É meu entendimento que o Portugal tem condições para fugir
deste andar em círculo vicioso que tem caracterizado a economia do País neste
últimos 40 anos (pelo menos). Nestas quatro décadas, já tivemos quase 3
bancarrotas, com eminência de falhar pagamentos e compromissos, para não falar
da bancarrota ocorrida no final do séc. XIX.
Mas para o fazer temos que olhar mais para nós do que para o
exterior, não copiando nem seguindo modelos, que aplicados noutras latitudes
podem ter razão de ser, mas são específicos e não têm aderência a nossa
realidade.
Desde logo, devemos direccionar o nosso crescimento por
caminhos que relevem 2 pontos:
1- Apostar naquilo que
nos diferencia dos outros e que nos permita crescimento aproveitando factores
endógenos;
2-Reforçar a vertente
do que sabemos fazer bem, fruto da experiência acumulada, como por exemplo nas
chamadas indústrias tradicionais, vestuário e calçado, passando da fase de
produção em massa apoiada em mão-de-obra intensiva para uma produção apoiada na
tecnologia, no design e no serviço.
O trilhar destes caminhos não tem a ver com especialização e
muito menos com a clusterização da
nossa economia, com tudo o que de redutor e rigidez que os conceitos enformam.
É, antes, através de uma política de pequenos passos, congruentes e assertivos,
criar condições (Capital), para que outros sectores quiçá mais valorizados ou
respondentes a novas realidades (áreas das tecnologias limpas ou verdes, por
exemplo) se possam impor, como liderantes e não como seguidores, através da
inovação e do desenvolvimento tecnológico.
Concretizando o ponto 1 acima referido, focalizaria em duas
grandes áreas pelo respectivo contributo em Valor Acrescentado Nacional,
conceito que mede o valor da nossa produção expurgado do valor das importações
nelas incorporado, ou seja a contribuição real efectiva dos nossos recursos nos
bens e serviços que produzimos e exportamos ou simplesmente substituem
importações. Sejam elas:
1-Conhecimento - na
área do conhecimento incluiria a educação, investigação científica, cultura e
língua;
2-Recursos naturais - de
uma forma sintética, diria que seria o Sol (Turismo), a Terra (Agricultura,
Floresta e Recursos endógenos) e o Mar (via de comunicação, pescas, produção de
energia, recursos endógenos ou aquacultura).
Qualquer destes caminhos responde, numa primeira fase, às
nossas necessidades mais imediatas. que são conseguir um equilíbrio nas nossas
contas externas e por via disso abrir caminho à criação de riqueza no País e à
acumulação de capital, tão necessário em áreas que exigem Capital Intensivo,
aumentando a nossa produtividade e a nossa competitividade.
Como encontrar recursos financeiros para apostar nessas
áreas e, mais importante, esperar que os resultados reforcem e exponenciem os
já alcançados? Neste ponto seria interessante que não esquecêssemos os
caminhos acima propostos e, de forma coerente, bem fundamentada e com metas e
objectivos pré-fixados, envolver os nossos parceiros Europeus num plano de
ajuda que não fosse um simples perdão de dívida, mas antes um reforço de coesão
do bloco Europeu, através da diminuição das diferenças entre Países e
economias.
No fundo transmitir-lhes que a ajuda deles seriam
investimentos e não assistencialismos ou caridade.
Essa ajuda teria três vertentes:
1-Financeira - dado
o valor elevado da nossa dívida, seria proposto um apoio à educação para uma
década (em vez dos propalados e temidos, pelos efeitos desconhecidos, perdões
de dívida).Dado que nos últimos dez anos gastámos em media 7 500 milhões de
euros/ano na educação, então esse seria o apoio da EU durante dez anos para
financiar o custo da educação em Portugal, ou seja qualquer coisa como o valor
total 75 000/80 000 milhões de euros. Portugal comprometer-se-ia a ter saldos
orçamentais nulos ou próximo disso. Penso que a dinâmica do serviço dívida
ajudaria a esse objectivo, libertando meios para investir em áreas como as
acima mencionadas.
2-Estrutural e de
coesão territorial - avançar com os grandes projectos trans-europeus que
diminuíssem a nossa perificidade, aumentando a centralidade do bloco europeu. Como exemplos, o caminho-de-ferro com bitola única desde
Portugal até ao centro da Europa, diminuindo distâncias, potenciando a
rentabilidade dos nossos portos, dada a nossa vocação Atlântica e a nossa
posição privilegiada enquanto ponto de passagem entre a Europa, África e o
continente Americano; ou o mercado único da energia, com reforço das linhas de
transporte de energia e de combustíveis (gás natural), potenciando a nossa
capacidade de produção de energias limpas e mais uma vez os nossos portos ,
3-Empresarial e de
investimento - investimento na área dos recursos naturais endógenos,
nomeadamente a nível de prospecção, inventariação e operacionalização dos
recursos minerais, metálicos ou fosseis, na plataforma terrestre e marítima de
Portugal. Este apoio teria a forma de Capital de Risco, em que a amortização
seria feita em função da exploração desse recursos, através de royalties, participação em resultados ou
outras, mas que não implicassem um aumento da dívida directa do País.
Do conjunto destas reflexões ou opiniões, que valem o que
valem, resulta uma ideia para o crescimento e, mais do que isso, uma
necessidade urgente de procurar capital estável, reprodutivo e com efeito
indutor de riqueza e de coesão no espaço em que nos integramos.
A ideia de que todos ganhamos pode ser romântica, mas pode
ser efectiva. A UE só tem a ganhar com o esbatimento das diferenças entre
economias: as transferências entre orçamentos seria menor e por outro lado as
transferências de riqueza entre países, pelo efeito dos saldos da Balança de
Pagamentos, seria menor. Nestas condições a UE teria mais que se preocupar em
ser o centro do Mundo e estar na frente da Globalização e menos com os
problemas internos das suas economias.
José
Avelino Rodrigues Magalhães
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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