sábado, 8 de novembro de 2008

Os porquês da internacionalização

A história económica recente enfatiza que um dos aspectos mais relevantes da economia global é o elevado crescimento do comércio internacional. No período de 1970 a 2005, o volume de comércio internacional de bens e serviços tem crescido à média anual de 6,0 por cento, bastante acima do crescimento real do PIB mundial de 3,7 por cento. Neste contexto, a internacionalização faz parte integrante das preocupações estratégicas das empresas portuguesas e assume um papel decisivo na sua competitividade e no seu desenvolvimento sustentado.
De facto, a globalização, a especialização e a internacionalização do trabalho explicam em larga escala o sentido que a economia mundial tem seguido nos últimos anos. A capacidade de efectuar transacções e assumir riscos em qualquer parte do mundo está a criar uma economia verdadeiramente global. A produção internacionaliza-se cada vez mais. As empresas procuram por todo o mundo os recursos de mão-de-obra e materiais mais competitivos. Não se limitando ao território nacional, as empresas estão a reduzir não só os custos e a inflação dos preços, mas também a criar o coeficiente de mais-valias produzidas, a forma mais ampla de avaliar a produtividade.
Entendendo um mundo plenamente globalizado como aquele em que a produção, o comércio e os serviços são impulsionados por iniciativas de risco e pela procura do lucro, o fenómeno da globalização é indicado como o causador da intensificação da competição entre empresas, conduzindo-as à ponderação riscos versus oportunidades da expansão das suas actividades para além das fronteiras nacionais. Neste âmbito, a presença dos agentes económicos portugueses nos mercados externos assume particular importância quer ela se efective através da expansão comercial quer se efective por meio de deslocação industrial. No mix de factores mais relevantes na internacionalização das empresas portuguesas, geralmente encontramos objectivos de crescimento, normalização de processos, resposta a alterações na concorrência, proximidade da procura, acesso a recursos produtivos e consolidação de relações. A par destes factores, a reduzida dimensão do mercado português é também ela apontada como justificação para as decisões de internacionalização. Por seu lado, o acesso a competências organizacionais, de gestão e tecnológicas é um modelo crescente de motivação de investimento.
Contudo, a aventura internacional das empresas não deve ser encarada levianamente. Ela envolve recursos humanos e financeiros escassos. Por essa razão, não pode ser resposta a um eventual insucesso no mercado doméstico mas sim o resultado de vantagens competitivas por meio da acumulação de experiência e conhecimento dos seus promotores, exploradas no mercado interno pela via da exportação de produtos e serviços inovadores. É condição fundamental para o sucesso que a decisão assente em estratégias globais e integradas que permitam transpor as barreiras à entrada existentes nos mercados além-fronteiras. A internacionalização portuguesa tem vindo a descobrir (por vezes à custa de alguns “naufrágios”) que é possível desbravar novos caminhos num mundo altamente competitivo e segui-los com cada vez mais segurança.
Sendo a internacionalização um processo gradual de evolução da integração das empresas em actividades de negócio internacional, é pois lícito concluir que as mais-valias obtidas situam-se, acima de tudo, ao nível da aproximação a novos e mais amplos mercados que possibilitam levar por diante objectivos de crescimento e de diversificação geográfica. Mas a internacionalização não é apenas a conquista de novos mercados. É também um desafio para a globalização das funções das organizações. As empresas, quando assumem um estatuto multinacional, procuram o acesso, em condições mais vantajosas do que aquelas que encontram no mercado doméstico a recursos que lhes possibilite a diminuição dos custos de produção e assim tornarem-se empresas mais competitivas e inovadoras à escala global.

Sérgio Monteiro
Sergio.Monteiro@delphi.com
(artigo de opinião)

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