A
descentralização é um tema que surge frequentemente na discussão política. Ao
longo das últimas décadas, os constantes ataques entre partidos, a discórdia e
as más decisões políticas foram servindo como entrave ao desenvolvimento do
processo de descentralização.
Descrita como uma das grandes reformas
a fazer pelo atual governo, a verdade é que já lá vão dois anos e o impasse no
parlamento vai adiando os avanços do processo. ”O PS é o motor da
descentralização, o PSD diz que sim, mas não avança e os outros têm sempre medo
de dar mais poderes às freguesias e municípios”, afirma o secretário-geral do
PS, António Costa, e, como consequência, Portugal não progride.
A descentralização consiste em
partilhar o poder que está centralizado com as autarquias locais, reforçando
assim a autonomia local e abrindo portas à desejada transferência de
competências da administração direta e indireta do Estado para órgãos mais
próximos das pessoas. Há áreas em que as autarquias são muito mais eficientes a
gerir do que o Estado central, e o enquadramento na realidade territorial e
proximidade aos cidadãos tornam-se vantajosos para uma melhor perceção dos
problemas e aptidão para adaptar a provisão de bens e serviços às preferências
dos cidadãos. A saúde, a educação e a ação social são alguns dos domínios onde
a excessiva centralização de competências na administração direta ou indireta
do Estado não permite uma atuação tão ágil por parte da administração pública
aos problemas e necessidades dos cidadãos, pondo em causa a eficácia e
eficiência das soluções adotadas.
Observando
os países da União Europeia, verifica-se um padrão bastante claro: os países
mais desenvolvidos são os mais descentralizados enquanto países como Portugal e
a Grécia, ambos associados a situações marcadas por dificuldades em responder
aos desafios em tempos de crise, se encontram no grupo dos mais centralizados.
Isto só vem mostrar que o desenvolvimento e a descentralização apresentam uma
relação direta que, nitidamente, deve ser explorada no território português.
Posto
isto, eu acredito que, se conseguirmos avançar com o processo de
descentralização e se conseguirmos equilibrar o financiamento com o alargamento
das competências das autarquias, podemos estar a abrir as portas para um futuro
mais próspero. Portugal é um país pequeno mas mesmo assim não se consegue
chegar a todos os cidadãos, e estes cada vez mais exigem uma política que
responda a muitos dos seus problemas quotidianos, o que só será possível
através de uma efetiva descentralização política e económica. Competirá ao
governo monitorizar os resultados obtidos pelas autarquias e garantir que os
recursos são bem utilizados.
Aos indivíduos que não apoiam a
descentralização e não confiam no poder local, faço minhas as palavras do atual
Ministro Adjunto de Portugal, Eduardo Cabrita: “tenho a certeza de que os
nossos autarcas portaram-se em tempos de crise muito melhor do que os nossos
banqueiros” (banqueiros e não só).
Ana Catarina Silva Teixeira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário