Em 1776, o aperfeiçoamento da máquina a vapor por parte de James Watt levou ao uso generalizado dos combustíveis fósseis, que por sua vez proporcionou o aparecimento do capitalismo industrial-fóssil.
Desde então, o crescimento económico e
populacional tem sido algo sem precedentes na história da humanidade. A
população mundial cresceu 9,5 vezes, a economia global 125 vezes e o rendimento
per capita 13 vezes, levando a um
aumento exponencial do consumo de recursos naturais e de matérias-primas. Este
processo, apesar de ter gerado muito lucro para a humanidade, em especial para
os detentores dos fatores de produção, também provocou grandes prejuízos para a
natureza e para a biodiversidade.
O capitalismo que tem permitido a produção de
uma quantidade tão grande de bens e serviços não tem conseguido ser ao mesmo
tempo economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente sustentável.
De modo a confirmar tal situação, diversos estudos mostram que nenhuma indústria
seria lucrativa se tivesse que pagar pelo capital natural utilizado.
A metodologia do Stockholm Resilience Centre identificou nove dimensões centrais
para a manutenção de condições de vida decentes para os seres humanos e o meio
ambiente, indicando que os limites já foram ultrapassados em 4 dimensões e estão-se
agravando nas demais, sendo de destacar que duas delas são as mudanças
climáticas e a integridade da biosfera, e que, de acordo com os cientistas, têm
o potencial de levar as civilizações ao colapso.
Para manter a sustentabilidade e garantir o adequado padrão de vida da
humanidade, sem degradar as condições ambientais, a pegada ecológica, no longo
prazo, não pode ser maior do que a biocapacidade. Assim, é insustentável manter
o crescimento da produção e consumo de bens e serviços acima da capacidade de
carga do meio ambiente.
O livro “Limites do Crescimento” tem um parágrafo que resume a situação
que enfrentamos atualmente: “Se as atuais tendências de crescimento da
população mundial, industrialização, poluição, produção de alimentos e
diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites de
crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem
anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto
da população quanto da capacidade industrial” (p. 20).
Ou seja, o progresso humano deu-se às custas
do retrocesso ecológico, uma vez que o crescimento exponencial das atividades
humanas excedeu a capacidade que o planeta é capaz de suportar, levando a que
existisse até ao momento um défice ambiental.
Na minha opinião, o sistema atual de
produção e consumo não irá conseguir lidar com a crise ecológica que se está a
criar. Isto significa que é impossível que a continuidade do crescimento das
atividades antrópicas mantenha de pé as três bases do tripé (económica,
ambiental e social) da sustentabilidade, que por sua vez se estão a transformar
em um trilema.
Deste modo, é necessário que se implementem
novas medidas, como por exemplo: o aumento no investimento em
transportes coletivos e utilização de carros elétricos de modo a que se promova
a redução da produção de carros particulares e poluentes; a redução dos gastos
militares, principalmente os que incidem na produção de armamento; a diminuição
da produção e consumo de fertilizantes químicos e uma maior aposta na agricultura
orgânica perto do meio urbano de modo a que se reduzam os custos de transporte
e desperdícios alimentares; o incentivo para a adoção de uma dieta vegetariana
e um estilo de vida vegano e a amenização do consumo de bens de luxo; e
investimento em bens e serviços que permitam a universalização do bem-estar, aumentando
as atividades de economia solidária e colaborativa de modo a diminuir os
impactos negativos das atividades antrópicas.
Concluindo, só um decréscimo da economia
tangível, da população e da pegada ecológica e um aumento da economia
intangível e da biocapacidade é que poderão garantir um equilíbrio homeostático
da economia e do ambiente.
Pedro Nunes
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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