O
crédito ao consumo, relacionado muitas vezes com a compra de bens e serviços,
não se reduz só a este panorama, pois assume um papel importantíssimo na
estabilização do poder de compra das famílias quando existe uma quebra no
rendimento obtido. Este indicador funciona como um mecanismo de dinamização
económica, na medida em que para as instituições bancárias existe facilidade em
concedê-lo e é necessário para os consumidores continuarem a intervir de forma
ativa numa das componentes mais importantes do Produto Português, o consumo.
A
concessão de crédito para o consumo seguia uma trajetória ascendente, até pela
estabilidade financeira em que Portugal se encontrava em 2019. Contudo, o
aparecimento da crise pandémica e económica, ocorrida em 2020, veio revelar uma
completa mudança de cenário nesta vertente. Desde logo, uma implícita maior
regulação e fiscalização na atribuição do crédito, devido ao maior
endividamento das famílias e ao incumprimento nas obrigações do pagamento do
mesmo. Também esta redução abrupta, apesar de ser previsível, evidenciou um
travão firme para a estimulação da economia portuguesa, como se pode verificar
no seguinte gráfico.
Figura 1 - Taxa de crescimento do número de créditos aos consumidores
Como
podemos verificar, existiu uma taxa de crescimento positiva ao longo dos anos de
2014 a 2017, no entanto, a maior taxa de crescimento escrutinada sucedeu-se na
passagem do ano 2014 para 2015, na ordem dos 10%. Por outro lado, no ano de
2018 o número de créditos aos consumidores teve a sua primeira queda neste
espaço temporal. Apesar de pequena, os valores rondaram os -1,1%.
No
ano seguinte, existiu um grande crescimento face ao ano transato, sendo que
2019 atingiu quase os valores de crescimento de 2015, fomentando assim de novo
a tendência de aumento de solicitação de crédito pelos consumidores e o
equilíbrio financeiro vivido na altura, que permitia essa trajetória. Chegamos
ao ano da pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 e, como não poderíamos
deixar de prever, existiu uma quebra gigantesca no que toca à taxa de
crescimento de número de créditos aos consumidores, na ordem dos 32%, o que vem
a comprovar as ideias acima referidas.
Uma
das estratégias encontradas para o controle do pagamento do crédito foram a
existência de moratórias, tanto as privadas relacionadas com o crédito à
habitação e o crédito automóvel (estas duas componentes as mais importantes),
como as moratórias públicas. Ambas serviram para atenuar o efeito repentino e a
pressão fatigante que os desembolsos exigiam, de forma a não haver um sobre-endividamento
destes consumidores vulneráveis.
Num
cenário de esperança e de recuperação, evidencia-se este ano de 2021, com a
diminuição das restrições sanitárias e o aumento gradual da atividade
económica. Assim, é de aguardar um trajeto positivo do crédito, apesar de ser
uma progressão muito vagarosa, com o crédito automóvel a apresentar uma
evolução com um peso bem negativo neste agosto passado, e as componentes do
crédito pessoal e os cartões e descoberto a ter um comportamento evolutivo.
Figura 2 - Montante de novos créditos aos consumidores
Para concluir, na minha opinião, considero que devemos continuar a fomentar o crédito ao consumo para continuar a dinamização da economia e para a continuação da recuperação da nossa economia. Contudo, é preciso ter em atenção os diversos consumidores que apresentam um carácter frágil, para que não exista um sobre-endividamento nestes agentes devido à quebra de rendimento que muitos destes sofreram com a paragem de produção e de atividade que houve durante a pandemia. Para isso, seria importante, por exemplo, a apresentação de um plano por parte das instituições bancárias tendo em conta o rendimento presente e o esperado no futuro dos consumidores, de forma a garantir que se minimiza o risco de incumprimento destes mesmos.
José Pedro Neves
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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