A empresa Yupido, até há
bem pouco tempo desconhecida de todos nós, tem feito correr muita tinta na
imprensa nacional e internacional, e provocado bastante polémica à volta da sua
atividade e sobretudo do seu capital social astronómico. Para percebermos
melhor todo o aparato formado à volta desta empresa, analisemos o seu
historial.
Foi fundada a 20 de julho
de 2015 e, apesar de ser constituída com 35 mil euros efetivos, o capital
social inicial era de 243 milhões de euros, baseados num bem intangível, um software inovador de gestão para
empresas. Só este facto já despertou o interesse de um Professor da
Universidade do Minho que analisava a base-de-dados empresariais Amadeus para
as suas investigações, tendo depois tornado público este caso.
Seis meses após a
primeira avaliação elaborada pelo Revisor Oficial de Contas, a mesma empresa
sofreu um aumento de capital, desta vez justificado por “uma plataforma digital
inovadora de armazenamento, proteção, distribuição e divulgação de todo o tipo
de conteúdo media”, valendo hoje nada mais nada menos que 28,8 mil milhões de
euros. Fazendo as contas, este valor megalómano corresponde a 16% do Produto
Interno Bruto português, equivalente a duas vezes a Galp.
Apesar do ROC que efetuou
esta avaliação ter dito que o que o motivou a fazê-la desta forma foi o facto
de o projeto lhe ter lembrado Steve Jobs, sejamos realistas e façamos uma
análise clara da situação. Os sócios da empresa até podem acreditar que o seu software será o próximo “boom” no
mercado tecnológico e que os seus algoritmos são distintos e únicos, mas acho
no mínimo imprudente atribuir um valor gigantesco a um produto que ainda nem
sequer passou pelo mercado, que ainda não vendeu uma única unidade. Temos
vários exemplos neste setor de empresas que esperavam ser o próximo grande
sucesso mas que se tornaram em grandes fracassos com as opções do consumidor
final, como é o caso do “hi5”, que foi esmagado pelo “Facebook”. Não nos
podemos esquecer que um produto só tem qualidade se estiver de acordo com as
necessidades e os anseios do consumidor. Se neste caso todos o desconhecemos
por estar envolto em secretismo e ainda não passou pelo teste de mercado, como
poderemos afirmar que vale este valor?
Outra questão
interessante que poderemos colocar é a de como irá a Yupido procurar
investimento, que certamente terá de o fazer, mostrando o seu balanço
contabilístico baseado na expetativa do seu potencial e não em indicadores
concretos de mercado? Só o simples facto de ter um valor tão elevado já se
torna um fator de exclusão para um “business angel”, que investe geralmente em start-ups tecnológicas com potencial de
crescimento, pelo que a única solução aparente seria ser adquirida por um grupo
suficientemente grande ou uma entrada na bolsa.
Mais recentemente, a
Yupido está a ser investigada por quatro entidades, Ministério Público, a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM),
Ordem dos Revisores Oficiais de Contas e Polícia Judiciária, o que levou também
à exoneração dos auditores que a avaliaram por considerarem que existia falta
de transparência nas informações que lhes foram prestadas. A verdade é que uma
empresa sem vendas nem funcionários, com uma área de atividade que não se
entende ao certo qual é e com um valor de mercado tão elevado teria de ser
investigada e toda esta situação terá de ser escrutinada para se perceber se
estamos perante alguma ilegalidade ou não.
Este
caso aparenta ser mais grave mas não é o primeiro no setor. É frequente
existirem avaliações muito inflacionadas. Assim, torna-se ainda mais importante
tentar detetar e eliminar este tipo de situações, e fazer com que sejam
exemplos, para todos percebermos que, por vezes, os dados fornecidos não são os
mais realistas e pensarmos duas vezes antes de investir, se for esse o caso.
Diana Oliveira Sá Neiva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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