sábado, 2 de janeiro de 2010

Ataque aos prémios

O Primeiro-Ministro português, José Sócrates, revelou que vai incluir no orçamento de estado de 2010 uma medida contra os prémios excessivos que os gestores bancários auferem.
Esta decisão surge após a França e o Reino Unido terem anunciado a criação de uma taxa de 50% sobre os bónus dos quadros superiores da banca superiores a 27 mil euros no caso da França, e 25 mil libras (cerca de 27.500 euros) no caso do Reino Unido. Nicolas Sarkozy e Gordon Brown declararam mesmo, numa coluna publicada no The Wall Street Journal, que estas medidas têm que ser tomadas a nível mundial, uma vez que “nenhum país tem condições de agir sozinho”.
Não sei até que ponto uma medida deste género, a ser criada, será positiva para Portugal. Os prémios ganhos por gestores bancários são demasiado excessivos, estes justificam os prémios com o facto de se encontrarem numa posição em que têm que tomar decisões de risco, mas a verdade é que são estes os gestores que com a sua própria ganância foram acusados de causar a crise em que nos encontrámos.
Em Portugal, segundo dados fornecidos pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a remuneração variável, em que incluímos os prémios e bónus, representa dois terços (61,6%) das comissões executivas dos bancos. O sector financeiro é o único em que a composição variável pesa mais de metade na composição salarial, e é também o sector que melhor paga aos seus executivos.
A verdade é que, se em Portugal a medida for idêntica à francesa e inglesa, e taxar prémios com valores superiores aos referidos anteriormente, não terá qualquer efeito prático no nosso país. Em Portugal os valores dos bónus são bastante inferiores aos valores visados, o que faz com que a medida criada pelo governo socialista não tenha sentido, ou que seja uma medida que tenha como único sentido aumentar a popularidade dos governantes, uma medida populista, já que para a maioria da população fica sempre bem a criação de “medidas contra os ricos”.
Pode acontecer também que a medida seja adaptada a valores mais razoáveis, tendo em conta o panorama nacional, caso em que penso que seria uma medida positiva para Portugal. Pode-se considerar que parte desses prémios é paga pelo Estado, uma vez que os bancos conseguiram atingir os lucros necessários para a distribuição de prémios recorrendo aos apoios estatais. Poderá então ser considerado quase como um empréstimo que retorna ao credor.
Em suma, a ser criada, esta é uma medida que certamente não gerará consenso. Alguns defendem-na acusando os bancos de serem os responsáveis pelo estado na nossa economia, e referindo o facto que os altos quadros das instituições bancárias deveriam ser os primeiros a dar o exemplo, não recebendo prémios considerados descabidos quando confrontados com a nossa realidade. Por outro lado, surgirão opositores a esta medida, acusando-a de não ser a melhor forma de agir, ou acusando mesmo o governo de tentar criar uma medida unicamente para agradar.

Diogo Faria
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

1 comentário:

Unknown disse...

Caro Diogo,

Penso que a minha opinião sobre o tema dos prémios ficou já bastante vincada no artigo por mim publicado em Outubro último, neste mesmo site. Porém gostaria de ressalvar que relativamente ao taxamento dos prémios, essa medida seria aplicada em conformidade com a realidade portuguesa e nunca da mesma forma dos nossos congéneres Franceses ou Ingleses. Nesse caso, penso que para além de não ter efeitos práticos choveriam críticas dos mais variados sectores. Penso que a nossa miopia tem limites...
Quanto ao facto da necessidade da medida ser generalizada aos restantes países penso que de outra forma não poderia acontecer, já que iria gerar um êxodo de gestores de qualidade do nosso país para o estrangeiro, como já acontece em outras áreas.
Uma medida deste tipo teria então de ser tomada em conjunto e nunca da forma leviana e populista que foi.
Gostaria ainda de ressalvar que os bónus poderiam continuar a existir desde que passassem a premiar objectivos de longo prazo ao invés de objectivos do curto prazo, pois da forma que esses são atribuídos, constituem um incentivo à gestão em busca do lucro rápido e fácil, pondo muitas vezes em risco a solvabilidade das próprias instituições que representam em prol de objectivos meramente pessoais.

Cumprimentos