Com a crise económica atual vivida no país, as famílias têm
vindo a assistir a uma quebra do seu rendimento real, acompanhada de uma subida
dos preços, ou seja, têm vindo a perder poder de compra.
No caso das famílias que conseguiram efetuar poupanças, com
uma queda acentuada do seu rendimento real ver-se-ão tentadas a utilizar parte
das mesmas para manterem o nível de vida a que estão habituadas. Poderá ser
este o motivo que tem provocado uma diminuição da poupança das famílias. O
recurso a poupanças tem vindo a crescer, tendo sido o mês de setembro deste
ano, desde há três anos, o mês em que se procedeu ao levantamento de maior
volume de dinheiro – os portugueses levantaram cerca de 725 milhões de euros de
depósitos a prazo e 851 milhões, contando também com os depósitos à ordem[1].
Por outro lado, como grande parte das famílias vive apenas
com aquilo que ganha, sem efetuar qualquer poupança, a existência de uma forte
quebra no seu rendimento disponível leva a que muitas vejam como única
solução/alternativa o recurso ao crédito. Se olharmos à nossa volta com
atenção, não é difícil perceber o porquê desta tentação: existem imensas
agências de crédito a serem publicitadas em quase todos os meios de
comunicação. Estas agências são, em parte, responsáveis pela decisão final das
famílias em recorrer ao crédito para os diversos fins possíveis, mas também os
bancos tomam parte ativa neste papel. As promessas de soluções imediatas ou de
acesso a dinheiro fácil, para manter o mesmo nível de vida, a ilusão de baixos
juros e pagamentos fáceis de gerir, parecem, à primeira vista, altamente
aliciantes. Contudo, antes de tomar uma decisão desta magnitude é necessário
analisar em profundidade as consequências que dela poderão advir. Serão estes
créditos “fáceis” realmente uma boa solução para as famílias?
Bem, em primeiro lugar é necessário esclarecer que na maioria
dos casos (senão mesmo em todos) estes créditos são tudo menos fáceis, pelo
menos para o consumidor, pois as agências e os bancos pretendem ter lucro e
desengane-se quem pensar o contrário. Muitas vezes, o valor cobrado apenas em
juros por estes empréstimos é mais elevado do que é inicialmente percetível
pelo consumidor, e após algum tempo, com o inicio dos pagamentos associados,
este apercebe-se que o crédito está a tomar proporções incontroláveis. Nesse
momento, o individuo dá conta que não tem recursos financeiros nem para se
sustentar, nem para o pagamento da dívida. Isto acontece porque, na maior parte
dos casos, existe um consumo exagerado logo após a contração do empréstimo.
Perante uma situação tão crítica como esta, existe a tentação
de negociar um novo empréstimo com um valor mais elevado, para que seja
possível cobrir o montante em dívida e ficar ainda com uma parte de reserva. Por
vezes, o indivíduo nem sempre procede imediatamente ao pagamento da dívida,
acabando por voltar a gastar todo este novo montante, chegando-se a uma
situação cada vez mais insustentável.
O que fazer para acabar com este “ciclo vicioso”? A solução
poderá passar por uma reeducação da população para que lhe seja possível gerir
melhor os rendimentos, em vez de incentivar o crédito incessante, que aparenta
ser a solução mais fácil. Uma reeducação deste tipo deveria ensinar a população
a fazer as escolhas mais acertadas tendo em conta o rendimento disponível.
Nalguns casos, seria mesmo necessária a introdução da noção de custo de
oportunidade, isto é, ensinar à população que, por vezes, a aquisição de
determinado produto irá impedir a aquisição de outro que poderia proporcionar
uma maior utilidade. Muitas vezes, as decisões são tomadas de forma impulsiva e
leviana, ou seja, os produtos são adquiridos sem pensar na restrição orçamental
da família e levam à incapacidade de adquirir um outro que poderia ser
indispensável. Tomando estas medidas, o recurso ao crédito deixaria de tomar
proporções incontroláveis, pois estaríamos a acabar com o “ciclo vicioso".
Catarina Vanessa Silva
Gonçalves
[1]
Site SIC
Notícias:
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2012/11/02/portugueses-levantaram-valor-recorde-de-depositos-a-prazo-durante-o-mes-de-setembro (dados retirados a 8 novembro 2012)
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2012/11/02/portugueses-levantaram-valor-recorde-de-depositos-a-prazo-durante-o-mes-de-setembro (dados retirados a 8 novembro 2012)
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