Não é dos dias de hoje que se houve falar em fuga fiscal. Paradise Papers divulga uma nova fuga
de informação, que envolve mais de 13 milhões de documentos que revelam
operações feitas através de paraísos fiscais. Os
documentos totalizam 1,4 terabytes (TB)
de dados, sendo a segunda maior fuga de informação, a mais importante depois
dos Panama Papers.
Cerca
de dois anos depois da
divulgação dos Panama Papers, o
Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) trouxe à praça
pública novos documentos que apontam figuras mundiais, desde nomes de pessoas
próximas de Trump, até à rainha de Inglaterra, sendo que esta investiu numa
companhia acusada de se aproveitar de famílias pobres. A investigação passa
também por várias multinacionais, entre elas, a Apple, a Nike e a Uber, expondo
também negócios offshore de cerca de
120 políticos espalhados por todo o mundo. Dentro das celebridades referidas na
investigação, está Bono, vocalista da banda irlandesa U2, Madonna, Lewis Hamilton, tetracampeão de Fórmula 1, entre
outros. Incluí também, um conjunto de antigos administradores do Grupo Espírito
Santo e do BPN.
A fuga de informação teve origem em duas
operadoras de serviços offshore, a
sociedade de advogados Appleby,
sediada nas Bermudas, e numa empresa familiar especializada na gestão de offshores, Asiaciti, de Singapura. Da documentação fazem parte 19 registos
comerciais de empresas localizadas, em Malta ou Antígua e Barbudos, conhecidos
como paraísos fiscais. Estes paraísos fiscais são territórios que possuem
jurisdições que aliciam os investidores pelas vantagens tributárias, e através
da promessa de sigilo. As sociedades que operam nestas zonas privilegiadas são
chamadas de offshores.
Mas serão as sociedades offshore legais? A resposta é sim. O problema está na finalidade
com que os benefícios dos paraísos fiscais são usados, na origem do dinheiro
que para aí é transferido, e na jurisdição do país de origem. Por vezes, para
esconder dinheiro, são criadas as chamadas shell
companies, ou então empresas
fantasma, sendo estas muito procuradas por quem procura fazer branqueamento
de capitais, traficantes de droga e por cleptocratas.
OffshoreCompanyCorp.com um sítio especializado na criação de sociedades offshore, promete uma sociedade offshore em poucos dias e com pouco dinheiro: 266€ no Reino Unido,
acrescendo a este valor 256€ por ano, a partir do segundo ano, e 365 € anuais
em taxas para o governo. No entanto, os preços variam, dependendo da escolha do
paraíso fiscal. Por exemplo, nas Ilhas Virgens o preço é mais elevado, no
entanto a confidencialidade é maior e a tributação é nula. Deste modo, com o
acesso às novas tecnologias, a criação de uma offshore torna-se cada vez mais fácil, através de um simples
telemóvel e/ou computador é possível criar uma offshore.
Jeremy Corbyn, um político britânico, colocou
a questão: “Se uma pessoa muito rica quer evitar impostos e põe o dinheiro em
paraísos fiscais, quem perde?”. A resposta é clara: quem fica a perder são os
serviços públicas, as escolas, os hospitais…. E não só. A restante população
também é afetada, no sentido em que tem que pagar para cobrir o défice. Deste
modo, quem acaba por pagar a ‘conta’ são os mais pobres.
Sob o meu ponto vista, todos e qualquer um
cidadão deve declarar os seus rendimentos, sendo este uma celebridade ou um
político. Aliás, considero que estes, tendo em conta que são pessoas influentes
e com notoriedade na sociedade atual, como por exemplo a Rainha de Inglaterra,
deveriam dar o exemplo de como ser um cidadão correto. Ouso dizer que é não por
falta de dinheiro que a Rainha de Inglaterra recorre a paraísos fiscais.
Celebridades que pregam por campanhas de solidariedade para ajudar os mais
pobres, no entanto indiretamente contribuem para o aumento das desigualdades.
Políticos que preconizam junto dos cidadãos que atuem em prol dos interesses
nacionais transferem parte da sua riqueza para os paraísos fiscais, deixando
esta fora do alcance dos tesouros nacionais. Para além da fuga ao fisco,
existem questões éticas e morais envolvidas.
Dado o exposto, considero necessário redobrar os
esforços no que diz respeito ao combate à evasão fiscal. Concordo com Álvaro
Vasconcelos: tudo isto contribuí para um a descrença nas capacidades da
democracia em controlar os mais poderosos. É necessário tornar a vida política,
e não só, mais transparente.
Cátia Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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