Quase três quartos da superfície da Terra são mar, cinco oceanos, um conjunto de mares, rios, lagos e outros cursos de água ocupam 71% do planeta. Portugal, por sua vez, é por muitos considerado um país pequenino visto que a maioria das pessoas considera apenas a sua dimensão terrestre e não considera a dimensão marítima. No entanto, quando temos em conta as duas dimensões, deparamo-nos com o facto que 97% de Portugal é mar!
A vocação marítima esteve sempre presente nos portugueses, e sendo esta atividade um "hipercluster", como defendeu o professor falecido Ernâni Lopes, isto é, o mar é local de várias actividades diferentes totalmente ligadas entre si. As atividades com maior valor económico são a pesca, aquicultura e indústria do pescado, a construção e reparação naval, os transportes marítimos, portos e logística, turismo e lazer e as obras de defesa costeira. Contudo, esta marca da identidade lusitana não está totalmente aproveitada, uma vez que representa apenas 2% do PIB e só 75 mil empregos.
Portugal, situado de forma estratégica entre Europa, América e África, tem como consequência o forte peso das atividades ligadas aos transportes marítimos, sendo das atividades mais lucrativas, criando um valor acrescentado de aproximadamente 36% e um emprego de 19% em relação a toda a atividade marítima, em 2010. Nesse ano, Portugal reduziu a sua frota de 15 800 embarcações para 8492, ainda assim foi a quarta maior frota pesqueira na UE, segundo dados do Eurostat.
A completa relação entre Portugal e o mar contribui para que o país seja o terceiro maior consumidor de peixe, consumindo cerca de 55Kg de peixe por habitante, por ano, o triplo da média da UE. Sendo o papel da pesca, aquicultura e indústria do pescado fundamental, representa cerca de 21% do valor acrescentado e cerca de 28% do emprego da totalidade do produto criado pelo mar. Os hábitos de consumo de peixe obrigam-nos a importar dois terços do que consumimos, ou seja, 62%, e o total do consumo anual de 583 mil toneladas representa um défice de 709 milhões de euros. Apenas 3,4% do que consumimos vem da aquicultura, o que alimentaria apenas uma cidade de 135 mil habitantes. A nossa ligação a esta “nova” criação sustentável de espécies aquáticas para consumo tem que aumentar visto que o peso é bastante diminuto. Portugal produz menos que países sem mar, nomeadamente a República Checa.
Para Portugal, o oceano nunca foi um mar de oportunidades, mas sim um mar de potencialidades. O turismo e o lazer são outras atividades totalmente ligadas ao mar, representando cerca de 39% do valor acrescentado e cerca de 48% do emprego criado na economia do mar. O turismo balnear é a principal atividade ligada a este “cluster” possuindo um enorme peso, contudo, a atividade náutica de recreio (desde cruzeiros até a náutica desportiva), a propagação do desporto marítimo, e o surf mostram as muitas potencialidades no mar que ainda não foram aproveitadas.
A propagação das “ondas do McNamara” levou a que se dinamizasse o surf em Portugal. São já 171 as escolas de surf espalhadas o país, reconhecidas pela Federação Portuguesa de surf, e o número de alunos tem tendência a crescer. Essas ondas podem ser uma mais-valia no futuro, através da energia das marés. O seu potencial estimado de produção de 80 TWh/ano, poderá captar, a partir de 2015, 500 milhões de dólares por ano.
A aventura lusitana, que teve no mar o seu zénite, não acaba por aqui. Atividades como a construção e a reparação naval, as obras de defesa costeira, a preservação de património marítimo-cultural, a preservação dos recursos marítimos mostram que o mar é uma “terra de oportunidades”. Apesar do baixo peso, estas áreas num futuro próximo podem ter grande importância.
Consciencializamo-nos assim que temos no mar um enorme potencial, mal aproveitado, com o qual poderíamos obter muito melhores resultados e aumentar a riqueza nacional substancialmente. Neste momento, é de extrema importância fazer o PIB aumentar e isso passa pela exploração deste recurso. O objetivo é, Portugal regressar ao mar!
Ana Rita Duarte
Referências:
http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/eurostat/home/
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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