No decorrer dos últimos anos, a Venezuela envolveu-se num panorama político-económico de tal forma deficiente que estimulou uma forte crise humanitária. Escassez de alimentos, corrupção, crise sanitária, pobreza extrema, violência, fuga de residentes caraterizam um cenário altamente provável quando observamos, por consequência, um salário mínimo atual de 2,95€. Tudo isto estende-se desde o final da presidência de Hugo Chávez até à recente regência de Nicolás Maduro.
A principal fonte de riqueza e exportação deste país é o petróleo, sendo este um dos pontos-chave na origem da crise. A Venezuela dispõe das maiores reservas do mundo, no entanto, em 2014, com a queda do mercado internacional petrolífero, as suas receitas foram altamente reduzidas, fazendo com que as exportações nacionais caíssem. A acrescentar, com o desenvolvimento e o ampliar da instabilidade económica, esta apresentou uma acentuada desvalorização do bolívar (moeda venezuelana) que, por sua vez, suscitou taxas de inflação bastante elevadas (chegando a atingir um aumento de 800%, em 2015) juntamente com a queda do PIB per capita, que registou uma diminuição de mais de 35% (entre 2013 e 2017).
O bruto aumento das despesas e do défice orçamental fez com que as más políticas aplicadas pelo governo representassem um ato de irresponsabilidade global que colocou a Venezuela num patamar caótico. Após diferentes abordagens de combate à crise e da entrada num cenário sem esperança, o governo voltou-se para as criptomoedas de forma a tentar controlar a hiperinflação.
Petro (nome que deriva do petróleo), anunciada em 2018, é a primeira moeda virtual emitida pelo estado e tem como principal objetivo tentar travar a crise que se prolonga desde 2013. Em 2020, a Venezuela era o terceiro país no ranking mundial de transações com criptomoedas. O governo permitiu que a moeda fosse usada como forma de “pagamentos de impostos, taxas, contribuições e serviços públicos nacionais”. Aos olhos de muitos venezuelanos, esta cripto representa uma forma de liberdade financeira visto que traduz uma maneira acessível e económica de efetuar transações, no entanto, também é de salientar que, para grande parte da população, o uso deste tipo de moeda é ainda uma hipótese distante, visto que 96,2% da população vive na pobreza e 79,3% estão em situação extrema.
Uma das medidas que o governo venezuelano aponta é a obrigatoriedade de pagamento das taxas portuárias com a moeda virtual, o que fez com que muitos investidores e compradores de petróleo tomassem partido pelos EUA (escolhendo a não utilização de Petro) e, parassem com a compra na Venezuela para não correrem o risco de perder licenças ou o acesso ao sistema bancário desta megapotência internacional. Isto gera uma divisão do mercado entre dois partidos. De acordo com o governo venezuelano, esta moeda continua a ter um bom propósito, apesar de não ter alcançado as perspetivas de “substituição das divisas estrangeiras no comércio nacional”, no entanto, afirmam que se houvesse uma alteração na política dos EUA relativamente aos instrumentos financeiros venezuelanos, a moeda virtual cresceria a olhos vistos. Esta política foi aplicada pelo ex-presidente norte americano, Donald Trump e, aos olhos de muitos economistas, enquanto estas medidas vigorarem é muito complicado a Petro operar no mercado, a menos que cheguem a acordos com outros países, como a China ou a Rússia.
Em suma, as medidas aplicadas por Maduro
levaram o país a uma crise de abastecimento e pobreza extrema que, em primeira
instância, fracassou uma das tentativas de combate à hiperinflação, com a
criação da criptomoeda, Petro. Ainda assim, existe um longo e incerto caminho
para a reabilitação da economia venezuelana e do estado catastrófico em que
esta se encontra.
Beatriz Silva
[artigo de opinião
desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia”
do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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