sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O impacte da Covid-19 no crédito ao consumo

O crédito ao consumo, relacionado muitas vezes com a compra de bens e serviços, não se reduz só a este panorama, pois assume um papel importantíssimo na estabilização do poder de compra das famílias quando existe uma quebra no rendimento obtido. Este indicador funciona como um mecanismo de dinamização económica, na medida em que para as instituições bancárias existe facilidade em concedê-lo e é necessário para os consumidores continuarem a intervir de forma ativa numa das componentes mais importantes do Produto Português, o consumo.

A concessão de crédito para o consumo seguia uma trajetória ascendente, até pela estabilidade financeira em que Portugal se encontrava em 2019. Contudo, o aparecimento da crise pandémica e económica, ocorrida em 2020, veio revelar uma completa mudança de cenário nesta vertente. Desde logo, uma implícita maior regulação e fiscalização na atribuição do crédito, devido ao maior endividamento das famílias e ao incumprimento nas obrigações do pagamento do mesmo. Também esta redução abrupta, apesar de ser previsível, evidenciou um travão firme para a estimulação da economia portuguesa, como se pode verificar no seguinte gráfico.

            Figura 1 - Taxa de crescimento do número de créditos aos consumidores

Como podemos verificar, existiu uma taxa de crescimento positiva ao longo dos anos de 2014 a 2017, no entanto, a maior taxa de crescimento escrutinada sucedeu-se na passagem do ano 2014 para 2015, na ordem dos 10%. Por outro lado, no ano de 2018 o número de créditos aos consumidores teve a sua primeira queda neste espaço temporal. Apesar de pequena, os valores rondaram os -1,1%.

No ano seguinte, existiu um grande crescimento face ao ano transato, sendo que 2019 atingiu quase os valores de crescimento de 2015, fomentando assim de novo a tendência de aumento de solicitação de crédito pelos consumidores e o equilíbrio financeiro vivido na altura, que permitia essa trajetória. Chegamos ao ano da pandemia provocada pelo vírus SARS-CoV-2 e, como não poderíamos deixar de prever, existiu uma quebra gigantesca no que toca à taxa de crescimento de número de créditos aos consumidores, na ordem dos 32%, o que vem a comprovar as ideias acima referidas.

Uma das estratégias encontradas para o controle do pagamento do crédito foram a existência de moratórias, tanto as privadas relacionadas com o crédito à habitação e o crédito automóvel (estas duas componentes as mais importantes), como as moratórias públicas. Ambas serviram para atenuar o efeito repentino e a pressão fatigante que os desembolsos exigiam, de forma a não haver um sobre-endividamento destes consumidores vulneráveis.

Num cenário de esperança e de recuperação, evidencia-se este ano de 2021, com a diminuição das restrições sanitárias e o aumento gradual da atividade económica. Assim, é de aguardar um trajeto positivo do crédito, apesar de ser uma progressão muito vagarosa, com o crédito automóvel a apresentar uma evolução com um peso bem negativo neste agosto passado, e as componentes do crédito pessoal e os cartões e descoberto a ter um comportamento evolutivo.

Figura 2 - Montante de novos créditos aos consumidores

Para concluir, na minha opinião, considero que devemos continuar a fomentar o crédito ao consumo para continuar a dinamização da economia e para a continuação da recuperação da nossa economia. Contudo, é preciso ter em atenção os diversos consumidores que apresentam um carácter frágil, para que não exista um sobre-endividamento nestes agentes devido à quebra de rendimento que muitos destes sofreram com a paragem de produção e de atividade que houve durante a pandemia. Para isso, seria importante, por exemplo, a apresentação de um plano por parte das instituições bancárias tendo em conta o rendimento presente e o esperado no futuro dos consumidores, de forma a garantir que se minimiza o risco de incumprimento destes mesmos.


José Pedro Neves

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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