domingo, 10 de janeiro de 2010

2010: PODER DE COMPRA NO “FRIGORIFICO”

Pode parecer estranho mas, no ano passado, a crise económica acabou por trazer boas notícias para quem estava empregado ou reformado, pois a taxa de inflação em níveis negativos e a redução substancial das taxas de juro acabaram por ditar um aumento do poder de compra para uma parte significativa da população. Mas tal não se vai repetir em 2010, pois é um ano em que se espera um congelamento do poder de compra para quem retira ganhos vindos do trabalho ou quem recebe pensões.
Quem está em situação de reforma já conhece qual será o seu futuro. A partir deste ano cerca de 200 mil aposentados do sector público e do privado com pensões acima dos 1.500 euros ficarão com o mesmo valor de reforma. Os cerca de 230 mil que ganham entre 630 e 1.500 euros vão ser aumentados em 1% e a esmagadora maioria dos pensionistas que ganham menos de 630 euros por mês - cerca de 1,7 milhões – vão assistir a uma subida de 1,25% na sua pensão, o que se vai traduzir num aumento máximo de oito euros, o que podemos um aumento muito baixo para quem sobrevive mensalmente com um rendimento tão baixo. Com estes valores, e visto que a previsão da Comissão Europeia para a taxa de inflação situa-se entre os 1% e os 1,5%, vamos assistir a um congelamento do poder de compra dos pensionistas.
Os trabalhadores, na sua generalidade, vão ver também o seu poder de compra sofrer uma forte estagnação. Contrariamente ao ano de 2009, onde um aumento nominal (na Função Pública) de 2,9%, aliado a uma taxa de inflação negativa de 0,8%, permitiu que o poder de compra crescesse, este ano os trabalhadores vão ter um ano repleto de contrariedades e arte de poupar. A actualização salarial deste ano nunca irá ser superior à taxa de inflação, e arrisco dizer que Função Pública não deve esperar sequer que o Estado chegue a esses valores.
No sector privado a previsão para os trabalhadores é a mesma, pois as perspectivas de aumentos variam entre a estagnação salarial nos sectores têxtil, calçado e automóvel, os 0,5% na banca e os 1% no sector químico e eléctrico. Como podemos verificar, são todas propostas abaixo do valor da taxa de inflação.
Apenas os trabalhadores que auferem o salário mínimo vão ter um aumento significativo, que vai registar uma subida na ordem dos 5,6 %, valor que vai corresponder a um aumento líquido de 25 euros mensais.
Podemos então concluir que 2010 será um ano muito mais difícil para os portugueses, pois se 2009 já foi um ano terrível para a nossa economia, imaginemos agora que o poder de compra de trabalhadores e pensionistas ficará simplesmente congelado. As consequências podem ser nefastas, pois para sair desta crise económica é preciso que o consumo privado registe melhorias e que se gere um clima optimista em torno da nossa situação económica, o que estará de certa forma hipotecado com esta estagnação do poder de compra.

HUGO PEREIRA

Fonte: Jornal de Negócios
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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