A temática das alterações climáticas e o impacto nas diversas esferas da sociedade e da economia têm vindo a ser recorrentemente alvo de debate nos dias de hoje, o que leva a crer que a discussão das suas repercussões não parece ter um fim imediato à vista. Trata-se de um entrave que exige forte colaboração entre o setor privado e o setor publico, com o intuito de revigorar o modelo produtivo para garantir e impulsionar o desenvolvimento e o crescimento económico sustentáveis.
As ondas de
calor, aleadas aos fenómenos dos furacões, ciclones e tufões, comprometem, em
grande escala, os níveis de produtividade, podendo em casos extremos dizimar
por completo milhões de cidadãos, traduzindo-se em perdas com impactos
incalculáveis ao nível do capital humano e do espetro económico. O grande ponto
de interrogação que se impõe sobre as gerações futuras está relacionado com a
manutenção de uma sociedade global estável, que se prevê que atinga a marca de
10 mil milhões de cidadãos em 2050 e, a partir desse vaticínio, em como as
alterações climáticas que se vêm despoletando com cada vez mais frequência
possam comprometer a prosperidade da sociedade num futuro iminente. Estudos
levados a cabo pelo Banco Mundial advertem que, se não forem adotadas medidas
de carácter urgente, os efeitos nefastos das mudanças climáticas podem levar à
ruína cerca de 100 milhões de pessoas até 2030.
O que era até há bem pouco tempo analisado como um mero fator externo, a
saúde ambiental, é atualmente tomado como um fator chave a incorporar nos
modelos dos economistas atuais. Nicholas Stern defende que “as emissões de
gases de efeito de estufa são a maior falha de mercado que o mundo já viu”, e
alerta para a necessidade de conceber um investimento equivalente a 2% do PIB
Mundial para mitigar os efeitos das alterações climáticas.
Não obstante as reticências iniciais impostas pela comunidade empresarial,
novos estudos e atuações têm vindo a demonstrar que as medidas destinadas a
combater o aquecimento global são uma oportunidade de ouro para assegurar o
desenvolvimento sustentável e impulsionar o crescimento económico. Segundo a
Comissão Mundial sobre a Economia e o Clima, a adoção de medidas de ação
climática pode vir a gerar lucros económicos de mais de 26 mil milhões de
dólares até 2030, e ainda providenciar a criação de novos postos de trabalho
para 65 milhões de indivíduos em todo o mundo.
Os efeitos sobre as economias dos países mais ricos serão ainda mais
severos comparativamente à crise pandémica, caso os governos não consigam lidar
com o avolumar das emissões de gases de efeito estufa. Estudos apontam que as
nações do G7 podem retrair-se cerca de 8,5% PIB/ano e o globo perder até 10% do
valor económico total até 2050, na eventualidade da temperatura global subir
2,6ºC. A principal causa reside nas perdas causadas pelo calor, aumento do
nível do mar, secas e inundações e redução da produtividade agrícola, o que
pode inibir a prosperidade das nações.
O Índice de Economia do Clima revela que muitas economias avançadas no
hemisfério norte são menos vulneráveis aos efeitos gerais das alterações
climáticas, estando assim menos expostas aos riscos associados e com recursos
mais avantajados para lidar com as adversidades impostas. Portugal aparece nos
primeiros lugares como um dos países menos vulneráveis a impactos físicos e,
analogamente, com maior capacidade de adaptação. Em contrapartida, é dos países
mais ameaçados por secas extremas, subida do nível do mar e inundações.
Assumindo um cenário mais pessimista, e projetando uma subida de 2ºC na
temperatura, as perdas económicas corresponderão a 6,2% PIB, ainda que, se
cumpridas as metas do Acordo de Paris, este impacto será atenuado para 4%. Este
acordo visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e estipula como seu
principal objetivo de longo-prazo a limitação do aumento da temperatura média
global para níveis abaixo dos 2ºC acima dos pré-industriais.
Ao redor do globo, a inércia na atuação para mitigar os riscos inerentes às
alterações, conjeturando uma subida de 3,2ºC na temperatura, pode comprometer
18% do PIB Global e acarretar cenários bastante funestos para a prosperidade das
sociedades.
O grande alerta relembrado pela ONU exprime-se na ideia de que ainda não é
tarde para reverter a mudança climática e minimizar os seus aterrorizantes
impactos. A verdade é que, hoje em dia, a humanidade tem ao seu dispor
ferramentas que viabilizam uma irrefutável capacidade organizacional e
tecnológica para compensar e restituir todos os malefícios cometidos que afetam
o planeta, e assim se reconciliar novamente com a natureza e saúde ambiental.
Tiago Martins
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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