Felizmente, como portugueses, temos a sorte de ter um Sistema Nacional de Saúde com bons profissionais que, “gratuitamente” (apesar de contrapartidas como impostos, taxas moderadoras, ...), cuidam de nós e da nossa saúde. Mas isso só se as doenças forem físicas, pois para quem tem doenças mentais a situação é outra. É necessário pagar 60 euros ou mais por consulta num psicólogo ou psiquiatra. Deixem-me ser clara: o SNS também oferece consultas com estes profissionais, mas é sabido que o setor privado predomina sobre o público neste ramo da saúde.
Porquê?
Bem, a parcela de gastos em saúde que os países da UE (e OCDE) dedicam aos
cuidados psicológicos é diminuta, o que faz com que a maioria dos profissionais
prefira pertencer ao setor privado, deixando o setor público com défice de psicólogos,
psiquiatras, psicoterapeutas, etc. Ou, pior, desmotiva a escolha deste tipo de
carreira. Assim, os doentes são deixados não só à mercê de dificuldades sociais
e pessoais que ter uma doença mental acarreta, mas também de dificuldades
económicas. As pensões de baixa médica são baixas, e os custos de tratamento
das doenças são altas.
De
facto, a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde mental apontou para os
seguintes números: 165 milhões de europeus são anualmente afetados por uma
perturbação/doença mental e “apenas um quarto dos doentes com perturbações
mentais recebe tratamento, e só 10% têm tratamento considerado adequado”.
Acrescenta-se que “as doenças e as perturbações mentais tornaram-se, nos
últimos anos, na principal causa de incapacidade e numa das principais causas
de morbilidade nas sociedades”. E, segundo a OCDE, o custo económico das
doenças mentais pode ser de até 4% do PIB.
Fonte: excerto de parte de uma imagem de https://www.oecd.org/health/health-systems/Mental-health-Facts-and-Figures.pdf
Tais
dados deveriam incentivar o investimento. Para tantos europeus, seria de
esperar que o número de médicos especializados nesta área fosse igualmente
grande. Mas não. A média da OCDE é de 0,18 psiquiatras por 1000 habitantes,
sendo que Portugal está ainda abaixo deste número. Quanto aos gastos públicos em
saúde mental, apenas o Reino Unido, a Noruega e a França estão acima do limiar
dos 10%. A meu ver, são números francamente baixos.
A
discussão deste debate aumentou com o aparecimento da pandemia e a preocupação
com aumento de depressão, ansiedade, e outros nos jovens e adultos que desta
adveio. Contudo, a meu ver, meros diálogos não são suficientes nem se têm
traduzido em melhorias significativas.
Assim,
a minha opinião é: a saúde mental dos cidadãos é tão importante como a física,
já que, além dos problemas pessoais, acarreta também um custo para a sociedade
(em termos de produtividade, desemprego, consumo, etc.). Deste modo, é do interesse
dos doentes e de todos que estes tenham acesso fácil a tratamento adequado e
qualificado, independentemente da capacidade financeira. Cabe ao governo de
cada país, e às entidades supranacionais (para que todos os países possam
convergir neste sentido), promover e financiar este ramo da saúde.
Para
terminar, acredito que a nova geração é mais consciente e preocupada com este
problema e, como tal, o futuro trará resultados animadores e melhores
estatísticas!
Bruna Sequeira
[artigo de opinião produzido no
âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do
curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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