Apesar de necessária, a agricultura foi relegada para a categoria de parente pobre da economia. O estado da agricultura é o resultado de anos e anos de abandono, tendo sido posta para o fim de quase tudo, pois a pouca apetência eleitoral cobria uma população escassa e esquecida, a não posse do “poder de rua” de outros sectores e ainda o país virar sofregamente para a “via rápida do consumo”. Talvez porque a dimensão da propriedade se foi reduzindo, nos países ricos, com as heranças e partilhas e só eram compensadoras as grandes áreas, capazes de economias de escala e mecanização de processos ou talvez porque os mercados eram sensíveis às mínimas variações de produção, criando fortes oscilações nos preços, desencorajadas para o agricultor. Como norma, o rendimento foi caindo e daí que a agricultura viesse a ser subsidiada, para garantir auto-suficiência alimentar, evitando o seu abandono, ao mesmo quis-se protegê-la com altas barreiras alfandegárias à importação.
Nos últimos anos, tem-se assistido a um crescente interesse pela produção agrícola em Portugal, deixando o setor de ser visto como o parente pobre para passar a ser visto como o El Dorado da rendibilidade empresarial. A agricultura é vista como um recurso estratégico, pois com a recessão que persiste e o desemprego galopante, assiste-se a um movimento de regresso à exploração da terra. Portugal tem qualidades inquestionáveis na área agrícola. Com uma boa dose de inovação e de valor acrescentado, muitas atividades tradicionais podem revelar-se compensadoras e lucrativas com aceitação no mercado nacional e também com potencial de exportação.
Uma das fileiras desta nova geração de agricultores tem visto na produção dos chamados pequenos frutos o ex-líbris desta febre, como expoente máximo desta nova forma de se ganhar muito dinheiro. Mas o aumento súbito do interesse no setor agrícola não aparece apenas pela larga margem de crescimento e pelo potencial económico. Esta nova onda tem sido também sustentada pelos apoios à instalação de jovens agricultores, que chegam a apoiar até 80% do valor do investimento inicial.
Embora subsistam alguns importantíssimos apoios aos agricultores, o mercado liberalizado está aí e, com ele, a volatilidade dos preços. Os preços flutuam como nunca antes tinha acontecido e o mercado mundial exibe as suas imperfeições. O nível de risco é cada vez maior, numa atividade que pela sua própria natureza já está rodeada de risco.
A PAC continua a ser indispensável. Tem efeitos, mas muito menores do que os seus detratores querem fazer querer. O grande problema não é da PAC, mas da falta dela em matéria de preços e da sua substituição pelo mercado mundial, de cujo bom funcionamento sempre duvidei. De facto, as suas variações não param de nos surpreender.
Contudo, antes de o potencial agricultor pensar no retorno económico que este negócio lhe poderá trazer, deverá sim informar-se a fundo. Existem, garantidamente, excelentes oportunidades de investimento e de criação do próprio emprego no setor agrícola, mas estas sorrirão apenas para alguns, não para todos.
Ana Luísa Ferraz Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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