segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Tesla Gigafactory: Europa

No final de 2016, Elon Musk, CEO da Tesla, anunciou as intenções da empresa norte-americana de construir uma fábrica na Europa semelhante à que existe em Nevada, nos Estados Unidos. A chamada Gigafactory, em Nevada, está ainda em construção e quando estiver completa, em 2020, será o edifício com a maior pegada do mundo. Esta fábrica tem como objetivo produzir tantas baterias de iões de lítio quantas são produzidas atualmente pelo resto do mundo, para que a Tesla atinja os objetivos de produção de 500 mil automóveis por ano, até 2018. Em abril, numa conferência TED, Musk disse que ainda este ano vai anunciar localizações de mais gigafábricas, “entre duas ou quatro, talvez quatro”, disse.
Com isto, surgiu, naturalmente, o interesse por toda a Europa de atrair este investimento. Portugal não ficou atrás e, apesar de, na altura do anúncio, os automóveis da Tesla não serem comercializados oficialmente em Portugal, surgiu grande interesse não só por parte do Governo e das autarquias locais, mas também por cidadãos entusiastas da marca. Criou-se um grupo no Facebook que conta com 50 mil aderentes em que o objetivo é chamar a atenção de Musk para as vantagens de investir em Portugal. Estas vantagens passam por Portugal ter a maior reserva natural de lítio da Europa, elevada experiência no setor automóvel, forte investimento em energias renováveis, uma boa infraestrutura, como um porto de águas profundas em Sines e uma densa rede rodoviária, a maior exposição solar da Europa e ainda grande talento português na área das engenharias, e uma força de trabalho com elevada instrução na língua inglesa.
A exposição solar é importante para a Tesla, pois esta quer que as fábricas sejam totalmente alimentadas por fontes de energia renováveis. Ainda assim, para poder dar informações mais precisas e detalhadas a este e a outros investidores, o Secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, criou um grupo de trabalho para identificar e caraterizar as ocorrências de lítio em Portugal. Posto isto, as conversações entre a empresa norte-americana e o Governo de António Costa já começaram, mas ainda não houve nenhum comentário sobre as mesmas, perante a forte concorrência com outros países da Europa.
Em maio, a Tesla chegou oficialmente a Portugal, que descreveu como “um país que cresce com o sol”. Com o início da venda oficial de automóveis, veio também a promessa de um centro de assistência e loja para Lisboa até ao final deste ano.
É certo que a empresa já reconheceu um dos motivos para a escolha da localização da gigafábrica em Portugal, mas será o suficiente? Para além de algumas desvantagens em relação a outros países europeus, como a ausência de uma ligação ferroviária de alta velocidade ao resto da Europa, a decisão vai recair em fatores que terão de ser negociados com o Governo português. À semelhança do que aconteceu com a Autoeuropa, os incentivos fiscais e regalias em relação ao pagamento do espaço vão ser determinantes na tomada de decisão. Estamos a falar de um possível investimento que poderá atingir os cinco mil milhões de dólares e gerar 6.500 empregos diretos e outros 22 mil entre os fornecedores e outras atividades associadas ao sector. É um investimento que viria criar um impacto profundo na economia portuguesa, tal como a Autoeuropa, logo é necessária uma abordagem adequada, considerando o impacto de longo prazo no país.
É indiscutível que um acesso à rede ferroviária de alta velocidade europeia de mercadorias seria muito atrativo para a Tesla. Sabemos isto porque já houve a tentativa por parte da Autoeuropa de transportar mercadorias por comboio, mas devido à ausência desta infraestrutura, o transporte por rede rodoviária revelou-se mais em conta, o que não significa que seja o ideal. Posto isto, penso que é óbvia a importância de Portugal investir nesta infraestrutura.
Portugal tem a obrigação de apostar nesta oportunidade com a Tesla, não só no relaxamento fiscal favorável ao investimento, mas também na facilitação do processo. Elon Musk, após a decisão de escolher o estado do Nevada para a localização da primeira Gigafactory, realçou que o pacote de incentivos fiscais não foi o maior, mas o que levou à tomada de decisão foi a agilidade burocrática e a rapidez dos processos envolvidos num investimento de tamanha dimensão naquele estado. É um sinal muito claro do que a empresa procura e do que o nosso Governo tem de trabalhar para conseguir trazer este investimento que tanta prosperidade traria a Portugal.

Ricardo Pereira

Referências:
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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