro e desengane-se quem pensar o contrário. Muitas vezes, o valor cobrado apenas em juros por estes empréstimos é mais elevado do que é inicialmente percetível pelo consumidor, e após algum tempo, com o inicio dos pagamentos associados, este apercebe-se que o crédito está a tomar proporções incontroláveis. Nesse momento, o individuo dá conta que não tem recursos financeiros nem para se sustentar, nem para o pagamento da dívida. Isto acontece porque, na maior parte dos casos, existe um consumo exagerado logo após a contração do empréstimo.
Perante uma situação tão crítica como esta, existe a tentação de negociar um novo empréstimo com um valor mais elevado, para que seja possível cobrir o montante em dívida e ficar ainda com uma parte de reserva. Por vezes, o indivíduo nem sempre procede imediatamente ao pagamento da dívida, acabando por voltar a gastar todo este novo montante, chegando-se a uma situação cada vez mais insustentável.
O que fazer para acabar com este “ciclo vicioso”? A solução poderá passar por uma reeducação da população para que lhe seja possível gerir melhor os rendimentos, em vez de incentivar o crédito incessante, que aparenta ser a solução mais fácil. Uma reeducação deste tipo deveria ensinar a população a fazer as escolhas mais acertadas tendo em conta o rendimento disponível. Nalguns casos, seria mesmo necessária a introdução da noção de custo de oportunidade, isto é, ensinar à população que, por vezes, a aquisição de determinado produto irá impedir a aquisição de outro que poderia proporcionar uma maior utilidade. Muitas vezes, as decisões são tomadas de forma impulsiva e leviana, ou seja, os produtos são adquiridos sem pensar na restrição orçamental da família e levam à incapacidade de adquirir um outro que poderia ser indispensável. Tomando estas medidas, o recurso ao crédito deixaria de tomar proporções incontroláveis, pois estaríamos a acabar com o “ciclo vicioso".

Catarina Vanessa Silva Gonçalves



[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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