A população está
constantemente em mudança, não crescendo ao mesmo ritmo ao longo do tempo e nem
da mesma forma em todos os locais do mundo. A população mundial rondaria os
1650 milhões de habitantes em 1900 e os 6000 milhões em 1999; actualmente
estima-se que existam cerca de 7 biliões de pessoas em todo o mundo.
Portugal sofreu nas últimas décadas
rápidas e profundas mudanças demográficas: taxas de crescimento populacionais reduzidas,
estrutura etária envelhecida, baixos níveis de fecundidade e de mortalidade
infantil e ainda um crescente aumento do número de estrangeiros que tornam o
saldo migratório na principal componente da dinâmica populacional (em 1970
estes valores eram de -34,7 para o saldo total, 87,6 para o saldo natural e
-122,3 para o saldo migratório; em 2011 o saldo total era de -30,3 milhares de
indivíduos, sendo composto pelo saldo natural de -6 milhares e pelo saldo
migratório com valores a rondar os -24,3 milhares).
O índice de natalidade em Portugal
atingiu no ano passado um valor mínimo, acentuando ainda mais a tendência de
envelhecimento populacional (Taxa Bruta de Natalidade atingiu os 9,2% em 2011,
sendo que por exemplo em 1960 era de 24,1%). A baixa fecundidade das mulheres
portuguesas não assegura a renovação das gerações e o número de idosos (mais de
65 anos) ultrapassa já o número de crianças (até 14 anos). Dados do INE revelam
que o índice sintético de fecundidade (número de filhos por mulher em idade
fértil) está já abaixo dos 1,4. É de salientar que há cerca de 30 anos, este
índice era de 2,1 filhos por mulher, sendo este o valor mínimo para a renovação
das gerações acontecer.
Mas porque está isto a acontecer? O aumento do número de “avós” deve-se
essencialmente ao aumento da esperança média de vida à nascença. Se em 1960 as
mulheres esperavam viver até aos 66,4 anos, em 2010 elas vivem em média até aos
82,3; já para os homens tínhamos uma esperança média de vida de 60,7 anos em
1960 e de 76,4 anos em 2010.
No caso da redução dos “netos”, temos várias razões possíveis para tal
acontecimento. Por exemplo, a idade da mulher quando tem filhos: dados revelam
que as mulheres até aos 30 anos têm cada vez menos filhos, sendo que a idade
média da mulher ao nascimento do primeiro filho era de 29,2 anos em 2011 e, por
exemplo, em 1960 era de 25 anos. Isto deve-se essencialmente à crescente
participação da mulher no mercado de trabalho, onde cada vez mais aposta na sua
carreira profissional e só depois pensa em ter filhos. Outros factores
explicativos são a queda do número de casamentos e o aumento do número de
divórcios, que levam à quebra das condições para que as mulheres tenham mais
filhos (o rácio do número de divórcios por 100 casamentos era de 1,1% em 1960,
passando para 74,2% em 2011). Não quero com isto dizer que as mulheres
necessitem de estar casadas para ter filhos, mas é certo que é muito mais fácil
ter um filho num ambiente familiar onde pai e mãe partilham todos os encargos a
ter com os bebés. Podemos ainda atirar as culpas para a situação económica
mundial. As pessoas hoje em dia, em especial os jovens, não se sentem com
poderes monetários para criar uma criança. Por mais estabilidade que tenham,
nunca se sabe o dia de amanhã e o resultado disto é sempre adiar o nascimento
do filho para o ano seguinte, quando a situação estiver melhor.
Estas características da população
portuguesa têm efeitos tanto no presente como no futuro. A consequência do
futuro mais evidente será a insustentabilidade da Segurança Social, pois haverá
cada vez menos trabalhadores a realizarem descontos de modo a ser possível
efectuar o pagamento de todas as reformas e pensões para os idosos. Já no
presente, para além de termos creches vazias e lares de idosos cheios, temos
cada vez menos alunos matriculados nas escolas primárias, o que levará ao fecho
de várias instituições de ensino. Principalmente nas regiões do interior do
país, registam-se casos de localidades apenas com idosos, onde não existem
crianças. Esta situação deixa-me particularmente triste pois não consigo
imaginar o dia-a-dia de pessoas idosas isoladas de tudo e de todos, sem sequer
poderem ouvir o riso e as brincadeiras de uma criança.
Concluindo, a pirâmide demográfica
portuguesa é neste momento invertida e tende a continuar assim ou até mesmo a
agravar-se. É certo que os avós irão continuar a viver por mais tempo pois as
condições de vida tendem a melhorar, com os cada vez melhores cuidados de
saúde. E isto é bom. Não podemos atirar culpas aos idosos pela pirâmide estar
assim. O problema em Portugal está no facto de que não há bebés suficientes
para repor o equilíbrio. Se em 1970 os jovens representavam cerca de 30% da
população e os idosos apenas 10%, hoje em dia os valores rondam os 15 e os 20%,
respectivamente.
É necessário implementar medidas de incentivo à natalidade no sentido de
permitir às mulheres ter os seus filhos em plenas condições e de seguida
regressarem ao mercado de trabalho sem complicações. Como se costuma dizer, “o
melhor do mundo são as crianças” e, caso não alteremos a tendência, teremos um
futuro menos risonho pois os que vão fazer o país levantar-se e desenvolver-se
ainda estão por nascer. O futuro está nas crianças!
Cristiana Rodrigues da Silva
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