sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Os Novos Imigrantes

Numa época marcada por desafios e mudanças, a imigração destaca-se pelo profundo impacto que tem na sociedade. Apesar das dificuldades que os diferentes países têm em lidar com o aumento e diversidade dos fluxos migratórios, tudo parece apontar para a sua permanência no futuro. 
A globalização e os fluxos que caracterizam as sociedades atuais imprimiram profundas mudanças no tecido demográfico de cada país. Cada vez mais, predominam as sociedades multiculturais e Portugal não é exceção. Apesar de continuar a ser um país de emigrantes, Portugal é hoje um país de acolhimento para muitos cidadãos estrangeiros provenientes de mais de 180 países.
O Eurostat (organismo oficial de estatísticas da União Europeia) analisou os pedidos das novas autorizações de residência concedidos em 2013 nos 28 países da UE e divulgou recentemente os dados. Em 2013, foram concedidas 26.593 novas autorizações de residência em Portugal. Embora possa parecer um número expressivo à primeira vista, em nada se compara aos valores registados no início dos anos 2000. A partir de 2010, o número de imigrantes em Portugal começou a reduzir-se, tendo-se mantido essa tendência decrescente até hoje, ainda que em 2013 se tenha registado um ligeiríssimo aumento. 
Os dados relativos à origem dos imigrantes apresentaram algumas surpresas. A partir de 2007, com o grande alargamento do espaço de Schengen,  iniciou-se a imigração massiva da população proveniente dos países de Leste, que perdura até aos dias de hoje. Contrariamente ao expectável, já não são os países de Leste a principal origem dos imigrantes que chegam a Portugal.  Mais de 30% dos novos imigrantes são provenientes do Brasil, cerca 11% são originários de Cabo Verde e 8,3% da China.
Mais curioso do que os números da imigração total são as razões que estão por detrás da decisão de cada cidadão em ir viver para um país estrangeiro. Quase metade (12.224) das primeiras autorizações de residência em 2013 no nosso país foram justificadas por razões familiares e apenas um quarto (6.394) por motivos laborais. Outros 4.734 casos (17,8%) vieram para estudar. Neste contexto surge uma nova geração de imigrantes, já que os motivos de trabalho deixam de assumir o primeiro lugar enquanto causas de imigração.
A diminuição dos imigrantes e o aumento da emigração representam um grande desafio para o Governo, sendo de referir que não se trata de um fenómeno exclusivamente português. Se, no final da década de 90, Portugal tinha como prioridade regularizar os imigrantes e, a partir de 2002, concentrou-se em integrá-los, atualmente é fundamental captar e inverter o défice migratório. Para captar novos imigrantes é necessário  tornar o país atrativo, pois as migrações são importantes não só para a cidadania, mas também para a economia, principalmente para o desenvolvimento regional. Por outro lado, é preciso continuar a atrair os dois fluxos que têm aumentado nos últimos dois anos: os estudantes estrangeiros e os reformados do norte da Europa, exemplos que mostram bem como é hoje necessário uma maior articulação entre políticas migratórias. 
Através do programa "Erasmus", muitos são os estudantes que vêm para Portugal, promovendo assim as nossas universidades no exterior. Este programa pode ser considerado como uma excelente forma de captação de novos imigrantes, uma vez que alguns dos estudantes estrangeiros que vêm para Portugal acabam por permanecer no nosso país, após o término do programa. Também a área da investigação acaba por atrair um número significativo de imigrantes. Por exemplo, o Laboratório Ibérico de Nanotecnologia, sediado em Braga, conta com inúmeros investigadores estrangeiros. Muito provavelmente, as famílias de alguns destes investigadores  ter-se-ão mudado para Portugal, contribuindo para o aumento de imigrantes.
 O investimento na integração das comunidades imigrantes deve continuar a ser feito e, hoje, mais do que nunca, precisa de atender às novas realidades do fenómeno migratório. Para além disso, para equilibrar o saldo migratório, torna-se também necessário intervir na reversão do fenómeno da emigração. O Estado deve também estabelecer uma relação com os emigrantes, identificando e acompanhando-os de forma a poder garantir o regresso daqueles que pretenderem voltar.
Em suma, as migrações promovem um ambiente crescente de mobilidade, de circularidade, de complexidade e de diversificação nos países. Perante a atual conjuntura e um saldo migratório negativo, Portugal tem de concentrar-se em captar novos imigrantes.  
Ultimamente, pouco se ouve falar dos imigrantes. O centro das atenções está voltado para aqueles que saem do nosso país. Mas de facto, são muitos os estrangeiros que escolhem Portugal para viver. São novos imigrantes, motivados por diferentes razões e provenientes de novas origens que importa acolher, valorizar e apoiar, face ao contributo que prestam ao país.

Ana Luísa Neves dos Santos

Referências
http://www.dn.pt

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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