A falta de mão-de-obra significativa no setor de transporte - causada pelo Brexit (retirada do Reino Unido da União Europeia, a 31 de janeiro de 2020) e a pandemia de Covid-19 - esvaziou as prateleiras dos supermercados e fechou postos de abastecimento em todo o país europeu.
Os problemas de abastecimento de Inglaterra – que, sendo uma ilha dificulta ainda mais a logística - não são novos. Nos últimos meses, muitas empresas do setor da alimentação têm relatado dificuldades no recebimento de produtos alimentares básicos. Com a escassez de camionistas atuando no país, o setor tem encontrado dificuldades acrescidas para entregar os combustíveis. Gigantes do petróleo como a BP e a ExxonMobil anunciaram o fecho de postos de gasolina, dada a existência de obstáculos persistentes na distribuição do combustível aos clientes.
A escassez foi comparada às crises globais da década de 1970, quando o embargo do petróleo da OPEP resultou em escassez generalizada. Mas, ao contrário disso, a carência atual não é falta de combustível e sim de motoristas qualificados para a distribuição.
Um pequeno descompasso entre a oferta e a procura criou um grande aumento na compra de gasolina. Durante a crise de abastecimento, as entregas às bombas quase não caíram, já que os níveis massivos de compra em pânico foram a principal causa da escassez de combustível, revela uma análise dos dados de combustível.
As principais empresas petrolíferas que operam, incluindo a Shell e a Greenenergy, deixaram claro que não há escassez de combustível no Reino Unido. O problema, segundo as bombas de combustível e funcionários do governo, é devido ao pânico de compras. Como resultado, a maioria das bombas de gasolina no Reino Unido ficou sem combustível, enquanto grande parte das restantes está a operar no limite.
A que se deve esta falta de meios de transportação destas matérias? Deve-se a dois fatores cruciais: os camionistas existentes estão a envelhecer, reformando-se; e, por outro lado, os jovens que almejam entrar no ramo estão a ser impedidos de obter as suas licenças de transporte devido aos diversos atrasos pós desconfinamento.
Há a acrescentar, também, que, após o Brexit, muitos motoristas europeus abandonaram o Reino Unido devido a mudanças fiscais e leis de imigração mais rígidas introduzidas neste período. Então veio a pandemia, que piorou a situação à medida que mais camionistas regressavam a casa durante os meses de bloqueio transitório. No entanto, muitos não voltaram ao Reino Unido, mesmo depois de a situação ter melhorado.
A solução do governo inglês passou pelo aumento do número de horas diárias que os camionistas podem trabalhar, tentou acelerar o processo de licenciamento e ofereceu vistos temporários a 5.000 motoristas de veículos pesados no exterior, no entanto, apenas 127 motoristas de combustível da União Europeia se candidataram, obrigando, assim, a que se optasse pela ajuda militar.
Acredito que, no entanto, a oferta não deve trazer de volta muitos dos trabalhadores ao setor de transportes estrangeiros que regressaram ao seu país de origem, já que o resto da Europa oferece melhores salários e condições de trabalho favoráveis.
Deve-se também salientar que, apesar do cenário caótico gerado no país inglês, alguns aspetos foram positivos, mesmo que a curto-prazo. Com as compras impulsivas de combustíveis geradas pelo pânico dos consumidores de que este esgotasse, impedindo os seus afazeres diários, os cofres das gigantes petroleiras aumentaram exponencialmente.
Por outro lado, numa perspetiva ambientalista, com a escassez das entregas de combustíveis, as pessoas começam a procurar outros meios de transporte alternativos, como veículos comuns, diminuindo, assim, a emissão de gases poluidores e dinamizando mais as redes de transportes coletivos, o que é benéfico para o próprio país.
Vera Silva Barros
[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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