terça-feira, 4 de novembro de 2008

Qual choque tecnológico?

Nas legislativas de 2005, o Eng. José Sócrates anunciou na sua campanha um Plano Tecnológico que se baseava no conhecimento, na tecnologia e na inovação. Passados três anos de governação, o que podemos observar? Vejamos um exemplo para cada ponto do Plano Tecnológico.
Tendo em conta a eficaz prossecução do conhecimento, o actual governo implementou um sistema de avaliação de professores, em Janeiro de 2007, que há muito se julgava ser necessário no sistema de ensino português, não só por questões de qualidade, mas também de equidade, visto que todos os trabalhadores estão sob avaliação constante. O sistema de avaliação tem em vista promover melhores resultados escolares e de qualidade de aprendizagem, e definir uma regulação mais rigorosa de progressão na carreira, entre outros.
Com este novo método, os melhores professores são distinguidos, e têm possibilidade de progressão na carreira. Dos objectivos a atingir destacam-se os resultados escolares, a redução do abandono escolar, apoio aos alunos, etc. É de aplaudir tal medida tomada pelo Estado mas, infelizmente, assistiu-se a um “facilitismo” tal que, num só ano, as notas dos exames nacionais dispararam para médias positivas, bem acima da humilde classificação de dez valores, inclusive em disciplinas que nunca o haviam atingido. Estes resultados são a consequência óbvia de um processo que não foi acompanhado por profissionais idóneos. Os professores acabaram por desenvolver comportamentos oportunistas, avaliando de forma incorrecta os alunos, para benefício próprio.
Foi também anunciado o Programa Novas Oportunidades que tinha como principal objectivo oferecer educação diversificada, a jovens e adultos com baixos níveis de escolaridade, aproveitando, no caso dos adultos, os conhecimentos adquiridos na sua vida activa.
Assistimos, porém, a uma incoerência entre o nível curricular obtido e a sabedoria. Senão vejamos, no ensino dito normal um aluno demora aproximadamente um ano civil para concluir um ano lectivo. Se um aluno, que abandonou o ensino precocemente, poder concluir o secundário num período inferior a três anos através deste programa, não vai aumentar de forma relevante a sua literacia, apenas o seu currículo. Desta forma, quaisquer aumentos de produtividade previstos, não são passíveis de serem atingidos.
Desta forma, conclui-se que este programa visa aproximar Portugal, onde apenas 53,4% da população concluiu o 12ºano, da média da UE que ronda os 78%.
Vejamos, finalmente, a componente tecnológica. O Programa e-Escolas permite a aquisição, a mais de 500mil pessoas, de computadores com banda larga, potenciando o acesso ao conhecimento. Este programa, nas suas diversas variantes, é dirigido aos alunos do ensino básico, secundário, aos professores, e aos participantes do Programa Novas Oportunidades. Apenas ficam de fora os estudantes universitários, que aparentemente não necessitam de computadores. Questiono-me, para que necessitam alunos do primeiro ciclo de um Magalhães? Segundo me recordo, porque também eu já o frequentei, não há trabalhos de pesquisa. Para os alunos até ao nono ano, a diferença não será muita, e ainda que necessitem de utilizar a Internet, será necessário fornecer um computador a todos os alunos? Não seria mais sensato equipar vastas salas de computadores nas escolas, com acesso à Internet, disponíveis para todos os alunos, e utilizar o resto do budget para que as escolas não estivessem num estado lastimável de degradação, ou até garantir que os alunos mais desfavorecidos tivessem pelo menos uma refeição completa por dia?

Em tempos de crise, o governo deveria deixar de lado políticas eleitoralistas em prol do suposto choque tecnológico, e garantir o bem-estar, cada vez mais deficitário, da população portuguesa.

Sofia Newton Faria
sofianewton@hotmail.com

(artigo de opinião)

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