domingo, 25 de novembro de 2012

Jogo: polícia e ladrão

Existe “crise” financeira. Desde quando e onde teve o seu início? É sempre difícil situar, cronologicamente, a hecatombe a que o mundo chegou, incluindo Portugal.
É evidente que vindo ao conhecimento geral, o “desastre” económico de um dos maiores bancos americanos, Lehman and Brothers, todo o sistema bancário americano se ressentiu. Como a banca está inter-ligada, também a Europa foi fortemente afectada. A Islândia, um pequeno país nórdico, que dependia dos juros da banca americana, viu a sua falência ser declarada. A Grécia ficou e continua à beira da bancarrota. Portugal e a Irlanda estão numa situação económica catastrófica. Mais recentemente, esta crise afectou fortemente a Espanha e também a Itália. O contágio generalizou-se na Europa. Mesmo os países mais ricos têm tomado medidas drásticas de contenção de despesas, como é o caso da França e da Inglaterra.
A Guerra cambial do euro e do dólar dificultou ainda mais o combate à crise. Pelo contrário, agudizou as negociações. Mas, pior do que isso, são as fantasmasgóricas agências de rating norte americanas que pressionam fortemente, e pela negativa, as economias mais frágeis da Europa. A estas agências, como a Moody's, Fitch e  S&P, é-lhes dado um poder tal que conseguem arruinar os países com menor capacidade económica em poucos meses. Detêm um grande poder e são verdadeiros actores políticos", aponta ao i João Rodrigues, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. No caso de Portugal, a Moody's, considera a nossa economia um lixo.
Porque é que estas agências têm tanto poder? E porque é que a Europa não tem agências de rating? E porque é que a Europa não se demarca delas?
Portugal está em crise. Esta veio para durar um determinado período de tempo. Na última década, a economia portuguesa cresceu quase zero. Por isso, não nos podemos queixar só da crise externa. Se recuarmos no tempo, desde que Portugal assinou o acordo de adesão formal com solenidade, no Mosteiro dos Jerónimos, à então chamada CEE, em 12 de Junho de 1985, para produzir plenos efeitos em 1 de Janeiro de 1986, o país recebia diariamente, milhões e milhões de escudos, e depois euros. Realmente, o país saiu do marasmo em que se encontrava até ao 25 de Abril de 1974. E grandes obras foram feitas neste país. Mas será que esse dinheiro foi bem aplicado? Porque é que não se usou esse dinheiro para gerar emprego e, consequentemente, criar riqueza no país?
Com o dinheiro fácil, vindo da Europa, Portugal abandonou sectores vitais da nossa economia. Tínhamos uma frota pesqueira das maiores da Europa, foi abandonada e perdemos quotas de pesca que jamais vamos recuperar. Abandonamos a agricultura, quando somos possuidores dos terrenos mais férteis no Alentejo. Antes do 25 de Abril, o país era cerca de 30% industrializado. Hoje, baixamos para cerca de 10%. Não tínhamos défice externo. Hoje, temos um défice externo insuportável, ao ponto de não termos dinheiro para pagar os juros. Chegámos ao ponto de recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional) para podermos cumprir com os nossos credores, sob pena de sermos declarados insolventes. O destino do país está na mão de estrangeiros.
Mas no meu entender, o país mergulhou numa crise político-social e económica. Sou da opinião que a constituição portuguesa terá de ser alterada. É necessário um organismo que supervisione os juízes, totalmente isento, para termos uma justiça rápida, eficaz, honesta e ao serviço de todos, pobres e ricos. Precisamos de reaprender a viver em democracia: recordo que as nossas autoridades policiais possuem limites para a sua aplicação; há gastos desnecessários em períodos eleitorais; as autarquias estão endividadas; o desemprego “teima” em apanhar aqueles que ainda têm trabalho.
Tal como referi no meu primeiro relatório crítico, Portugal tem cerca de 20% de população a viver abaixo do limiar de pobreza, para não falar da pobreza envergonhada. Não haja medo de dizer a verdade. Faça-se justiça e acabe-se com a crise económica e com a crise de valores.
Melanie Matos Pereira

Bibliografia

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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