O continente europeu enfrenta, de momento, uma crise energética sem qualquer tipo de precedentes. O petróleo Brent apresenta uma cotação recorde nos últimos 5 anos, com o custo do barril a atingir os $85, enquanto o preço do gás natural sofreu um aumento de sensivelmente 600% em apenas 1 ano, forçando variadas centrais e plataformas energéticas a voltar a utilizar carvão, atenuando o processo de transição para a dita “energia verde” projetado pela União Europeia.
O aumento do consumo energético
pós-covid, aliado ao facto de os depósitos de gás natural existentes no Mar do
Norte escassearem dia após dia, situam-se no foco central das causas deste
contratempo, e, com a aproximação do inverno na Europa, a tendência revela-nos que a procura
deverá intensificar-se. O objetivo delineado pela UE de anular por completo as
emissões de carbono até 2070 afastou os estados-membro de possíveis acordos a
longo-prazo, tipicamente mais vantajosos do ponto de vista económico, tornando,
assim, os custos associados a esta crise ainda mais avultados. De forma
expectável, todas as razões mencionadas supra encontram-se no cerne de um
acréscimo gradual da procura de fontes de energia alternativas.
A principal solução que tem vindo a
ser discutida pelos dirigentes dos países afetados compreende a importação de
gás dos maiores produtores do Mundo – Qatar e Rússia. Contudo, o
ministro da Energia do Qatar, Saad Al-Kaabi, revelou há dias que o país
enfrenta uma enorme procura por parte de todos os seus clientes e que, deste
modo, não acredita que tenham capacidade de prover a Europa. De
salientar ainda que os seus principais compradores trata-se de países do leste asiático, os
quais apresentam um poder de compra consideravelmente acima da média. Com isto,
a opção soviética é a única que permanece em cima da mesa.
Surge então o Nord Stream 2, um
gasoduto pertencente à Gazprom, construído no Mar Báltico e que une a Alemanha
à Rússia, permitindo duplicar o volume de gás russo fornecido atualmente. Os
EUA tentaram travar a sua construção através da imposição de sanções às
empresas contratadas para consumar o projeto, todavia foram apenas capazes de o
atrasar. Ainda assim, este esforço americano não se deve apenas à inquietação que
uma maior dependência europeia da Rússia possa causar, mas também ao facto de
os EUA exportarem o seu próprio gás natural (LNG) para o Velho Continente.
O presidente russo, Vladimir Putin,
já veio a público desmentir a especulação criada relativamente à possível
utilização da energia como arma política, apesar de o CEO da Gazprom, Alexei
Miller, já ter afirmado que a sua empresa se trata de “50% negócio, 50% arma de estratégia
política”.
Quem poderá também sofrer com este
novo meio de transporte de gás natural será a Ucrânia. De momento, está em vigor um compromisso entre
Moscovo e Kiev relativamente à utilização do gasoduto que percorre o país. No
entanto, esse pacto tem término em 2024, e na eventualidade de o Nord Stream 2 ser
aprovado, os ucranianos temem a instauração de cortes na quantidade de gás que
atravessa essa infraestrutura, existindo repercussões a nível financeiro. Para
além disso, sem a necessidade de utilização do gasoduto ucraniano, Kiev
tornar-se-á suscetível a novas agressões, repetindo-se dessa forma a história, dado que, recorde-se, a Rússia
anexou ilegalmente a Crimeia em 2014.
Assim, acredito que se avizinha um período dramático para os estados-membros da UE, referente à fase de transição projetada. Deverão adotar-se estratégias pragmáticas no sentido de diversificar os nossos recursos, de modo a futuramente não nos tornarmos dependentes de quem quer que seja, principalmente de uma nação tão vigorosa como a Rússia e com tanta ânsia de poder. A evolução e o progresso energético serão obviamente possíveis e benéficos, contudo considero que a ponderação será o nosso principal aliado neste ciclo que se aproxima.
Fábio Freitas
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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