Com a situação pandémica que vivemos há cerca de 2 anos, uma parte da população ativa portuguesa foi introduzida no trabalho remoto. Há quem diga que a flexibilidade e o teletrabalho são agora mais valorizadas pelos portugueses, mas será que este regime laboral veio para ficar?
Antes de mais, é
necessário apontar que o trabalho remoto não é uma possibilidade para todos os
portugueses. Segundo a PORDATA, em 2020, cerca de 30% da população estava
empregada nos setores primário e secundário, cujas atividades por norma não
possibilitam este regime. Entre abril e junho deste ano, 717 mil pessoas
estiveram em teletrabalho em Portugal, ou seja, 14,9% da população ativa
portuguesa (INE, 2021). Comparando a nível regional com outros países da UE, a região
da Helsínquia era a zona com maior percentagem de pessoas a trabalhar remotamente
em 2020, estando a Área Metropolitana de Lisboa em 10º lugar, com 23% (EUROSTAT,
2021).
Uma pesquisa da Robert
Walters, de maio de 2020, mostra que 44% dos profissionais introduzidos neste
regime acredita que a sua produtividade aumentou com o teletrabalho e apenas 4%
dos profissionais deseja voltar ao trabalho de escritório em regime full
time.
No meu ponto de vista, entendo
a atratividade do trabalho remoto e acredito que há grandes vantagens desta
nova forma de trabalho: a maior flexibilidade que o trabalhador ganha em
relação aos horários de trabalho – agrada-me a possibilidade de trabalhar e
viajar ao mesmo tempo, por exemplo -; a possibilidade de trabalhar num ambiente
mais relaxado e confortável; a oportunidade de passar mais tempo em família; e a
desnecessidade de deslocações para o local de trabalho. Contudo, consigo
facilmente pensar também em desvantagens e refutar quase todos os pontos que
afirmei: nem todas as pessoas tem a possibilidade de criar as condições
necessárias para trabalharem em casa; as constantes distrações que existem no
nosso lar e que criam desatenção do trabalho, o que leva a ter que trabalhar
mais horas, por exemplo; e a dificuldade que é separar a vida profissional da
pessoal quando ambas se encontram no mesmo espaço.
Outra questão que é
levantada é a seguinte: estarão os portugueses dispostos a abdicar de uma
percentagem do seu salário para trabalhar em casa? Segundo o diretor-geral de
operações do ManpowerGroup, “no contexto nacional, os salários não são
suficientemente atrativos para que alguém troque um salário mais alto por um
salário inferior pela ambição de ficar a trabalhar a partir de casa”, estando a
discussão no sentido contrário, isto é, haver compensações para os
trabalhadores remotos.
Como diz o ditado, é
difícil agradar a gregos e a troianos. Contudo, acredito que o modelo
híbrido de trabalho pode ser a solução, ou seja, combinar o modelo remoto e
presencial será vantajoso tanto para quem prefere regressar ao escritório como
para quem quer continuar a trabalhar remotamente. Na minha opinião, a autonomia
para escolher como, onde e quando os trabalhadores realizam as suas atividades
é um grande ponto a favor do regime híbrido, e creio que o “anywhere office”
será cada vez mais uma aposta por parte das empresas.
Com a inovação das
tecnologias, é possível trabalhar com colegas em fusos horários diferentes e,
por isso, o horário das 9h às 17h, ao qual estamos tão familiarizados hoje, não
seja mais necessário ou obrigatório. Com este regime, creio que o tempo passado
a trabalhar não seja tão valorizado, mas sim a execução das tarefas. Com o uso
das novas tecnologias é possível fazer mais com menos, isto é, o trabalhador
consegue ser mais produtivo, utilizando menos horas de trabalho.
Apesar de todas as coisas
negativas que a pandemia do COVID-19 trouxe, apresentou ao nosso país uma forma
alternativa de trabalho que parece ser útil e produtiva nos dias de hoje. Não será
um processo rápido nem fácil, mas considero que incorporar pelo menos alguma
forma de trabalho remoto trará vantagens, tanto para o empregador como para o
empregado!
Ana Rita Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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