Este ensaio é baseado no artigo “Portugal’s Sardine Capitalism Is a Model for the World”, do economista americano Michael Moran, publicado no dia 12 de setembro de 2021.
A
economia de um determinado país está relacionada com as caraterísticas e
cultura do seu povo e, ao nos referirmos a Portugal, a herança desbravadora e o
desafio à sabedoria convencional não podem ser postos de lado. Apesar de não
existirem mais colónias portuguesas ao redor do mundo, a tendência do país, que
foi responsável por alargar as fronteiras globais para traçar seu próprio
caminho, ainda sobrevive.
Apesar
da Crise Financeira Global há uma década e da forte desaceleração das economias
decorrente da pandemia, Portugal destaca-se como modelo a ser seguido entre as economias
de menor dimensão da Europa. O grande desafio para esta classe de países é
manter o equilíbrio entre tradições culturais e valores políticos e a forte procura
de economias maiores do bloco europeu, como Alemanha, França e Itália.
Mesmo
com as restrições fiscais que pertencer a Zona Euro impõe às economias mais
pequenas, Portugal encontrou a fórmula para manter o custo de vida mais
razoável da Europa Ocidental, desemprego relativamente baixo e um crescimento económico
estável, além de uma relativa estabilidade política, num momento singular em
que a democracia em alguns países é ameaçada e há grande polarização, o que
também é explicado pelo papel das redes sociais (esse assunto é abordado no
livro “The People vs Tech: How the Internet is Killing Democracy”; recomendo a
leitura para quem tem interesse no tema).
A
recuperação portuguesa frente à crise pandémica também tem sido admirável. No trimestre
encerrado em 30 de junho, apesar das restrições sanitárias que atingiram um
setor fundamental da economia em Portugal, que é o turismo, o país apresentou um
crescimento de 4,6% anual, de acordo com a Comissão Europeia.
O
desemprego de 6,7% também é outro ponto positivo para a economia portuguesa, o
que é comparado com grandes economias como da Alemanha, 5,5%, e até mesmo os
Estados Unidos, com 5,4% de taxas de desemprego. Comparado com outros países da
UE com grande endividamento, ainda é mais perceptível a diferença. Espanha
apresenta uma taxa de desemprego superior à 15%, a Itália em torno de 10% e a
Grécia quase 16%. Até mesmo a Irlanda, que é tratada como exemplo por alguns
economistas e que tem um setor tecnológico bem avançado, tem uma taxa de desemprego
superior à portuguesa (7,6%).
A
exogeneidade presente entre os países expostos à mesma moeda corrente foi
exposta durante a Crise Financeira de 2008-2009. Agrupar economias como
Alemanha e França com economias como a do Chipre e da Grécia sob uma mesma
regência monetária gerou problemas. A solução imposta pelas principais
economias, principalmente a alemã, foi a imposição de uma severa austeridade
nestes países, o que paralisou tais economias por mais de uma década.
Portugal
foi uma exceção. Numa situação extremamente complicada e incapaz de honrar o
pagamento das suas dívidas, Portugal aceitou um resgate de US $ 92 bilhões da
chamada "troika" - Comissão Europeia, BCE e FMI - em 2011. O
desemprego chegou aos 18% em 2013, porém, o país manteve as suas obrigações. Ao
longo deste difícil caminho, Portugal resistiu à pressão da troika para aceitar
uma segunda parcela dos fundos de resgate e libertou-se da austeridade imposta
pelo estrangeiro.
Já
livre da troika, em 2015, Portugal utilizou uma combinação de incentivos
fiscais, estímulo fiscal e divulgação inovadora para investidores estrangeiros.
Essas medidas ajudaram a impulsionar o crescimento português, que ocorreu num
ritmo médio de 2,6% de 2015 até o início da pandemia. Estes bons resultados
fizeram com que o país conseguisse resistir à crise imposta pela pandemia.
Segundo
o professor João Borges de Assunção, da Católica Lisbon School de Lisboa, em
2018, a economia portuguesa é capaz de resistir a crises - “um exemplo daquilo
que poderia ser feito de forma diferente no contexto da recuperação europeia”.
Fato que foi confirmado em 2020.
Apesar
de consequências negativas, principalmente a grande valorização imobiliária, a
caraterística portuguesa de ser recetiva a estrangeiros, aliada a um país que
oferece uma boa qualidade de vida aos habitantes, contribui para uma importante
fonte de renda do país, que são os investimentos estrangeiros.
Os
portugueses, sendo considerados sardinhas no meio de salmões (grandes
economias), mostram aos países europeus de menor dimensão que, com uma
combinação de políticas e medidas fiscais inteligentes, é possível viver uma
boa vida e também o crescimento da economia.
João Pedro Pinto Duarte
Link artigo : https://foreignpolicy.com/2021/09/12/portugals-sardine-capitalism-is-a-model-for-the-world/
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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