segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Um abrigo chamado €uro

Actualmente, o sistema em que os países da zona euro estão inseridos (partilha de uma moeda, sendo que cada país possuí um governo independente) pode, com o tempo, vir a ser prejudicial para determinados países por vários motivos, sendo um deles os choques assimétricos no caso português. No entanto, para quem se encontra do lado de fora, a moeda única pode ser bastante atractiva, principalmente nos actuais tempos de turbulência.
De certo modo, os membros ricos da EU que não aderiram ao euro por opção, têm vindo a repensar essa decisão. No mês passado, a Suécia registou uma forte desvalorização da sua moeda face ao euro[1], o que levou a que o seu banco central descesse a taxa de juro[2] de modo a evitar uma recessão (em parte devido à grande importação de bens[3]). Também em Outubro, a Dinamarca aumentou a taxa de juro da coroa dinamarquesa2 que é estritamente indexada ao euro, de modo a proteger a sua moeda. Deste modo, Anders Rasmussen, primeiro-ministro dinamarquês, divulgou que pretende realizar um referendo em 2011 sobre a adesão á moeda única.
A leste da Europa, a situação é mais complicada[4]. À excepção da Eslovénia (que já adoptou o euro) e da Eslováquia (que vai aderir já em 2009), os restantes países estão longe de o conseguir. Para um país aderir ao euro é necessário que obedeça a um conjunto de critérios rigorosos[5], entre os quais baixa inflação, défice baixo e sustentável. No que toca à inflação, para este grupo de países isso é um problema sério pois as grandes taxas de crescimento a que têm obtido trás consequências, entre as quais a subida de preços. Além disso, este forte crescimento tem como origem a mão-de-obra barata que atrai investimento estrangeiro. Com esta crise, a dificuldade de acesso a crédito aumenta, o que leva a uma redução do investimento privado, o que provoca um efeito devastador neste tipo de economias. Nestas condições, as acções correctas (diminuir os impostos e aumentar o investimento público) não vão de encontro aos critérios de convergência exigidos pelo Tratado de Maastricht. Aliás, mesmo aos membros da EU que fazem parte da zona euro não lhes é conveniente a entrada de novos membros problemáticos que possam abalar o poderio da moeda única, e de momento já existem dois países membros que começam a gerar essa situação: Grécia e Itália (possuem elevadas dividas públicas).
Para algumas pessoas, a adesão ao euro traduz-se numa perda de identidade nacional. No entanto, também significa que os governos perdem o controlo directo da política monetária e da taxa de juro, o que de certo modo confere credibilidade à moeda (importante nos tempos correntes). Mesmo com a ajuda externa (FMI e por vezes também o BCE), para alguns países o uso de uma moeda independente começa a tornar-se um tormento, mas, no entanto, não resta outra solução uma vez que os critérios de convergência são apertados e rigorosos.

Helder Fernando Pereira Alves
hefepeal@hotmail.com
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[1] http://www.ecb.int/stats/exchange/eurofxref/html/eurofxref-graph-sek.en.html
[2] http://www.economist.com/markets/indicators/displaystory.cfm?story_id=12566810
[3] http://stats.oecd.org/wbos/viewhtml.aspx?queryname=481&querytype=view&lang=en
[4] http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/empresas/pt/desarrollo/959606.html
[5] http://www.bportugal.pt/euro/emudocs/bce/faq_alargamento_p.htm

(artigo de opinião)

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