quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O que nos ensinou a Covid-19?

Todos nós, nunca iremos esquecer do que nos fez “parar” por um bem maior e comum que é a saúde, mas certamente na altura em que a Covid-19 assolou o mundo esquecemo-nos de pensar nas consequências futuras do que estávamos a viver precisamente porque estávamos muito ocupados a protegermo-nos a nós e aos outros.

Dados da Comissão Europeia indicavam que Portugal seria o quinto país com a maior queda do PIB em 2020. Este registou uma quebra de 8,4%, situação essa que já há 52 anos não se verificava. Consoante o Eurostat, a crise resultou em mais 40% das falências registadas em 2019. Este aumento foi o segundo maior entre os países da Zona Euro.

Na minha opinião, ainda é cedo para conseguirmos dizer com certezas o que é que a pandemia nos ensinou. Não podemos negar que esta nos tornou mais humanos e humildes, mas deteriorou o estado económico dos países, aprendemos a ajudar mais o próximo e a ficar mais empáticos, da mesma forma que vimos a economia a responder a acontecimentos inesperados.

De facto, a contração económica assistida deveu-se em grande parte à redução muito acentuada da procura interna, através essencialmente da queda do consumo privado, deveras resultado do medo dos consumidores e da perda em termos económicos para as empresas, principalmente as mais afetadas com a Covid, isto é, as ligadas ao setor dos serviços, como o turismo, os transportes e a restauração, que tiveram de limitar a sua atividade.

Naturalmente que países, como é o caso português, em que muitas das receitas eram arrecadadas do setor do turismo, foram os mais afetados com a situação que presenciamos. Em 2020, as receitas turísticas portuguesas caíram mais de 50% face ao ano transato. Este foi um dos grandes causadores da recessão a que assistimos, o que em meu entender poderá servir de impulsionador para que o Estado português se desprenda um pouco do estrangeiro e comece a apostar no potencial das empresas nacionais através do incentivo ao consumo e investimento.

Não nos podemos esquecer também dos meios digitais no contexto de trabalho, com o teletrabalho. De acordo com um estudo de Capgemini, em 2020 as empresas presenciaram um aumento da sua produtividade em 63%, o que poderá incitar as empresas a aplicar no futuro um misto entre trabalho presencial e remoto, de forma a potenciar as capacidades dos seus trabalhadores. O aumento da produtividade é deveras benéfico para a economia como um todo, pois não só permite a criação de um maior valor acrescentado como também potencia a competitividade económica, imprescindível para a expansão do mercado.

De certo modo, os impactos enunciados, maioritariamente negativos, podem ser ultrapassados pelo reforço do ensino, pelo incentivo dado às empresas privadas que viram os seus lucros diminuídos drasticamente, através, por exemplo, da diminuição do IRC para as empresas nacionais até recuperarem ou através do acesso mais facilitado ao crédito.

Tendo em vista a recuperação económica das empresas portuguesas, existe já nesse sentido um Plano de Recuperação e Resiliência, que consiste em recursos financeiros da União Europeia posto ao dispor de Portugal para  o desenvolvimento de infraestruturas e equipamentos e para apoiar  as empresas a fundo perdido. Esses apoios ascendem os 3,4% do PIB. Consoante Siza Vieira, esta medida vem, com certeza, dar um “empurrãozinho” para a retoma económica anteriormente perdida pelas instituições privadas.

Em suma, a Covid-19 tornou Portugal e diversos países economicamente mais fragilizados. Importa agora recuperar e reerguer, investindo e apostando no nacional, sem nunca esquecer o que se viveu e aprendeu.

 

Adriana Carmo

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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