Desde 2008 que, dia após dia, temos sido constantemente assombrados pelas consequências desastrosas provenientes da crise financeira que se desencadeou nos Estados Unidos. Escassez de crédito, défices orçamentais excessivos, endividamento externo…foram factores que levaram à recessão da economia portuguesa durante os últimos anos. Como inverter esta tendência? Aumentar as exportações e a produtividade? Sim, esta estratégia iria de encontro ao que seria academicamente correcto, mas seria ela suficiente?
A redução do rendimento disponível dos portugueses e, consequentemente, a redução da procura interna têm levado à destruição do nosso tecido empresarial através da falência de diversas empresas, conduzindo a um elevado número de desempregados. Para além destes, o mercado de trabalho deixou de absorver aqueles que, pela primeira vez, tentam entrar no mundo do trabalho mas, por mais que tentem, não o conseguem.
Há já alguns anos que a taxa de desemprego em Portugal tem vindo a aumentar. Até 2008 a evolução foi gradual, apresentando uma taxa de desemprego a rondar os 6,3%, 7,6% ou 8%, de acordo com dados provenientes do INE. Porém, nos últimos anos, esta tendência agudizou-se. Em 2009, esta taxa aproximava-se dos 9,4% e, em 2013, dos 16,2%. Este aumento incidiu, essencialmente, em duas faixas etárias: por um lado, sobre os mais velhos com qualificações escolares baixas e, por outro, sobre os mais jovens, não obstante a sua formação académica e qualificação profissional serem bastante elevadas.
Em relação ao primeiro grupo de trabalhadores, para além de a mão-de-obra em Portugal ser, comparativamente aos países europeus, desqualificada, os seus níveis de literacia são reduzidos e o salário médio é muito inferior aos valores médios verificados nos países da OCDE. A economia portuguesa tem-se deparado com um mercado cada vez mais competitivo sob pressão concorrencial e, por isso, relativamente a outras economias mais desenvolvidas, Portugal ainda encontra-se muito aquém dos níveis de produtividade dessas indústrias, não conseguindo fazer face aos desafios relacionados com a produção de bens e serviços a preços comparativamente vantajosos.
Relativamente aos trabalhadores jovens, o número de desempregados entre os 15 e os 24 anos não pára de aumentar, sendo que, em Março de 2013, a taxa de desemprego era superior a 40%. Na perspectiva de José Caetano et al. (2005), os jovens não possuem formação adequada para fazer face às exigências do mercado de trabalho. Ainda no mesmo fio condutor, Lourenço (2012) advoga que esta inadequação tem por base a infinidade de cursos existente que, na maioria das vezes, não se adequam àquilo que a economia actual busca.
Na verdade, o paradigma da economia portuguesa alterou-se muito nos últimos anos. A indústria da construção civil sucumbiu à redução do investimento público, grandes empresas nacionais encerraram as suas portas, grandes multinacionais migraram para outras geografias e, por via disso, o mercado de trabalho sofreu, em dois ou três anos, uma redução significativa.
Assim, a emigração acaba por ser a única solução que os jovens encontram para contornar esta situação. Infelizmente, esta solução trará consequências negativas para o país uma vez que Portugal não tirará proveito do investimento anteriormente realizado. Convém, ainda, ressaltar que esta situação de incerteza pode pôr em causa a identidade do trabalhador enquanto profissional, as suas capacidades físicas e cognitivas e, até mesmo, a sua sanidade mental.
Em jeito de conclusão, podemos referir que, em 2014, a taxa de desemprego baixou cerca de 1,8 p.p. face a mês homólogo do ano anterior. Porém, não podemos ignorar o facto de que se no passado a emigração, alimentada pelo desemprego, era “constituída por jovens adultos com escassa literacia e quase nula preparação profissional”, nos dias de hoje “estamos a atirar para fora das fronteiras enfermeiros, médicos, engenheiros, arquitectos, gestores, técnicos com formação superior, excelentemente preparados, indispensáveis ao nosso processo de desenvolvimento”. Não nos iludamos com os dados, a preocupação parece ser muita, mas a realidade é que, na prática, não têm sido adoptadas medidas capazes de fazer frente ao desemprego e consequente emigração.
É fundamental garantir que a população activa disponha de conhecimento e competências necessárias para o aumento do volume e qualidade dos seus produtos e serviços, adoptar medidas activas de criação de emprego, apostar em novos sectores que se encontrem menos expostos à concorrência mundial, incentivar ao investimento público e privado de forma a impulsionar a economia. Caso não sejam adoptadas algumas destas medidas, qualquer estratégia política nessa área será insustentável.
Faz-me pensar muito a confirmação de que cerca de 5% dos sem-abrigo em Lisboa têm um curso superior. Quem és tu Portugal? Para onde vamos?
Diana Martins
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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