quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A mestria política de António Costa

Esta semana ficou marcada pela notícia de que a Standard & Poor´s decidiu, tendo por base a performance económica e orçamental, retirar a divida portuguesa do nível lixo para investimento (BBB-). Esta excelente notícia é fruto dos sacrifícios necessários que os portugueses tiveram que enfrentar para que o país saísse da situação dramática que vivia, o risco de bancarrota face às contas públicas e uma economia inanimada. Além disso, o mérito também deve ser dado aos presidentes da república (Cavaco e Marcelo) e a todos os partidos políticos, que perceberam que se tinha de apertar o cinto e seguir as regras europeias, continuando o caminho do controlo das contas públicas.
Relativamente ao governo atual, António Costa, neste tempo que teve até hoje como primeiro ministro de Portugal, demonstrou algo que o caracteriza muito: a sua grande habilidade política. Ele, juntamente com o seu ministro das finanças, negociou, de forma habilidosa, com os partidos de extrema-esquerda, e formou uma coligação que derrubasse o governo de Passos/Portas, diminuísse a contestação social e fizesse com que o BE e o PCP engolissem sapos da austeridade, criando a narrativa do ´´virar da pagina da austeridade´´. E como o conseguiu? Basicamente, substituiu impostos diretos por impostos indiretos e deu rendimentos às famílias e em troca registaram-se valores recordes de cativações. E no fim, resultou.
Todos os dias, vemos notícias sobre o excelente crescimento do PIB, da redução do défice e da dívida pública (em função do PIB). E quem acaba por ganhar acima de tudo? O PS, que já está perto da maioria absoluta, segundo as sondagens, com o discurso de ´´novas politicas´´. E quem perde? Os outros partidos políticos. O PCP e o BE, visto que o seu discurso consistia na necessidade de ´´libertamo-nos das garras da UE´´, que era culpa do euro e da NATO e que era preciso uma restruturação da dívida para que a nossa economia crescesse. E, por último, os partidos da direita, que apesar do bom trabalho que fizeram na implementação das reformas que foram importantes, falharam nas suas previsões no que diz respeito ao diabo.
Em suma, a esquerda parece estar a aplicar uma receita que, na sua essência, é de direita, (austeridade através dos impostos diretos) fingindo que é uma receita de esquerda (austeridade através dos impostos indiretos), e temos os partidos da direita a ter que engolir o seu sucesso. Além disso, a discussão sobre o porquê de estar a correr bem continua completamente enviesada, o que pode vir a ser muito mau já que, quando chegar a próxima crise, vamos cometer os mesmos erros de sempre, porque quem teve o mérito de chegar até aqui esconde o caminho por onde veio, o caminho da austeridade.

Paulo Francisco Ferreira Lopes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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