sábado, 23 de setembro de 2017

A procura e a oferta habitacional estão desajustadas

      Há uns anos, estávamos acostumados a ver várias construções habitacionais ao abandono em plena fase de construção, devido à crise económica e à pouca disponibilidade das instituições financeiras para a concessão de crédito habitacional, pelo alto risco que representavam.
         Com a recuperação económica estas construções retomaram e o mercado habitacional português está a avançar a um ritmo acelerado e neste momento a procura supera a oferta. A falta de novas construções habitacionais e carteiras de arrendamento a preços que as famílias portuguesas possam pagar estão a causar um desajuste entre a procura e a oferta. Desta maneira, é fundamental que as novas construções regressem.
Os dados da avaliação bancária divulgados em Junho deste ano pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que o valor da média nacional por metro quadrado de um imóvel é de 1.111 euros, o que representa uma subida superior a 300 euros nos últimos três anos. Uma das razões apontadas para esta grande subida é a absorção dos centros históricos pelo turismo, com a reabilitação e transformação de casas de alojamento em casas destinadas ao turismo, opção de muitas famílias para fazerem fase à crise. Desta forma, muitas famílias vêem-se obrigadas a mudarem-se para as periferias, onde mesmo aí já há falta de disponibilidade, pois atualmente a valorização habitacional é uma realidade que se estende a quase todo o país. O rendimento das famílias portuguesas mantem-se, o que significa que o poder de compra/arrendamento das famílias não irá aguentar mais aumentos dos imóveis habitacionais.
         O que precisamos neste momento não é de culpar o turismo, que foi um dos grandes motores da recuperação económica do país, mas sim definir uma estratégia que integre os setores do turismo e da habitação residencial, de forma a retirarmos pressão dos preços do imobiliário residencial. Posto isto, temos de potenciar novas soluções habitacionais e a colocação de mais imóveis no mercado. Seria importante atuar com proprietários de prédios devolutos e terrenos desocupados, assim como atrair grandes investidores para dinamizar o setor da construção habitacional, que constituam carteiras de imóveis para venda e arrendamento, ajustados às capacidades financeiras dos portugueses.
         O nosso atual governo está atento a este problema e já tomou medidas para que esta situação não se torne incomportável. Alargou o programa de arrendamento jovem, Porta 65, dos 30 para os 35 anos, podendo este estender-se até aos 37 anos. Uma outra medida foi na remodelação do governo, a criação de um secretário de estado da habitação, que voltou a existir após mais de uma década, que fica integrado dentro do ministério do ambiente, que já tutelava questões relacionadas com a habitação. António Costa considera necessário promover a oferta da habitação para arrendamento acessível, focada nas classes médias e em especial nas novas gerações.
         No entanto, estas medidas poderão não ser suficientes para impulsionarem o desenvolvimento e o financiamento de novas habitações residenciais, e assim reduzir o desajuste entre a oferta e procura. Está a nossa geração condenada a pagar preços exorbitantes pela “independência”?

Carla Susana Peixoto Teixeira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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