“O pior resultado de Copenhaga seria um mau pacto, que fechasse as portas a futuras oportunidades e atrasasse ainda mais a urgente colaboração internacional para refrear as alterações climáticas.”, Miquel Muñoz Cabré*
O tema das alterações climáticas está na ordem do dia. É cada vez mais comum a discussão deste assunto entre a opinião pública tendo já adquirido um grande destaque na agenda política, ganhando peso com a crise, com os governos a canalizar milhões para as energias renováveis e a avançar com novas leis para a promoção da eficiência energética.
As grandes prioridades de cada país são o assegurar do seu crescimento económico e a salvaguarda dos seus interesses nacionais. Todos os países têm o mesmo sonho de desenvolvimento fundamentado no actual paradigma de crescimento económico. Mas será esta via sustentável? Actualmente existe uma maior consciência, sobretudo nos países desenvolvidos, da necessidade de caminhar para um desenvolvimento sustentável mas a questão com que se deparam é: como encontrar uma via de desenvolvimento sustentável para uma população de 9,2 milhões de pessoas prevista para 2050?
A pressão exercida sobre os recursos naturais é maior do que a exercida pela geração anterior. A capacidade dos ecossistemas, do qual dependemos para viver com dignidade, está a diminuir de dia para dia enquanto que a população mundial não pára de crescer num planeta que perde diversidade biológica, que esgota a produtividade dos solos, que contamina e desperdiça recursos hídricos e que continua, insistentemente, a depender de fontes de energias não renováveis. Temos que cooperar na gestão racional dos recursos se não quisermos sofrer com as consequências da subida da temperatura, do nível dos mares, do aumento das catástrofes naturais, dos riscos de instabilidade social acrescida pela multiplicação dos refugiados ambientais, entre outras. Segundo a Fundação de Kofi Annan, existem 300.000 mortes, por ano, provocadas pelo aquecimento global.
No próximo dia 7 de Dezembro inicia-se, em Copenhaga, a Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas na qual se espera que resulte um tratado substituto do Protocolo de Quioto. Mas esta não é a primeira, mas sim, a 15ª Conferência das Partes, isto é, a reunião de todos os países que desde 1992 foram aderindo à Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas. Para muitos, esta cimeira está condenada ao fracasso uma vez que sem o compromisso dos EUA não haverá acordo. Apesar de terem apenas 4% da população mundial, os EUA emitem 22% do total do carbono para a atmosfera.
Ao longo da última década a União Europeia (UE) tem estado na liderança do combate às alterações climáticas. Dos grandes emissores, só a UE apresenta uma estratégia ambiciosa de redução de emissões para 2020, e até mesmo para 2050. Mas isto não é suficiente para diminuir as emissões e para chegar a um acordo, pois sem os EUA e a China nenhuma mudança significativa ocorrerá, já que o seu peso bruto em emissões é esmagador: juntos são responsáveis por 40% do total das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.
Portugal, por sua vez, implementou o Fundo Português de Carbono que se destina a apoiar programas, projectos ou agrupamento de projectos, no território nacional, que visem a redução de emissões ou remoções por sumidouros de gases com efeito de estufa previstos no Protocolo de Quioto, contribuindo para o cumprimento dos objectivos nacionais em matéria de combate às alterações climáticas. Este programa, com um orçamento de 18 milhões de euros, prevê apoiar projectos nos sectores da energia, transportes, resíduos, indústria, agricultura, entre outros sectores.
Em Copenhaga, mais do conseguir um tratado que substitua o Protocolo de Quioto, há que procurar chegar a um acordo político entre os vários países. E não basta assinar um acordo. Terá de haver um mecanismo para verificar se os países cumprem as metas planeadas e sanções para aqueles que não cumprirem os seus compromissos.
O mundo vai ter de lidar com as alterações climáticas, o que vai obrigar a investimentos muito elevados. Se não se chegar a um acordo estaremos no risco de estar perante um “retrocesso político” nas medidas de combate às alterações climáticas. Quando se trata do bem de todos é mais difícil chegar a um consenso. Mas quanto mais tarde se começar a adoptar medidas, depois mais depressa se terá de agir.
Isabel Freitas
Referências bibliográficas:
Revista Visão nº 870
Jornal de Negócios, 26 de Outubro de 2009
O tema das alterações climáticas está na ordem do dia. É cada vez mais comum a discussão deste assunto entre a opinião pública tendo já adquirido um grande destaque na agenda política, ganhando peso com a crise, com os governos a canalizar milhões para as energias renováveis e a avançar com novas leis para a promoção da eficiência energética.
As grandes prioridades de cada país são o assegurar do seu crescimento económico e a salvaguarda dos seus interesses nacionais. Todos os países têm o mesmo sonho de desenvolvimento fundamentado no actual paradigma de crescimento económico. Mas será esta via sustentável? Actualmente existe uma maior consciência, sobretudo nos países desenvolvidos, da necessidade de caminhar para um desenvolvimento sustentável mas a questão com que se deparam é: como encontrar uma via de desenvolvimento sustentável para uma população de 9,2 milhões de pessoas prevista para 2050?
A pressão exercida sobre os recursos naturais é maior do que a exercida pela geração anterior. A capacidade dos ecossistemas, do qual dependemos para viver com dignidade, está a diminuir de dia para dia enquanto que a população mundial não pára de crescer num planeta que perde diversidade biológica, que esgota a produtividade dos solos, que contamina e desperdiça recursos hídricos e que continua, insistentemente, a depender de fontes de energias não renováveis. Temos que cooperar na gestão racional dos recursos se não quisermos sofrer com as consequências da subida da temperatura, do nível dos mares, do aumento das catástrofes naturais, dos riscos de instabilidade social acrescida pela multiplicação dos refugiados ambientais, entre outras. Segundo a Fundação de Kofi Annan, existem 300.000 mortes, por ano, provocadas pelo aquecimento global.
No próximo dia 7 de Dezembro inicia-se, em Copenhaga, a Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas na qual se espera que resulte um tratado substituto do Protocolo de Quioto. Mas esta não é a primeira, mas sim, a 15ª Conferência das Partes, isto é, a reunião de todos os países que desde 1992 foram aderindo à Convenção das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas. Para muitos, esta cimeira está condenada ao fracasso uma vez que sem o compromisso dos EUA não haverá acordo. Apesar de terem apenas 4% da população mundial, os EUA emitem 22% do total do carbono para a atmosfera.
Ao longo da última década a União Europeia (UE) tem estado na liderança do combate às alterações climáticas. Dos grandes emissores, só a UE apresenta uma estratégia ambiciosa de redução de emissões para 2020, e até mesmo para 2050. Mas isto não é suficiente para diminuir as emissões e para chegar a um acordo, pois sem os EUA e a China nenhuma mudança significativa ocorrerá, já que o seu peso bruto em emissões é esmagador: juntos são responsáveis por 40% do total das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.
Portugal, por sua vez, implementou o Fundo Português de Carbono que se destina a apoiar programas, projectos ou agrupamento de projectos, no território nacional, que visem a redução de emissões ou remoções por sumidouros de gases com efeito de estufa previstos no Protocolo de Quioto, contribuindo para o cumprimento dos objectivos nacionais em matéria de combate às alterações climáticas. Este programa, com um orçamento de 18 milhões de euros, prevê apoiar projectos nos sectores da energia, transportes, resíduos, indústria, agricultura, entre outros sectores.
Em Copenhaga, mais do conseguir um tratado que substitua o Protocolo de Quioto, há que procurar chegar a um acordo político entre os vários países. E não basta assinar um acordo. Terá de haver um mecanismo para verificar se os países cumprem as metas planeadas e sanções para aqueles que não cumprirem os seus compromissos.
O mundo vai ter de lidar com as alterações climáticas, o que vai obrigar a investimentos muito elevados. Se não se chegar a um acordo estaremos no risco de estar perante um “retrocesso político” nas medidas de combate às alterações climáticas. Quando se trata do bem de todos é mais difícil chegar a um consenso. Mas quanto mais tarde se começar a adoptar medidas, depois mais depressa se terá de agir.
Isabel Freitas
Referências bibliográficas:
Revista Visão nº 870
Jornal de Negócios, 26 de Outubro de 2009
*Investigador do Centro Pardee para o Estudo do Futuro da Universidade de Boston, nos EUA e membro do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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