A atual crise na Venezuela é, simultaneamente, socioeconómica e política. Esta tem afetado o país desde o final do governo de Hugo Chávez e com o atual governo de Nicolás Maduro.
Tratando-se
de uma grave crise económica, traz consigo consequências inevitáveis: recessão
económica, taxas de inflação muito elevadas, salário mínimo desvalorizado,
redução da reserva de divisas, grave escassez de produtos alimentares e de
primeira necessidade, instabilidade no cenário político, extrema violência,
acusação de morte e tortura aos opositores e “sequestro de direitos”. Com isto,
há alguns conceitos e perspetivas macroeconómicas que importam analisar se
queremos perceber quais as razões para esta crise que parece não ter fim.
A
Venezuela dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo. No entanto, na
última década, a produção do recurso entrou em colapso e um barril de petróleo
vale agora quase menos dois terços do que valia há dois anos. Essa
desvalorização deu-se por várias razões:
• abrandamento da economia chinesa e crise
na Europa, resultando na menor procura do produto;
• descoberta e extração de gás e petróleo
de xisto, especialmente nos Estados Unidos, competindo diretamente com o
petróleo comum;
• crise diplomática entre o Irão e a Arábia
Saudita;
• recusa dos países da OPEP em diminuir a
produção. Os membros da Organização preferiram vender o produto a valores mais
baixos e, com isso, inviabilizar a concorrência de outros produtores ou de
produtos como o petróleo de xisto.
Com
isto, percebemos que ao longo dos últimos anos esta desvalorização levou à
queda nos preços do petróleo, reduzindo o valor das exportações,
desequilibrando a balança comercial venezuelana e aumentando o défice.
Ora,
a economia da Venezuela sempre se baseou no petróleo, o que provocou um atraso
no desenvolvimento de outras atividades, nomeadamente da indústria ou
agricultura. Como se não bastasse, Chávez nacionalizou algumas indústrias, como
as de cimento e aço, e retirou propriedades rurais. Desta forma, a produção
nacional foi substituída pela importação, deixando a nação cada vez mais
dependente do mercado externo. Ora, com o agravamento da crise na Venezuela,
faltou dinheiro para importar. Assim, a população passou a enfrentar sérios
problemas de abastecimento e as consequências foram o racionamento de itens
essenciais e o aumento de preços dos produtos, comprometendo ainda mais a
qualidade de vida dos venezuelanos.
Além
disso, verifica-se também o fenómeno de hiperinflação - definido como uma
inflação fora de controlo. No caso da Venezuela, esse fenómeno é tão acentuado
que já são comuns as impressionantes imagens de grandes quantidades de
Bolívares que são necessários para se comprar produtos básicos, como farinha ou
papel higiénico. A inflação em 2014 chegou aos 68,5%. Até 2015, a inflação
teria atingido os 180,9% e, até 2016, teve um aumento de 800%. Com isto, e
associado ao reduzido salário mínimo atual, deu-se uma perda de 90,80% no poder
de compra dos venezuelanos, os quais vivem, neste momento, com apenas cerca de
3 dólares por mês.
Por
último, a capacidade do país para defender a sua moeda e honrar a dívida
diminui rapidamente. Assim, as causas dessa descida dramática das reservas são
o crescimento desordenado da despesa pública, ausência de planificação, falta
de precaução na administração dos fundos da República, endividamento excessivo
e alto défice orçamental.
Concluindo,
tendo em conta os factos e numa perspetiva pessoal, a Venezuela reúne todas as
condições para uma catástrofe que, para lá dos efeitos internos, ameaça
produzir uma onda de choque em grande parte da América do Sul. Um laço fatídico
liga o “iminente colapso económico” ao monopólio do poder do governo “chavista”
de Nicolás Maduro, que bloqueia todas as tentativas de transição e acelera a
corrida para a catástrofe.
Ana Mafalda Ribeiro Magalhães
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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