segunda-feira, 18 de setembro de 2017

“Rumo à propina zero” – um movimento estudantil


A educação é um fator determinante em todas as áreas da nossa vida. É um direito fundamental a que todos devem ter acesso por questões de equidade, já que é por isso que é fornecido pelo Estado, ainda que seja um bem privado. Contudo, nem sempre é isso que acontece, sendo exemplo disso as propinas pagas pelos estudantes do ensino superior.
Ao longo do tempo, a questão das propinas tem vindo a intensificar-se no seio dos estudantes, desencadeando grandes discussões e protestos por parte de algumas universidades. Este ano, sendo mais um ano em que esta temática é debatida, pois já em 2016 o movimento estudantil “Rumo à propina zero” lutou pela gratuitidade do ensino superior, cerca de 30 instituições universitárias lançaram uma petição pela abolição das propinas, tendo como objetivo conseguir uma sociedade mais equitativa.
Ainda que estas sejam uma forma de financiamento do ensino superior, parece-me que assumem um grande peso no orçamento familiar, pois ao longo dos últimos 25 anos tem-se assistido a um aumento exorbitante dos seus custos, que nem todos conseguem suportar. Portugal é, assim, um dos países europeus em que as famílias mais contribuem para o financiamento das estruturas académicas, o que pode ser comprovado por estudos realizados pela OCDE, em que o Estado paga apenas cerca de 62% das despesas com a educação, enquanto, por exemplo, no Luxemburgo apenas cerca de 5% é pago pelas pessoas enquanto privados. Isto faz com que as propinas, enquanto mecanismo de financiamento, sejam também um mecanismo discriminatório no acesso ao ensino superior.
         Há estudantes que se veem obrigados a desistir dos estudos porque não conseguem suportar os encargos financeiros decorrentes das propinas, sendo que muitos contraem créditos de forma a evitar o abandono e outros nem sequer equacionam a possibilidade de entrarem no ensino superior. Ainda, uma grande parte tem que trabalhar para conseguir pagar os custos universitários, o que, no meu ponto de vista, pode dificultar o processo de aprendizagem e o foco nos estudos. Mas, um país que tem uma tão insistente necessidade de reforçar o seu conhecimento que Portugal tem, não pode sujeitar os estudantes e as suas famílias a um esforço financeiro tão significativo.
Sei que os serviços de ação social são uma forma de atenuar as dificuldades sentidas por parte das famílias e que acompanharam o aumento do valor das propinas, reforçando a dotação orçamental, mas será que foi numa proporção suficiente? Na minha perspetiva, as bolsas de estudo são incapazes de assegurar que todos os estudantes tenham a possibilidade de ingressar no ensino superior e finalizem o seu curso, quer no número de pessoas que abrangem, quer nos montantes e condições da sua atribuição.
         Assim, e como é do interesse de todos nós que haja um aumento da qualificação do trabalho, já que aumenta a competitividade da economia, penso que o ensino superior deveria ser gratuíto, para que os estudantes o possam usufruir por mérito e não deixassem de o frequentar por existirem barreiras financeiras. Já Paul Romer, nobel da Economia e professor da Universidade de Nova York, dizia: “Quando olhamos para trás e comparamos o desempenho económico de 50 países e um grande número de variáveis, o que salta aos olhos é o poder da educação”.

Fabiana Alexandra de Freitas Fernandes Martins

http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/etica-e-responsabilidade-social-nas-empresas/31235/

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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