Existe “crise”
financeira. Desde quando e onde teve o seu início? É sempre difícil situar,
cronologicamente, a hecatombe a que o mundo chegou, incluindo Portugal.
É evidente que
vindo ao conhecimento geral, o “desastre” económico de um dos maiores bancos
americanos, Lehman and Brothers, todo o sistema bancário americano se
ressentiu. Como a banca está inter-ligada, também a Europa foi fortemente
afectada. A Islândia, um pequeno país nórdico, que dependia dos juros da banca
americana, viu a sua falência ser declarada. A Grécia ficou e continua à beira
da bancarrota. Portugal e a Irlanda estão numa situação económica catastrófica.
Mais recentemente, esta crise afectou fortemente a Espanha e também a Itália. O
contágio generalizou-se na Europa. Mesmo os países mais ricos têm tomado
medidas drásticas de contenção de despesas, como é o caso da França e da
Inglaterra.
A Guerra cambial
do euro e do dólar dificultou ainda mais o combate à crise. Pelo contrário,
agudizou as negociações. Mas, pior do que isso, são as fantasmasgóricas
agências de rating norte americanas
que pressionam fortemente, e pela negativa, as economias mais frágeis da
Europa. A estas agências, como a Moody's,
Fitch e S&P, é-lhes
dado um poder tal que conseguem arruinar os países com menor capacidade
económica em poucos meses. “Detêm
um grande poder e são verdadeiros actores políticos", aponta ao i João Rodrigues, investigador do Centro
de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. No caso de Portugal, a Moody's,
considera a nossa economia um lixo.
Porque é que estas agências têm tanto
poder? E porque é que a Europa não tem agências de rating? E porque é que a Europa não se demarca delas?
Portugal está em crise. Esta veio para
durar um determinado período de tempo. Na última década, a economia portuguesa
cresceu quase zero. Por isso, não nos podemos queixar só da crise externa. Se
recuarmos no tempo, desde que Portugal assinou o acordo de adesão formal com
solenidade, no Mosteiro dos Jerónimos, à então chamada CEE, em 12 de Junho de
1985, para produzir plenos efeitos em 1 de Janeiro de 1986, o país recebia
diariamente, milhões e milhões de escudos, e depois euros. Realmente, o país
saiu do marasmo em que se encontrava até ao 25 de Abril de 1974. E grandes
obras foram feitas neste país. Mas será que esse dinheiro foi bem aplicado?
Porque é que não se usou esse dinheiro para gerar emprego e, consequentemente,
criar riqueza no país?
Com o dinheiro fácil, vindo da Europa,
Portugal abandonou sectores vitais da nossa economia. Tínhamos uma frota
pesqueira das maiores da Europa, foi abandonada e perdemos quotas de pesca que
jamais vamos recuperar. Abandonamos a agricultura, quando somos possuidores dos
terrenos mais férteis no Alentejo. Antes do 25 de Abril, o país era cerca de
30% industrializado. Hoje, baixamos para cerca de 10%. Não tínhamos défice
externo. Hoje, temos um défice externo insuportável, ao ponto de não termos
dinheiro para pagar os juros. Chegámos ao ponto de recorrer ao FMI (Fundo
Monetário Internacional) para podermos cumprir com os nossos credores, sob pena
de sermos declarados insolventes. O destino do país está na mão de
estrangeiros.
Mas no meu entender, o país mergulhou numa
crise político-social e económica. Sou da opinião que a constituição portuguesa
terá de ser alterada. É necessário um organismo que supervisione os juízes,
totalmente isento, para termos uma justiça rápida, eficaz, honesta e ao serviço
de todos, pobres e ricos. Precisamos de reaprender a viver em democracia:
recordo que as nossas autoridades policiais possuem limites para a sua
aplicação; há gastos desnecessários em períodos eleitorais; as autarquias estão
endividadas; o desemprego “teima” em apanhar aqueles que ainda têm trabalho.
Tal como referi no meu primeiro relatório
crítico, Portugal tem cerca de 20% de população a viver abaixo do limiar de
pobreza, para não falar da pobreza envergonhada. Não haja medo de dizer a
verdade. Faça-se justiça e acabe-se com a crise económica e com a crise de
valores.
Melanie Matos Pereira
Bibliografia
[artigo de opinião
desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia”
do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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