No final de 2016, Elon
Musk, CEO da Tesla, anunciou as intenções da empresa norte-americana de
construir uma fábrica na Europa semelhante à que existe em Nevada, nos Estados
Unidos. A chamada Gigafactory, em Nevada, está ainda em construção e quando
estiver completa, em 2020, será o edifício com a maior pegada do mundo. Esta
fábrica tem como objetivo produzir tantas baterias de iões de lítio quantas são
produzidas atualmente pelo resto do mundo, para que a Tesla atinja os objetivos
de produção de 500 mil automóveis por ano, até
2018. Em abril, numa conferência TED, Musk disse que ainda este ano vai
anunciar localizações de mais gigafábricas, “entre duas ou quatro, talvez
quatro”, disse.
Com isto, surgiu,
naturalmente, o interesse por toda a Europa de atrair este investimento.
Portugal não ficou atrás e, apesar de, na altura do anúncio, os automóveis da
Tesla não serem comercializados oficialmente em Portugal, surgiu grande
interesse não só por parte do Governo e das autarquias locais, mas também por
cidadãos entusiastas da marca. Criou-se um grupo no Facebook que conta com 50
mil aderentes em que o objetivo é chamar a atenção de Musk para as vantagens de
investir em Portugal. Estas vantagens passam por Portugal ter a maior reserva
natural de lítio da Europa, elevada experiência no setor automóvel, forte
investimento em energias renováveis, uma boa infraestrutura, como um porto de
águas profundas em Sines e uma densa rede rodoviária, a maior exposição solar
da Europa e ainda grande talento português na área das engenharias, e uma força
de trabalho com elevada instrução na língua inglesa.
A exposição solar é
importante para a Tesla, pois esta quer que as fábricas sejam totalmente
alimentadas por fontes de energia renováveis. Ainda assim, para poder dar informações mais precisas
e detalhadas a este e a outros investidores, o Secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches,
criou um grupo de trabalho para identificar e caraterizar as ocorrências de
lítio em Portugal. Posto isto, as conversações entre a empresa
norte-americana e o Governo de António Costa já começaram, mas ainda não houve
nenhum comentário sobre as mesmas, perante a forte concorrência com outros
países da Europa.
Em maio, a Tesla chegou
oficialmente a Portugal, que descreveu como “um país que cresce com o sol”. Com
o início da venda oficial de automóveis, veio também a promessa de um centro de
assistência e loja para Lisboa até ao final deste ano.
É certo que a empresa
já reconheceu um dos motivos para a escolha da localização da gigafábrica em
Portugal, mas será o suficiente? Para além de algumas desvantagens em relação a
outros países europeus, como a ausência de uma ligação ferroviária de alta
velocidade ao resto da Europa, a decisão vai recair em fatores que terão de ser
negociados com o Governo português. À semelhança do que aconteceu com a
Autoeuropa, os incentivos fiscais e regalias em relação ao pagamento do espaço
vão ser determinantes na tomada de decisão. Estamos a falar de um possível investimento que poderá atingir os cinco
mil milhões de dólares e gerar 6.500 empregos diretos e outros 22 mil entre os
fornecedores e outras atividades associadas ao sector. É um investimento que
viria criar um impacto profundo na economia portuguesa, tal como a Autoeuropa,
logo é necessária uma abordagem adequada, considerando o impacto de longo prazo
no país.
É indiscutível que um acesso à rede ferroviária de alta velocidade
europeia de mercadorias seria muito atrativo para a Tesla. Sabemos isto porque
já houve a tentativa por parte da Autoeuropa de transportar mercadorias por
comboio, mas devido à ausência desta infraestrutura, o transporte por rede
rodoviária revelou-se mais em conta, o que não significa que seja o ideal.
Posto isto, penso que é óbvia a importância de Portugal investir nesta
infraestrutura.
Portugal tem a obrigação de apostar nesta oportunidade com a Tesla, não
só no relaxamento fiscal favorável ao investimento, mas também na facilitação
do processo. Elon Musk, após a decisão de escolher o estado do Nevada para a
localização da primeira Gigafactory, realçou que o pacote de incentivos fiscais
não foi o maior, mas o que levou à tomada de decisão foi a agilidade
burocrática e a rapidez dos processos envolvidos num investimento de tamanha
dimensão naquele estado. É um sinal muito claro do que a empresa procura e do
que o nosso Governo tem de trabalhar para conseguir trazer este investimento
que tanta prosperidade traria a Portugal.
Ricardo
Pereira
Referências:
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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