Numa altura em que o
debate climático toma proporções cada vez maiores, a questão de em qual sentido
se deve envergar para melhor responder a esta ameaça pendente configura-se como
cada vez mais contenciosa. Dentre as soluções mais comumente propostas
encontra-se a da energia nuclear.
Proponentes da energia
nuclear apontam para a grande eficiência energética da mesma, a que podem estar
associados custos bastante reduzidos. A maioria dos reatores nucleares que hoje
operam no sentido de produção de eletricidade fazem-no com custos que variam
entre os $0,025 e os $0.,07 por kilowatt-hora. Estes custos, dependem do
desenvolvimento tecnológico dos reatores em questão, bem como de outras
questões externas, como subsídios governamentais ou pesquisa, e demonstram o
potencial competitivo da energia nuclear, visto que este custo não difere muito
daquele associado a outras fontes energéticas, como por exemplo o gás natural.
Economicamente, a
energia nuclear apresenta também a vantagem de estar menos dependente de
fatores externos, tais como o clima, o que possibilita que possa operar
consistentemente no seu máximo potencial. Além disso, a energia nuclear
apresenta de longe o menor impacto ambiental visto que não liberta gases como
metano ou dióxido de carbono, pelo menos aquando do processo de produção de
energia, em si. A juntar a isto tem-se ainda que num futuro próximo parece
quase impossível perspetivar escassez de
matéria combustível, visto que se estima que a reserva mundial de urânio ronde
5.5 milhões de toneladas.
No entanto, a energia
nuclear não está isenta de desvantagens, a primeira das quais, e a que mais é
usada pelos seus opositores é a da toxicidade dos resíduos resultantes deste
processo. Estes resíduos são extremamente tóxicos, e apresentam potencial catastrófico
na eventualidade de um acidente num reator nuclear, como o de Chernobyl. Este
incidente, arquetípico exemplo dado pelos opositores da energia nuclear, é
também um dos motivos para que esta possua uma perceção política e popular
bastante controversa. Outra possível desvantagem centra-se na elevada
concentração de capital exigida por uma empresa nuclear, visto que é necessário
o envolvimento de mão-de-obra altamente qualificada para a construção, manutenção
e operação de uma central nuclear, o que pode acarretar custos desmotivadores.
A crise pandémica de
Covid 19 que atingiu o globo no final do ano de 2019 fez-se sentir na indústria
da energia nuclear. Após 7 anos consecutivos de crescimento no total de energia
produzida a nível mundial, em 2020 registou-se um decréscimo de 3,9% nesse
mesmo valor. Os lockdowns levaram
também ao atraso na construção de várias centrais nucleares no mundo, a maior
parte das quais no continente asiático. Este aparenta ser mais um resvés para a
indústria, que tem vindo a perder espaço desde 1996, quando representava 17,5%
da produção global de eletricidade, comparado a apenas 10,1% no ano passado.
No entanto, esta tendência pode vir a mudar. Alguns países emergentes tem vindo a investir fortemente na energia nuclear, com especial destaque para a China. Fruto de grande investimento público, o país tem assistido a um aumento sustentado na produção de energia nuclear, um sinal positivo para aquele que é, por grande margem, o maior emissor de dióxido de carbono a nível mundial. Atualmente, e em média, a cada três meses abre uma nova central nuclear no país, o que tem vindo a aumentar a capacidade total de produção.
Na minha opinião, esta
deveria ser a aposta do futuro, visto que os pontos positivos são
esmagadoramente mais fortes que as falhas que possa ter. Num contexto onde as
energias renováveis erroneamente dominam o debate mainstream, corremos o sério risco de deixar escapar a nossa melhor
oportunidade na luta pela preservação do clima e do ambiente.
Ricardo Correia
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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