Bienalmente,
o Instituto Nacional de Estatística (INE) realiza um Estudo sobre o Poder de
Compra Concelhio (EPCC) em Portugal. Recentemente, foram divulgados os
resultados desse mesmo estudo relativos a 2015. Este estudo tem como objetivo a
caraterização dos municípios portugueses em relação, tal como o nome indica, ao
poder de compra no sentido do bem-estar material.
Por
poder de compra entende-se a capacidade de aquisição de bens e/ou serviços com
determinada unidade monetária. Mantendo tudo o resto igual, o aumento do nível
de preços irá diminuir o poder de compra. Já o mesmo não se verifica se existir,
simultaneamente, um aumento dos rendimentos e um aumento do nível de preços no
mesmo montante, mantendo-se o poder de compra constante. Por analogia, segundo
Adam Smith, se a moeda tem poder sobre o trabalho de outrem, então entende-se
que o poder de compra representa poder sobre outras pessoas, na medida em que
estas estejam dispostas a trocar o seu trabalho ou bens por moeda.
Segundo
o estudo do INE, 33 dos 308 municípios portugueses, que representam cerca 11%
do total dos municípios, apresentam valores de poder de compra per capita superiores à média nacional. As
áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, constituídas por 35 municípios,
concentram um poder de compra que ultrapassa metade do poder de compra
existente no país (51%). Olhando para os resultados do indicador do poder de
compra per capita (IpC) para 2015, o território nacional apresenta um poder de
compra mais elevado se comparado com as duas regiões autónomas, sendo que o Continente
atinge o valor de 100,7, já a região autónoma da Madeira apresenta 86,9 e a dos
Açores atinge os 85,5.
Não
só as áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa apresentam um poder de compra per capita superior à média nacional,
existindo também municípios que revelam a mesma caraterística. Estamos perante
municípios que correspondem a algumas capitais de distrito, como Faro, Coimbra,
Aveiro, Évora, Braga e Leiria. Municípios como Guimarães, Vila Nova de
Famalicão, Funchal e Sines, apesar de não serem capitais de distrito, também se
destacam por apresentarem um elevado grau de poder de compra. Por contraste,
temos os concelhos situados no interior, principalmente no interior das regiões
do Norte e Centro, estando distribuídos pelo Tâmega e Sousa, Alto Tâmega,
Douro, Beira Baixa, Terras de Trás-os-Montes e Viseu Dão Lafões, mas também concelhos
situados em todo o Alentejo (desde o baixo, alto e litoral) e na região
autónoma da Madeira. Os piores casos encontram-se no Corvo, Lajes das Flores,
Barrancos, Baixo Alentejo e Porto Moniz, apresentando-se abaixo dos 0,015% do
poder de compra nacional.
Analisando
por NUTS II, o território metropolitano de Lisboa encontra-se em primeiro lugar,
com um IpC de 124,7, de seguida o Algarve (95,2), que é sucedido pela região do
Norte (92,1), pelo Alentejo (91,0) e, por último, a região Centro, com um
índice de poder de compra per capita
de 88,8.
Face
a estes resultados do INE, é possível concluir que o litoral apresenta uma
maior capacidade financeira, enquanto que existe um interior, tanto Centro como
Norte, consideravelmente mais pobres. Este estudo dos dados sugere a existência
de uma associação positiva entre o grau de urbanização dos municípios e o poder
de compra aí manifestado.
No
meu parecer, este estudo apenas veio confirmar aquilo que é incontestável em
relação à realidade portuguesa. Portugal é um país em que a desigualdade está
muito presente. É possível, através deste estudo, perceber que os habitantes do
interior do país, principalmente do interior Norte como também do interior Centro,
sofrem de assimetrias sociais quando comparados com outras zonas do país, sendo
o índice de poder de compra per capita
mais um indiciador dessas mesmas desigualdades. No entanto, é de realçar que
este indicador não contabiliza apenas o poder de compra do município, como
também pondera a dispersão populacional, melhor dizendo, concelhos com maior
número de população irão apresentar, tendencialmente, um maior poder de compra.
E, por isto, é aceitável que mais de metade (precisamente dois terços) do poder
de compra nacional se encontre nas áreas metropolitanas de Lisboa e na região do
Norte, visto que aí se constata um maior nível populacional.
Apesar
destas considerações, é necessário incentivar e criar oportunidades de emprego
e, consequentemente, oportunidades de habitação, conjuntamente com atividades
de desenvolvimento e evolução destas áreas, de modo a evitar o abandono do
interior do país como também das regiões autónomas e, desta forma, evitar todas
as dissimilitudes existentes entre as diferentes regiões do país.
Marisa Brito
[artigo de opinião
produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do
3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário