A
despesa pública é considerada um fator importante para a promoção do
crescimento económico e do bem-estar social. Esta é, também, uma variável chave
no que diz respeito à sustentabilidade das finanças públicas. O financiamento
da despesa pública pode ser feito de duas formas: através de receita pública
(impostos); ou através de emissão de dívida pública.
A
evolução da despesa pública, entre 1970 e 2015, em Portugal, apresenta uma
tendência crescente. Vários fatores podem elucidar o crescimento da mesma, como,
por exemplo, a necessidade acrescida de serviços públicos, podendo esta
necessidade estar ligada quer ao aumento da população quer a uma maior mobilidade
de pessoas. O envelhecimento populacional, que implica custos acrescidos
suportados pelo Estado, as alterações tecnológicas, que podem levar à
necessidade de sofisticação de sectores, como, por exemplo, o da defesa, podem
contribuir, igualmente, para o aumento da despesa pública.
Nas décadas de 70, 80 e 90, foi visível
uma ampliação da dimensão do Estado nos países da UE15, como se pode confirmar
pela evolução do rácio despesa pública-produto. O aumento das despesas do
Estado resultou num aumento de 15 pp. do PIB, de 35.8% em 1970, para 50.8% em
2010, para a média da UE15. Entre 1995 e 2000, devido às limitações impostas
pelo Tratado da União Europeia e pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, o
rácio despesa pública-produto reduziu-se, contudo, no contexto da crise económica
e financeira 2008-2009, o peso deste rácio voltou a aumentar. No entanto,
contrariando os restantes países da EU, em Portugal, entre 1995 e 2000, o rácio
manteve-se sensivelmente ao mesmo nível, tendo subido na Grécia.
Foi durante os anos de 70 e 80 que os
países mais industrializados aumentaram os benefícios sociais, tais como o
subsídio de desemprego. Por outro lado, como já referido anteriormente, o
envelhecimento populacional começou a desempenhar um papel importante, devido
ao facto deste afetar despesas relacionadas com este fenómeno: pensões de
reforma e despesas com cuidados de saúde. Entre 1970 e 2015, foi também visível
um aumento no pagamento dos juros da dívida pública, com expressão no peso no
PIB do pagamento dos juros para os países da EU.
A emissão de dívida pública é um dos
meios através do qual pode ser feito o financiamento da despesa pública. Deste
modo, como a despesa pública apresenta uma tendência crescente, a necessidade
de financiamento da mesma acresce. Assim sendo, o aumento da despesa pública
pode ser um dos motivos pelos quais a dívida pública, em média, tem vindo a
aumentar. Quando alguém vive sistematicamente acima das suas possibilidades, a
sua dívida a terceiros vai aumentando. No momento em que os encargos da dívida
(juros e amortizações) se tornam insustentáveis, quem nos irá financiar vai
considerar que há um maior risco de não pagamento, aumentando assim os juros,
agravando ainda mais a nossa situação. Deste modo, Portugal deverá apresentar
finanças públicas sustentáveis.
De acordo com o INE estima-se que no
segundo semestre deste ano, em Portugal, o PIB cresça 2,8% em relação a 2016.
Usando palavras de Mário Centeno: "Precisamos de manter um crescimento do
PIB que permita financiar o pagamento de juros” e “com crescimento mais
vigoroso do que o apresentado no Programa de Estabilidade (PE), mais
concretamente com crescimento do tipo que se tem verificado (i.e., 2,8%), o
efeito do crescimento do PIB sobre o rácio da dívida mais que compensa o efeito
do juros.”
Deste
modo, o crescimento do PIB passa a ser suficiente para compensar o efeito dos
juros no rácio da dívida. Tal não seria possível com um crescimento de 1,8% do
PIB, conforme o previsto. O ministro das finanças afirmou também que “a dívida
vai ficar este ano muito próxima de 126% do PIB”, abaixo do que consta no OE
para este ano, porque há “liquidez suficiente para acelerar os pagamentos ao
FMI”.
Concluindo, o nível de despesa pública
deve preferivelmente passar por uma escolha consciente dos cidadãos acerca dos
bens e serviços públicos, e prestações sociais que desejam ser disponibilizados
por via orçamental e dos impostos e outros encargos que os deverão suportar.
Quando alguém tem despesas sistematicamente acima das receitas, e fracas
expectativas no que toca a aumentos de rendimento no futuro, acumulam-se
défices, o que implica dívidas acrescidas. Deste modo, países com défices
sistemáticos e pouco crescimento, e, tal como Portugal, vão-se acumulando
dívidas cujo o peso no PIB vai aumentando.
Cátia Catarina Eira Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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