A cultura está inserida na sociedade portuguesa das mais
diversas formas. Esta regula a nossa convivência e a nossa comunicação em
sociedade e é entendida como os comportamentos, crenças, tradições, caraterísticas
e conhecimento de um determinado grupo social. Desta forma, a cultura pode ser
interpretada como o crescimento de uma identidade de grupo que é fomentada por
padrões sociais que são próprios desse grupo.
Com o surgimento da pandemia covid-19, vários domínios da
nossa sociedade foram afetados, sofrendo diversas consequências e repercussões.
Eventos cancelados, atividades culturais interrompidas por tempo indeterminado,
instituições culturais fechadas e cancelamento de concertos, exposições e peças
de teatro foram o principal motor da disrupção da indústria da cultura.
Uma cultura não é estática, está em constante
transformação uma vez que se adapta às situações vividas por determinado grupo.
No contexto do covid-19, as restrições deveras limitantes que foram impostas
implicaram uma resposta rápida por parte dos profissionais do setor cultural,
na tentativa de reformular a oferta cultural e convertê-la para um regime
virtual. Além disso, durante os meses de confinamento, todas as atividades de
cariz cultural adaptadas à nova realidade mostraram-se um contributo bastante
positivo para a nossa saúde mental. Durante este período, vários foram os
artistas e profissionais que nos providenciaram o seu trabalho de forma
gratuita, como nenhum outro setor da economia.
Os efeitos da
crise resultantes da pandemia nas redes de distribuição e na queda do
investimento neste setor afetaram a produção de serviços e bens culturais, bem
como a sua diversidade. A médio prazo, os níveis reduzidos do turismo
internacional e doméstico, a queda do poder de compra e as reduções do financiamento
público e privado no que diz respeito às artes e cultura (particularmente ao
nível local) ampliaram ainda mais esta tendência negativa.
Dada a evidente
precariedade do setor, é, então, absolutamente fundamental que o setor cultural
seja reconhecido como uma atividade económica que não deve ser posta de parte
ou menosprezada relativamente a outras áreas e setores económicos. Apesar de a
cultura ter só por si um valor imaterial, esta precisa de contar com “números”
e apoios suficientes para ser exequível, uma vez que em Portugal corresponde a
3% do PIB e emprega cerca de 131 mil pessoas.
Em 2022, a cultura poderá contar com mais 221 milhões de euros face ao ano
de 2016. O Programa Orçamental da Cultura antevê uma despesa total de 644
milhões de euros suportada pelo Orçamento do Estado de 2022, valor este que, excluíndo
a dotação da RTP, se concentra nos 390 milhões de euros, o qual revela um
aumento de 17,6% relativamente à previsão de execução orçamental até ao fim
deste ano.
Contudo, a dotação para a cultura
equivalará, no próximo ano, apenas a 0,25% do Orçamento do Estado, valor este
que continua ainda distante da meta já há muito esperada e reinvidicada dos
1%. Na verdade, este valor representa a
terceira dotação mais baixa do Orçamento do Estado.
É um contrassenso que o Governo se refira à cultura como um ponto fulcral e estratégico para o contínuo desenvolvimento do país e lhe continue a destinar apenas 0,25% do Orçamento do Estado. Os 390 milhões de euros de despesa total do Ministério da Cultura previstos para o setor, em 2022, são claramente um montante insuficiente face a um setor que está há vários anos em crise e que se encontra agora francamente pior devido às consequências inerentes à situação pandémica.
Na minha
opinião, é impossível vivermos sem a cultura, pois esta é a chave das relações
interpessoais que estabelecemos e é o que permite definirmo-nos enquanto
pessoas. Além disso, um mundo sem cultura é um mundo sem futuro, sem
possibilidade de construção do pensamento e da racionalidade, e, por isso, urge
a necessidade do Estado prestar mais atenção, crédito e relevância a um setor
que tem vindo a ser brutalmente esquecido, principalmente durante a “era
covid-19”.
A cultura tem,
assim, um grande peso e papel no nosso dia-a-dia uma vez que contactamos com
ela em quase tudo que fazemos e experienciamos. Deste modo, é importante
que esta tenha os fundos e as medidas de providência por parte do Estado
necessários para que se possa restabelecer no panorama mundial. Caso não haja
um apoio público em resposta a esta situação, bem como estratégias de
recuperação do setor, a redução do tamanho dos setores culturais e criativos
terá impacto negativo nas cidades e regiões, quer em termos de empregos e
receitas, níveis de inovação e bem-estar dos cidadãos, quer na qualidade de
vida e na diversidade que carateriza as diferentes comunidades e indivíduos.
É importante realçar que se as atividades culturais estiverem projetadas nos mercados, estas representam um enorme fator de competitividade económica e social.
Guilherme António Rodrigues Augusto
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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