Não são dezenas, não são centenas, são milhares de pessoas, jovens, que hoje, arrastados pela situação de declínio que abraça este país pequenino, vivem sem perspetivas futuras no que toca à sua situação profissional, de independência, de estabilização financeira e de realização pessoal, quando vêem terminado o seu percurso académico. As cartolas que cobrem as cabeças dessas mentes e os diplomas que todos eles trazem na mão, nenhumas garantias lhes oferecem no final de mais uma jornada, a mais importante das suas vidas.
Médicos, engenheiros, economistas, gestores, professores, é imensa a diversidade da nova geração recém-formada e empurrada para o mercado de trabalho em busca de oportunidades, de desafios, de algo que os ponha à prova com o intuito de mostrarem que são realmente bons naquilo que fazem. Todos eles “acreditam que podem fazer a diferença”, no entanto “descobrem que já não cabem, que estão a mais. Que o que existe ou é curto ou é mal pago. Que os conselhos que ouvem em casa não se adequam ao que vêem no mercado. Que são obrigados a crescer, mas impedidos de o fazer”.
Segundo uma notícia, publicada pela fonte Público, a 14 de Maio deste ano, Portugal é o terceiro país da OCDE com mais desemprego entre os jovens (35,4%), depois de Espanha (53,9%) e Itália (42,7%). Dados mais recentes, disponibilizados pela mesma fonte, baseados em informação do INE, indicam que essa percentagem encontra-se neste momento na ordem dos 32,2% para Portugal, representando uma considerável descida. Porém o caso continua a ser preocupante e, traduzindo isso em números absolutos, tem-se nada mais nada menos do que 129 mil pessoas entre os 15 e os 24 anos à procura de emprego.
Capacitados de outro de tipo de ferramentas, de outro tipo de experiências, de outro tipo de mentalidades, os jovens que querem marcar presença na área em que se especializaram enfrentam uma luta constante. É essa mesma luta que os desmotiva a cada dia que passa, a cada formação que fazem, a cada currículo que enviam, a cada “obrigada, mas não estamos interessados” que ouvem, a cada euro que gastam e a cada ordenado que não recebem, suportando, portanto, uma longa e contínua desvalorização pessoal. Portugal tem demasiados licenciados, diria a chanceler alemã. No entanto, apesar de muitos e da grande falta de empregabilidade dos mesmos, o aumento da formação dos europeus continua a ser um objetivo dos governos e das instituições. No nosso país, esse objetivo concretiza-se através da iniciativa “Retomar”. Esta tenta motivar jovens estudantes (com menos de 30 anos e sem emprego) que abandonaram o ensino superior, por motivos financeiros, a retomarem os estudos.
Analisando este tipo de iniciativas, logo se depreendem as largas vantagens que isso traz para um país, como o combate ao abandono escolar no ensino superior, tendo presente critérios de utilidade social e empregabilidade. E desvantagens? Haverão desvantagens? É certo que teremos uma população crescentemente qualificada, mas haverá oportunidades profissionais para essa percentagem adicional de jovens no seu país de origem, o qual apoia o seu desenvolvimento profissional? Muito provavelmente, a resposta será um não. Mas então qual a solução?
Existem soluções para combater este problema, que constitui não só um entrave para o crescimento económico, mas também um elevado risco de coesão social? Existem medidas ou algum tipo de iniciativas que motive os jovens a seguir um rumo dentro do seu país, tendo visões otimistas para o seu futuro? Apesar dos esforços que se têm vindo a desenvolver, mais uma vez a resposta será provavelmente um não. Então, o que fazer?
Emigração é esta a palavra que representa para os recém-licenciados do nosso país uma mínima esperança nas suas vidas. É nela que está, na maior parte dos casos, a solução para a fuga dos problemas daqueles que aqui nasceram, cresceram, aprenderam, mas que por muito que queiram não têm qualquer tipo de incentivo em aplicar o seu conhecimento “no que é nosso” porque simplesmente as oportunidades não existem ou não se fazem transparecer. O investimento que é feito nestes jovens vai ser portanto aproveitado no desenvolvimento além-fronteiras. Como prova de tudo isto, o relatório sobre a Emigração divulgado pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, em Julho deste ano, concluiu “que o grupo dos emigrantes com diploma académico foi o que mais aumentou em dez anos e a tendência é crescente”. O mesmo relatório menciona a fuga de cérebros como um “indicador problemático” dos dias de hoje. Reino Unido, Suíça e Alemanha são os destinos preferidos daqueles que encontram no exterior um lugar para trabalhar e possivelmente viver o resto da sua vida.
Em suma, facilmente se conclui que somos, e falo como quase licenciada, uma geração que procura oportunidades e que as cria, mesmo não sendo no seu país de origem. Do mesmo modo, penso que essas, apesar de poucas, existem, o que falta verdadeiramente é a divulgação e a pouca informação sobre as mesmas, o que desencadeia a crescente e contínua saída de conhecimento do nosso país.
Luísa Cunha Lima
Fontes:
http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt/Estudantes/Retomar/
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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