quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Será o fim do dinheiro?

Nos momentos mais difíceis, as pessoas lembram-se das coisas mais estranhas. Tal como aconteceu em Volos, cidade Grega, onde o Euro deixou (quase) de ser utilizado. Esta iniciativa surgiu com a criação de uma rede de 800 habitantes que não conseguiam manter o seu poder de compra. Assim, esta rede alargada de habitantes começou a fazer uma troca direta de bens por serviços, e vice-versa, os TEM. A ideia resultou tão bem que esta se alargou a toda a cidade, sendo que a vontade destes habitantes é que esta se alastre por toda a Grécia.

Será esta solução possível? 
Para Joseph Schumpeter, um dos principais pensadores económicos da primeira metade do século XX, esta situação já era prevista. Ele, há pouco menos de 100 anos, dizia que o capitalismo podia durar mil anos mas que teria um fim, pois iria existir um modo de organização social que não passasse pelas relações de mercado. Segundo Schumpeter, o fim do capitalismo dar-se-ia com o fim dos valores capitalistas e com o fim da ética capitalista. Aconteceria quando desaparecesse a inovação, o prémio pela descoberta e o empresário. Para ele, quando o empresário deixar de ser um administrador de carteiras para ser um “homem de gabinete” então aí dar-se-á o fim da época capitalista.
Por outro olhar, Santo Alberto Magno (que viveu entre os séculos XII e XIII) defendeu o preço justo para cada mercadoria, assim como o salário justo para cada trabalhador. Tratou o problema da moral do preço justo de acordo com Aristóteles. Para ele, qualquer troca devia ser subordinada à exigência moral de não pedir pelos bens preços exagerados. O Homem devia trabalhar para o seu consumo, não se preocupando com o comércio, visto que o mesmo se tratava de um excedente, até porque ele afirmava que o Homem devia trabalhar mas não viver para o trabalho. Fez uma crítica ao lucro ilimitado e condenava a usura (a prática de cobrar juros excessivos pelo empréstimo de uma determinada quantia de dinheiro), condenando assim o empréstimo a juros. Defendeu, portanto, que a moeda devia existir mas que não devia representar um valor para a sociedade, para que assim todos pudessem viver numa sociedade mais justa.
Pelos vistos a crise financeira só veio denotar o que já há muitos séculos se pensava. Os próprios bancos reduziram automaticamente as suas taxas de juro só para que o investimento não diminuísse. O pior é que nem as medidas que a banca tomou em 2008 e 2009 serviram para “salvar” um planeta na sua verdadeira época capitalista.

Será, então, o futuro feito de Capitalismo ou de Comunismo?
Eu acredito que o esquema criado é impossível de derrubar. Por um lado, temos um capitalismo que, se for bem exercido, beneficiará aqueles que trabalham e que lutam por um futuro melhor, mas que tende a agravar as diferenças entre as sociedades, onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
No caso do Comunismo, este está “ansioso” por renascer das suas próprias cinzas. Como se sabe, o comunismo é muito belo na teoria, onde todos temos as mesmas oportunidades, os mesmos rendimentos, a igualdade em tudo. Mas, também, é este comunismo que se derruba no primeiro confronto. Não acredito, que uma população sobreviva numa sociedade comunista em que uns trabalham e os outros não fazem nada, e que mesmo assim os rendimentos sejam iguais para todos.
Dessa forma, acredito que o capitalismo vai continuar a vigorar, necessitando apenas de uma reformulação na sua estrutura atual.
Não acredito, portanto, que esta forma de trocas que, agora, se desenvolve na cidade de Volos perdure por muito tempo. As pessoas, pela sua própria essência, não se conseguem conformar por trocar coisas sem criarem qualquer tipo de excedente. Esta é a essência pela qual o Homem existe.


[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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