A
economia portuguesa tem vivenciado situações de instabilidade económica durante
os últimos anos, resultado da crise económica internacional. E os problemas que
Portugal enfrenta ou, mais concretamente, os problemas que as famílias
portuguesas enfrentam são, efectivamente, factor de conflito e preocupação
diária.
O
endividamento das famílias portuguesas surge como sendo um desses dilemas. De
facto, o endividamento das famílias portuguesas é um problema cada vez mais
actual, sendo que a partir da década de 90 assistiu-se a um forte aumento do
nível de endividamento das famílias, um aumento de cerca de 110%.
Contrariamente a estes dados, é de referir que o grau de esforço das famílias
portuguesas não acompanhou, de todo, o aumento do endividamento, o que sugere
um comportamento de conformismo, o que poderá surtir num sobreendividamento.
Existem
diversos factores que poderão explicar esta situação de endividamento: o
espírito consumista que cada vez mais caracteriza a sociedade portuguesa; uma
certa falta de hábitos de poupança; o aumento significativo da oferta de
crédito por parte das instituições financeiras nos últimos anos; e, porventura,
uma falta de conhecimento da actividade financeira, que alguns indivíduos
apelidam de “literacia financeira”. Estes factores podem ser explicados pelo
aumento da globalização, que levou a um espírito consumista por parte da
sociedade e a um sentimento de “querer mais e melhor”, o que levou a um consumo
acima das possibilidades, e este consumo afectou, de certo modo, o hábito de
poupar por parte de muitas famílias portuguesas. O
crescente aumento da oferta de crédito durante os últimos anos, especialmente
do crédito à habitação, também agravou este comportamento consumista: o acesso
ao crédito fácil e a enorme variedade de entidades que o disponibilizam levou
ao endividamento de muitas famílias portuguesas. Por fim, mencionando o
conceito de “literacia financeira”, se as famílias não percebem ao certo como
funcionam as taxas de juro, o que é o “spread”, entre outros conceitos
económicos, podem estar a aceder ao crédito sem saber ao certo no que se estão
a meter, podendo estar a ser induzidas em erro e a caminhar para situações de
sobreendividamento.
Analisando
o endividamento português comparativamente à União Europeia, constatamos que as
famílias portuguesas encontram-se com um dos valores mais elevados, apenas
superado por alguns países. Num estudo recente do Banco de Portugal, conclui-se
isso mesmo, que Portugal apresenta um dos índices mais elevados da zona euro e,
conclui-se também, que a tendência de aumento, evidenciada ao longo das duas
últimas décadas, terá sido interrompida no contexto do processo de ajustamento
que está em curso na economia portuguesa.
Em
síntese, é de realçar o facto de que a “época consumista”, a época do acesso ao
crédito fácil, parece ter abrandado, provável consequência da crise
internacional, o que pode sugerir que estes momentos de instabilidade podem ter
ajudado algumas famílias a tomar consciência das repercussões que o seu comportamento
consumista poderia originar. E, face a situações de instabilidade, a sociedade
tem tendência a poupar mais e melhor, o que pode explicar esse abrandamento
consumista e a tomada de consciência, por parte da sociedade, dos “novos
tempos”.
Daniel
do Nascimento Correia
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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