sexta-feira, 30 de novembro de 2018

VIH e SIDA: Preocupante?

Facilmente se confunde VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana – e a SIDA – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. Assim sendo, a infeção por VIH pode levar ao aparecimento de SIDA, visto esta ser a condição que pode decorrer da infeção desse vírus.
Deste modo, é possível contrair VIH sem sofrer da doença, sendo que muitas pessoas com infeção por VIH vivem durante vários anos sem desenvolver SIDA.
Relativamente à transmissão de VIH, esta é feita unicamente através de três vias: sanguínea, relações sexuais não protegidas e, por último, de mãe para filho (durante a gravidez, através do parto ou amamentação).
No passado dia 27 de novembro, a Ministra da Saúde, Marta Temido, proposta para assumir o cargo pelo Primeiro-Ministro e aceite pelo Presidente da República em outubro de 2018, afirmou que o estudo da infeção por VIH mostrou estar-se a passar de um grupo populacional para o outro, o que vai obrigar a alteração das respostas atuais por parte do Governo para combater a transmissão de VIH e SIDA. Esta declaração foi feita em Vila Nova de Gaia após o relatório apresentado pelo Instituto Nacional de Saúde, intitulado como “Infeção VIH e SIDA”.
Segundo o relatório de 2017 realizado pelo SNS, os diagnósticos ocorrem maioritariamente (99,6%) em indivíduos com idade superior a 15 anos, dos quais 46,4% residem na Área Metropolitana de Lisboa. Em 2017, foram diagnosticados 1068 novos casos de infeção por VIH em Portugal.
Nesse relatório, 14,8% dos que contrariam a infeção apresentavam patologia indicadora de SIDA. É ainda possível afirmar que em 98,1% dos casos a transmissão ocorreu por via sexual, com 59,9% a referirem contacto heterossexual. No caso de homens que mantêm relações com homens (HSH), estes representam 51% dos casos diagnosticados. As infeções associadas ao consumo de drogas injetadas constituíram 1,8% dos novos diagnósticos em que é conhecida a via de transmissão, nesse ano.
É ainda possível referir que a maioria dos casos registou-se em homens (72%), sendo a sua idade mediana de 39 anos.
No diagnóstico que ocorreu entre 1893 e final de 2017, verifica-se que se encontram registados cumulativamente 57913 casos de infeção por VIH, dos quais 22102 casos em estado SIDA. Para além disso, consta também que estão registados 14519 óbitos em casos de infeção por VIH.
O relatório apresentado apresentou que os novos casos que surgiram afetam, maioritariamente, o grupo etário entre os 25 e os 29 anos. Deste modo, afirma que o facto de “o foco da doença estar a passar de uma determinada população para outra tipologia populacional leva-nos a adaptar as respostas e a focar a atenção naquilo que está a ser a evolução e transmissão da doença VIH para outros grupos populacionais”.
Para além disso, existe um aumento de 29% dos casos entre homens homossexuais.
No entanto, um facto bastante curioso, foi de que a infeção e doença, em consumidores de drogas injetadas, alcançou um mínimo nunca antes conseguido, tendo recuado 45% (VIH) e 90% (SIDA), quando comparado com 2006.
Entre 2006 e 2016, a tendência tem sido decrescente. Em Portugal, o número de diagnósticos de VIH e SIDA diminui de 40% e de 60%, respetivamente. Por outro lado, Portugal continua a apresentar uma das taxas mais elevadas da União Europeia.
O nosso país tem feito um percurso exemplar na prevenção, deteção, tratamento e cuidados dos doentes da infeção. Portugal atingiu praticamente todos os objetivos estabelecidos no programa das Nações Unidas para o VIH/SIDA – ONUSIDA, conhecido como 90/90/90. Este programa pretende que, até 2020, 90% das pessoas com VIH/SIDA estejam diagnosticadas, 90% dos diagnosticados estejam em tratamento e que 90% dos que estão em tratamento atinjam uma carga viral indetetável ao ponto de ser impossível a transmissão da infeção.
Em modo de conclusão, é necessário continuar com estes estudos de modo a conseguir perceber o comportamento de ambas as variáveis em estudo, para contrair tanto a infeção como a doença visto que afeta bastantes portugueses e os números apresentados são relativamente preocupantes quando percebemos o impacto que causa em Portugal e quando comparamos com países com caraterísticas semelhantes às nossas.
Francisca Nogueira da Cunha

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Braga: cidade para visitar, viver e investir?

Denominada nos seus primórdios de Bracara Augusta, esta tem vindo a destacar-se com um crescimento bastante acentuado em várias perspetivas. Isto traduz-se num dinamismo a nível nacional, o que lhe permite ser comparada com inúmeras cidades europeias. Prova desse dinamismo foi a classificação de melhor cidade para se viver em Portugal no ano de 2016, bem como o 1º lugar na categoria Norte com mais de 20 mil habitantes nos “Prémios Municípios do Ano- Portugal 2018”.
Como já enunciado, o sucesso de Braga fez-se sentir também a nível europeu uma vez que foi considerada, entre 83 localidades europeias, como a 12ª com melhor qualidade de vida, segundo a Comissão Europeia, no ano de 2016. Neste Eurobarómetro referente à qualidade de vida são utilizados critérios como: satisfação e visão dos cidadãos no que diz respeito à sua cidade, questões ambientais, situação pessoal do entrevistado e, por fim, as três questões mais importantes que se colocam na sua cidade perante10 questões.
No que respeita a cuidados de saúde, a cidade dos arcebispos ocupou a segunda posição quando comparada aos restantes municípios portugueses. Aliás, o Hospital de Braga, uma parceria público-privada, foi considerado o melhor do país no ano de 2017 perante a excelência clínica, segurança do doente, adequação e conforto das instalações, focalização no utente e satisfação do mesmo. Este hospital, no ano em questão, realizou 452.553 consultas externas e a satisfação demonstrada no inquérito feito pelo hospital aos seus utentes no campo das 5 linhas de atividade foi notório: 84,8% de satisfação.
Já no que concerne a serviços culturais, destacou-se como a quarta cidade europeia que melhor avalia os serviços culturais ao seus dispor e, neste sentido, podemos destacar o papel, por exemplo, do Theatro Circo, que em 2017 gerou uma receita de 1.799.287,00€, ou até mesmo das atuais promoções nos bilhetes de cinema para atrair cada vez mais pessoas ao cinema. Mais recentemente, a construção do Altice Fórum Braga promete trazer inúmeros visitantes a Braga bem como proporcionar atividades culturais aos residentes pelo que será um ponto forte para os próximos anos.
Além disso, atividades como é o caso da Noite Branca possibilitam aos turistas e bracarenses momentos de lazer e cultura. Esta conta com mais de 500 mil pessoas e destaca-se como uma atividade que permite um maior dinamismo à cidade.
Por outro lado, foi considerada a terceira com maior evolução na recetividade a cidadãos estrangeiros e na avaliação que faz dos seus espaços verdes.
         A grande maioria dos bracarenses (97%) vivem felizes na cidade e, por isso, em 2016, a mesma ficou colocada na terceira posição relativa a esse parâmetro, apesar de a partilhar com outras grandes cidades, como é o exemplo de Málaga ou Estocolmo. Tal sucede devido a um ponto bastante importante: baixo preço de habitação quando comparado com outras cidades portuguesas. Apesar de atualmente a pressão imobiliária se fazer sentir em todo o país, este continua a ser um ponto a favor na escolha de um local para viver.
         Ademais, a Universidade do Minho é também motivo de alegria uma vez que a qualidade do ensino se distingue, potenciando a implantação de empresas multinacionais com fortes necessidades de trabalho especializado, como é o caso da Bosch. São mais de 18 mil os estudantes que integram este estabelecimento, originários dos vários pontos do país bem como de outros países e são diversas as multinacionais implantadas.
         Toda a vitalidade inerente deve-se, como já seria expetável, por ser uma das mais jovens em Portugal, com 46% de jovens. Aliás, no ano de 2012, foi considerada Capital Europeia da Juventude e, já no ano de 2016, Capital Ibero-Americana da Juventude. Além disso, no presente ano é Cidade Europeia do Desporto.
Na minha opinião, Braga tem um forte potencial de crescimento em virtude dos jovens e do investimento direto estrangeiro, podendo até evidenciar um papel mais vincado na esfera nacional e, consequentemente, fazer frente a outras cidades europeias, até porque as iniciativas ao longo dos anos não estagnaram, tal como comprovado.
Concluindo, todo o sucesso da cidade resulta, além de não estar perante um declínio populacional, sendo até das que têm mais jovens residentes, do facto de ser um dos maiores criadores de empresas e, para além disso, ser um município que atrai muito os turistas, tendo em conta o rol de monumentos ricos em história, segundo a InvestBraga.
Deste modo, a resposta à inicial questão confirma-se: Braga é realmente uma cidade para visitar, viver e investir. 

Célia Catarina Barbosa Santos

Referências:
- Fórum das Cidades
- InvestBraga
- Jornal de Negócios
- Diário do Minho
- Diário de Notícias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Indústria 4.0: um desafio ou uma oportunidade?

Após atravessarmos a Primeira Revolução Industrial no século XVIII, a Segunda Revolução Industrial na transição do século XIX para o século XX e, mais recentemente, na segunda metade do século XX, a Terceira Revolução Industrial, da computação e da internet, eis que surge, nos dias de hoj, a Quarta Revolução Industrial, também conhecida como “Indústria 4.0”, que está a transformar economias, empregos, e até a própria sociedade. Trata-se da revolução da digitalização massiva, da “Internet of Things”, da aprendizagem automática (machine learning) e da robotização, como também da nanotecnologia e dos novos materiais, e da biotecnologia. Ou seja, estamos nesta ocasião a atravessar um período marcado pelas tecnologias que fundem os mundos digital, físico e biológico. A quarta revolução industrial terá um impacto monumental na economia global, sendo que todas as grandes variáveis macroeconómicas, como o PIB, investimento, consumo, emprego, comércio, inflação, etc., serão afetadas.
Assim como as revoluções que a precederam, a Quarta Revolução Industrial tem o potencial de aumentar os níveis de rendimentos globais e melhorar a qualidade de vida das populações em todo o mundo. Até hoje, aqueles que mais ganharam foram os consumidores capazes de pagar e aceder ao mundo digital. A tecnologia tornou possível a criação de novos produtos e serviços que aumentam a eficiência e a satisfação das nossas vidas pessoais. Tarefas como chamar um táxi, marcar um voo, comprar um produto, fazer um pagamento, ouvir música ou ver um filme, hoje em dia, podem ser feitas remotamente.
No futuro, a inovação tecnológica irá também levar a um “milagre” do lado da oferta, com ganhos de longo prazo na eficiência e na produtividade. Os custos de transporte e comunicação irão cair, as cadeias de oferta globais e de logística tornar-se-ão mais eficientes, e os custos do comércio irão diminuir, fazendo com que surja a abertura de novos mercados, levando ao crescimento económico.
Simultaneamente, esta revolução pode também gerar maior desigualdade, particularmente dado o seu potencial para extinguir certos mercados de trabalho. À medida que a automação substitui a mão-de-obra ao longo da economia global, a substituição dos trabalhadores pelas máquinas pode exacerbar a lacuna entre os retornos do capital e os retornos do trabalho.
Neste momento, não é possível prever qual é o cenário que tem maior probabilidade de emergir. No entanto, estou convencida que, no futuro, o talento, mais do que o capital, irá representar o fator crítico da produção. Isto irá dar origem a um mercado de trabalho cada vez mais diferenciado em “low-skill/low-pay” e “high-skill/high-pay”, o que irá levar a um aumento das tensões sociais.
Este crescimento da automação está associado à contínua pressão da concorrência no contexto da globalização. As empresas estão a ser fortemente pressionadas para atingirem níveis mais elevados de produtividade e reduzirem os custos. A concorrência impulsiona as empresas e o setor de investigação e desenvolvimento (I&D) a procurar novas tecnologias de produção com vista a criar oportunidades para que as empresas aumentem a sua produtividade e competitividade.
As mudanças tecnológicas deram origem a ganhos de produtividade enormes que, até à data, têm agravado a desigualdade a nível do rendimento. Dado que o risco económico e político do aumento da desigualdade é desde já evidente, a forma de abordar o desafio a nível da distribuição dos ganhos de produtividade constituirá um elemento importante para moldar o futuro do trabalho e da sociedade.
Nem a tecnologia, nem a separação que está associada a ela, vêm como uma força exógena sobre a qual os humanos não têm controlo. Todos nós somos responsáveis por guiar a evolução da tecnologia, nas decisões que tomamos no dia-a-dia como cidadãos, consumidores e investidores. Portanto, devemos aproveitar a oportunidade e o poder que temos para dar forma à Quarta Revolução Industrial e direcioná-la para um futuro que reflita os nossos valores e objetivos comuns. É necessário moldar um futuro que funcione para todos nós, colocando as pessoas em primeiro lugar e capacitando-as. No cenário mais pessimista e desumano, a Indústria 4.0 pode efetivamente “robotizar” a humanidade. Todavia, pode ser um complemento às melhores partes da natureza humana – criatividade, empatia, organização – levando a humanidade a uma nova consciencialização.

Inês Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ser licenciado fica caro…

O debate do Orçamento do Estado fez despertar novamente o tema do valor das propinas em Portugal. De acordo com a Comissão Europeia, Portugal é um dos países onde ter um diploma é relativamente caro. O dia 17 de novembro, dia Internacional dos Estudantes, é uma data onde muitos estudantes reforçam, através de manifestações, a sua posição sobre quanto custa estudar em Portugal, e todas as dificuldades que ultrapassam para se conseguirem formar e melhorar as suas perspetivas de futuro. Para além dos elevados preços dos quartos alugados a estudantes, surge também o debate em torno do valor das propinas, tendo sido defendido pelas associações de estudantes que esse valor deveria sofrer uma forte redução.
O Orçamento do Estado de 2019 aborda esta causa, e propõe uma descida de 200 euros na propina máxima. A medida a aplicar a partir do ano letivo 2019/2020 pretende "reforçar o ingresso de jovens no ensino superior". O ministro Manuel Heitor defendeu recentemente que “O ensino superior é de facto uma obrigatoriedade e o seu acesso deve ser livre, sobretudo ao nível da formação inicial”, explicando que o propósito de redução gradual e até mesmo a eliminação total da propina não é conseguido de forma imediata, mas tem de ser encarado como um “processo de convergência com a Europa”.
Mesmo que esta medida seja aprovada, a redução nas propinas não é suficiente, e por isso Portugal continuará no grupo dos países com propinas elevadas, de acordo com o novo estudo feito pela Eurydice. Atualmente, os valores anuais mais elevados de propinas correspondentes a cerca de 10.000 euros, e são cobrados aos alunos em Inglaterra. No caso português, as bolsas cobrem em parte ou na totalidade do valor da propina. Noutros países, é também possível a concessão de empréstimos bancários.
Na Europa, Portugal não é, evidentemente, o único país onde se pagam propinas. A nós, juntam-se as universidades espanholas, holandesas, suíças, italianas e irlandesas, cujo o valor vai desde os 1001 euros aos 3000 euros.  A França, Luxemburgo, Bélgica, Áustria e a Croácia são exemplos de países onde as propinas são mais baratas, nunca ultrapassando o teto de 1000 euros. Em países como a Alemanha, Grécia, Finlândia, Suécia e Noruega não existem propinas e os alunos conseguem uma licenciatura de forma gratuita. Assim, não é de todo estranho que a Finlândia, a Noruega e a Suécia tenham uma elevada percentagem da população com ensino superior, cerca de 43%. Portugal apresenta um valor muito inferior, e de acordo com os dados do Eurostat, apenas 24% da população tem um curso superior. Para Júlio Pedrosa, autor do estudo “Educação Superior em Portugal: uma nova perspetiva”, a atual realidade portuguesa reflete “uma carência de licenciados em vários domínios de formação”.
Apesar de ser benéfica para as famílias e para os estudantes a redução proposta no valor das propinas, e até mesmo uma possível eliminação total desse valor, é importante considerar que o Estado deve compensar as universidades pela perda das propinas. Desta forma, o Governo deverá compensar estas instituições fazendo uma transferência diretamente do Orçamento do Estado. De acordo com o que o Governo transmitiu durante as negociações, esta medida terá um custo entre os 40 e os 50 milhões de euros.
É relevante referir que os impostos são um recurso que Governo pode utilizar para angariar a receita necessária para atribuir às universidades. Contudo, esses impostos podem em muitas situações serem regressivos e prejudicarem os cidadãos mais carenciados e, numa perspetiva mais ampla, aqueles que não possuem familiares no ensino superior serão ainda mais afetados.


Patrícia Daniela Ribeiro Fertuzinhos




[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

domingo, 18 de novembro de 2018

Bolhas Imobiliárias em Portugal

Um dos assuntos eminentes relativo à economia de Portugal nos dias atuais é o risco imposto pela bolha especulativa no setor imobiliário. Atualmente, este assunto é motivo de estudo e preocupação não só de Portugal, mas do FMI e agências de outros países da União Europeia, como é demonstrado pelos recentes alertas apontados pelos mesmos indicando o perigo deste fenômeno para o mercado. Para entender esta situação primeiramente temos que entender o que é uma Bolha no sistema Imobiliário e que riscos a mesma apresenta para a economia de um país.
         Primeiramente, temos que pontuar que uma bolha imobiliária só é formada quando existe um aumento dos preços de um bem quando a oferta se mantém ou não sobe ao mesmo nível, quer por motivos de fácil crédito, rendimentos folgados ou especulação nos preços, causando uma desproporcionalidade na sustentabilidade real do mercado. A causa deste fenómeno é motivo de discussão entre muitos economistas e não é possível ter certeza absoluta de como ele se origina. Porém, em Portugal, é possível especular que a sobrevalorização dos imóveis (principalmente em Porto e em Lisboa) pode ser atribuída às taxas Euribor estarem negativas, facilitando o crédito, aos chamados Vistos “Gold”, que puxaram os preços dos imóveis a valores extremamente altos, ao aumento brutal do turismo e, por fim, o aumento natural da economia.
Ultimamente, o FMI (Fundo Monetário Internacional) tem demonstrado uma grande preocupação com o crescimento desenfreado do mercado imobiliário português, com medo que os problemas ocorridos na crise de 2009 voltem a jogar Portugal noutra crise, nomeadamente uma escalada nos níveis de incumprimento do crédito à habitação. O FMI constata que os preços do mercado imobiliário já apresentam níveis pré-crise, visto que os preços das casas aumentaram em cerca de 20% em Portugal, comparado com os 7% da Zona Euro, atingindo máximos de 2009, onde a crise se instaurou, e o FMI teve que intervir junto com outras entidades financeiras para evitar um pior cenário.
O FMI nota que parte da subida dos preços, além do aumento do crédito à habitação, seja reflexo do apetite por parte dos estrangeiros em investir em imóveis em Portugal, sendo brasileiros, franceses e outros os responsáveis por comprar 25% dos imóveis vendidos em Portugal em 2017.   
Apesar de o FMI concordar que esta situação preocupante no sistema imobiliário não foi fomentada pelo ciclo de crédito, foi recomendado que as autoridades de supervisão (nomeadamente, o Banco de Portugal) devem manter-se vigilantes e implementar medidas macroprudenciais adicionais.
Atualmente, estão em causa três destas medidas preventivas da iniciativa para ser aplicada em novos contratos de crédito, sendo elas: a criação de limites para o rácio entre o montante do financiamento face ao valor do imóvel que serve de garantia (LTV), o estabelecimento de um teto máximo para o rácio entre os encargos com créditos e o rendimento familiar, bem como uma limitação à maturidade dos empréstimos.
Portanto, Portugal não é o primeiro e claramente não será a última economia no mundo a ter tal problema ao ponto de demonstrar perigo para seu progresso, uma vez que em 2008-2009 uma crise mundial tomou lugar muito por conta de bolhas especulativas nos sectores imobiliários das economias ao redor do mundo. Temos também que pontuar que, por outro lado, segundo os economistas Richard Herring e Susan Wachter, uma bolha no setor imobiliário não está diretamente ligada a uma crise bancária, uma vez que é possível acontecer uma ou outra independentemente. Porém, um aumento nos preços no setor imobiliário pode levar a um aumento no volume de crédito, fazendo com que o preço dos imóveis aumente ainda mais e, possivelmente, levar um país a uma situação de crise.

Lucas Nogueira de Almeida

Bibliografia:
-Asset price bubbles: The Implications for Monetary, Regulatory and Internacional Policies
-https://arrowplus.pt/o-que-e-uma-bolha-imobiliaria-em-portugal/
-https://eco.pt/2018/02/23/fmi-alerta-para-escalada-no-preco-das-casas-em-portugal/
-https://eco.pt/2018/01/11/estrangeiros-compraram-25-das-casas-vendidas-em-2017/

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Robô vs. Homem

A tecnologia foi-se infiltrando nas nossas vidas e atualmente está bastante presente no nosso dia-a-dia. As novas tecnologias tomaram um escala e um poder gigante, que tem colocado questões sobre os vários perigos que nos trouxeram ou virão a trazer, e até que ponto nós podemos manter o controlo.
Olhando para o passado, é possível identificarmos alguns marcos na história que precederam esta revolução industrial.
A 1ª Revolução aconteceu entre 1760 e 1840 e foi movida pela máquina a vapor. Estas máquinas facilitaram os trabalhos manuais, que começaram a ter o auxílio de máquinas.
A 2ª Revolução teve início no final do século XIX, tendo como principais inovações o uso da eletricidade, a linha de montagem e a produção em massa. A linha de montagem de Henry Ford tornou-se o símbolo da indústria da época, pois permitiu alargar a produção, tornando-a mais rápida e barata.
A 3ª Revolução começou na década de 60, com o domínio informático, levando, em 1990, ao boom da internet e das plataformas digitais.
A geração X foi concebida numa fase de transição e de entrada no mundo tecnológico, sendo a geração Y (millennials) a primeira que, efetivamente, nasceu envolvida neste meio. Esta geração desenvolveu-se numa época com grandes avanços tecnológicos e rodeada por todas estas inovações. Verifica-se então uma diferença entre estas gerações no à-vontade com as tecnologias e na capacidade de adaptação à sua presença nos trabalhos do dia-a-dia.
A Revolução 4.0 surge após estes três processos históricos e traz consigo uma tendência para a automatização total das fábricas. A revolução tecnológica terá um enorme impacto no mercado de trabalho, exigindo novas competências, implicando uma constante aprendizagem e adaptação. O facto de os computadores e máquinas estarem a tornar-se cada vez mais rápidos que os humanos tem levado a uma taxa crescente de substituição dos humanos por robôs.
As áreas de engenharia, matemática, ciências e computação deverão criar novos empregos, havendo uma previsão de aumento na ordem dos 20%. No entanto, apesar dos empregos do futuro, prevê-se que cerca cinco milhões de empregos sejam extintos até 2020, segundo o relatório "The Future of Jobs", de 2016, do World Economic Forum. Neste cenário de inovação, irá haver um aumento do fosso entre quem tem baixa qualificação e alta qualificação, o que pode criar maior desigualdade social e um “novo tipo de proletariado”.
Vários países estão a fazer investimentos de forma a acompanhar esta revolução tecnológica. De acordo com o relatório do Fórum Económico Mundial, de 2016, os setes países à frente nesta quarta revolução são: Singapura, Finlândia, Suécia, Noruega, Estados Unidos, Israel e Holanda. Segundo estudos da consultora Accenture, em 2015, um aumento da escala industrial desta revolução poderia gerar 14,2 biliões de dólares na economia mundial nos próximos 15 anos.
Na maioria dos casos, esta inovação tecnológica é vista como algo positivo e que vai melhorar a qualidade de vida e a economia. No entanto, nem todos veem o futuro com esse otimismo. As pesquisas refletem preocupações de alguns empresários com esta crescente robotização, temendo que se dê o "darwinismo tecnológico", onde aqueles que não se adaptam não conseguirão sobreviver.

Ana Rita Jordão Macedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Inteligência Artificial? Venha o desafio

Inteligência artificial tem sido cada vez mais a “língua” mais falada. Com o passar dos anos, o seu crescimento tem sido cada vez mais progressivo. Trata-se, nada mais, do que uma componente da ciência da computação, que foi desenvolvida por vários investigadores dessa área, através de alguns alguns mecanismos em que a sua finalidade é que certos equipamentos tecnológicos tenham uma inteligência similar à dos seres humanos. Está presente no nosso quotidiano através de um smartphone, computador, GPS e, entre outros instrumentos tecnológicos que nos acompanham e que muitas vezes nós nem damos conta, tudo se passa através de um “click”.
Na década de 40, iniciaram-se as primeiras pesquisas, mas após a criação do primeiro computador digital, na década de 60, surgiram várias linhas de estudo de Inteligência Artificial, uma delas, a biológica, onde a sua função seria desenvolver técnicas que pretendiam imitar as redes neurais humanas com mais afinco. Foi a partir daí que o conceito de Inteligência Artificial foi criado.
Entretanto, o crescimento dessa temática tem vindo a trazer algumas ameaças para a humanidade. Estas são o seu uso para fins maliciosos, o seu desenvolvimento de forma descontrolado, e o possível aumento de desemprego.
Iniciemos por relatar o seu uso para fins maliciosos. Temos o exemplo dos ataques cibernéticos, em que o seu desenvolvimento melhorará a eficácia dos problemas de “phishing” e de maneira mais sofisticada. O aumento da dependência cada vez maior de dispositivos automatizados, tais como em casas e automóveis, levarão a que a IA possa ser usada de modo a ter acesso a esse tipo de bens, causando danos catastróficos. Quanto ao seu desenvolvimento de forma descontrolada, deveremos ter em atenção que os investigadores e criadores de algoritmos que nos põem em mãos esses tipos de softwares ou dispositivos estão sempre em busca da perfeição, e um dos receios da humanidade é que os “robots” sejam desenvolvidos de tal forma que estes se sintam independentes e se virem contra os humanos.
Há vários estudos, quanto ao possível aumento de desemprego, com o aparecimento da inteligência artificial, mas não há dados suficientes que comprovem que o desemprego irá aumentar nem que irá diminuir, mas não deixa de ser uma ameaça para a população, que não tem conhecimento suficiente até provas em contrário.
O seu desenvolvimento não nos transmite apenas aspectos negativos, antes pelo contrário. Segundo um inquérito feito pela CIONET, em Portugal, prevê-se que 34,6% das empresas portuguesas irão utilizar uma solução de IA e 39% dos inquiridos já utilizam este tipo de ferramenta de IA. 94% das empresas inquiridas relatam que irão usar machine learning, que é um métodos de análise de dados que, de forma autónoma, cria modelos analíticos. De forma mais recorrente, prevê-se também um impacto positivo na empregabilidade portuguesa de 15,1%.
Outro aspecto positivo, é a criação do sistema autónomo, denominado “autopilot”, em que a sua função é a deteção e previsão de acidentes, para que este seja evitado. A Tesla é a criadora desse dispositivo, que conta com um radar que permite visualizar objetos que não estejam no nosso campo de visão (atenção que isto não quer dizer que o papel de conduzir não esteja presente, apenas é um auxílio que melhora de certa forma a segurança rodoviária). Assim como na área da medicina iremos ter a utilização de técnicas de IA, como a machine learning, principalmente, cujo objetivo será a capacidade do computador reter e ler milhares de exames passados, para complementar a informação do resultado no exame seguinte ser com base na informação passada, de maneira a aumentar a eficiência na detecção de alguma anomalia.
Contudo, na pior das hipóteses, deveremos aceitar esta presente ameaça não como obstáculo mas sim como oportunidade, de maneira superar-nos e usá-la principalmente como mais uma ferramenta para nos ajudar a ultrapassar a nossa capacidade cognitiva, tendo sempre em primeiro lugar a ética e a responsabilidade social no seu crescimento.
                                         
Hugo Filipe Lima Vaz do Rosário

Referências:
Jornal Económico
Diário de Notícias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

terça-feira, 13 de novembro de 2018

COMÉRCIO EXTERNO EM PORTUGAL - Mudanças causadas pela Adesão à CEE ; Indústrias, Parceiros Comerciais e Isolamento

A performance do comércio externo em Portugal no período de 1986-1992 é ambivalente, e justamente por esta razão digna de interesse: se a abertura da economia Portuguesa em 1986 representou um passo (em termos de relações comerciais) em direção aos seus parceiros europeus, também é lícito dizer que selou seu distanciamente face ao resto do mundo, criando dificuldades para ampliar o alcance de suas exportações. Se é fato que se beneficiou do acesso irrestrito a produtos originários dos parceiros da CEE,  também é verdade que não houve uma contrapartida  da mesma participação de produtos portugueses no mercado interno.[1]
Há inegavelmente um salto de crescimento no número de exportações em relação ao produto interno, principalmente atribuído à abertura da economia. Neste sentido, destacaram-se as indústrias tradicionais de exportação (têxteis, calçados e vestuário). Há, por outro lado, e pelo mesmo motivo, um crescimento ainda maior no nível de importações. No que diz respeito às exportações, seu crescimento deu-se apesar da valorização do escudo observada no período, sobretudo, diga-se, em relação à peseta espanhola. Este último facto ajuda a explicar o aumento sem precendentes das importações  supracitado, uma vez que a maior parte dos produtos era de origem espanhola.
Tendo isso em mente, se constata que a competitividade-preço das exportações portuguesas não foi o fator a pronunciar  a melhoria global observada nas exportações, de forma que os resultados positivos no setor  podem ser provavelmente “imputados a fatores de outra ordem, notadamente à melhora das condições de oferta advindas da modernização industrial, parcialmente financiados por investimentos diretos estrangeiros.” [2]
No âmbito de transições de parceiros já relatadas, há que se destacar a intensificação das relações luso-hispânicas do que diz respeito ao comércio. Os dois países, apesar de vizinhos, não possuíam relações comerciais intensas antes da adesão devido à existência de barreiras tarifárias. A partir de 1986, com a entrada concomitante dos dois membros, há o desaparecimento deste obstáculo, e uma participação crescente do país vizinho tanto nas exportações como importações, como demonstrado no gráfico abaixo. É possível observar também uma participação decrescente dos Estados Unidos como parceiro comercial, em detrimento ao mercado europeu.
Nos gráficos a seguir[3] é possível visualizar a evolução dos principais parceiros de comércio de Portugal em período imediatamente anterior à adesão e sua posterior evolução. Como consequência da abertura ao exterior e dos investimentos diretos estrangeiros, observa-se nesse período uma transição da indústria tradicional – e com menor especialização tecnológica – refletindo a tendência dos investidores estrangeiros no que diz respeito aos produtos de exportação, sobretudo após 1995, com o funcionamento da Autoeuropa. Outro motivo para a transição observada situa-se na diminuição de taxas de importação de países menos desenvolvidos (sobretudo, países asiáticos) por parte dos mais desenvolvidos a partir do “Acordo Sobre Têxteis e Vestuário”, em 1994.
Em termos práticos, Portugal teve de fazer face aos seus concorrentes da CEE (mais desenvolvidos tecnologicamente) e de indústrias asiáticas (com maior potencial preço-competitividade) ao mesmo tempo em que sofria as consequências de ter se centrado em uma economia que não exigia mão-de-obra especializada nem modernizações a fim de assegurar sua competitividade nacional, para além de ter consolidado uma certa dependência comercial dos seus parceiros comunitários.
É indiscutível a intensificação das relações comerciais pós-adesão à CEE e as vantagens decorrentes da mesma. Resta questionar se o preço pago fez jus aos benefícios.

Marcelo Amaro Guimarães

I.  Evolução das exportações portuguesas entre 1985 - 1988.

(1985)




(1987)


(1988)





[1]
                AMADOR, João ; CALDEIRA CABRAL, Manuel (2014) “A Economia Portuguesa na União Europeia 1986-2010)”, p.189

[2]
               Études économiques de l'OCDE : Portugal 1989

[3]
               Dados retirados do “Center of International Data” ; “World Import and Export Data”.


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho

A importância da inovação

O conceito de I&D (investigação e desenvolvimento) designa um conjunto de atividades ou trabalhos criativos executados de forma sistemática e com vista ao aumento dos conhecimentos humanos, bem como à utilização desses mesmos conhecimentos em novas aplicações.
Este conceito engloba três categorias de atividades: a investigação fundamental, a investigação aplicada e o desenvolvimento experimental.
A investigação fundamental consiste em trabalhos experimentais ou teóricos que têm como finalidade a obtenção de novos conhecimentos científicos sobre os fundamentos dos fenómenos e factos observáveis. A investigação aplicada, tal como a investigação fundamental, tem como objetivo a aquisição de novos conhecimentos, mas com uma finalidade pré-determinada. Esta consiste em trabalhos originais. Por fim, o desenvolvimento experimental consiste na utilização sistemática de conhecimentos existentes com vista a fabricação de novos materiais, produtos ou dispositivos, bem como à instalação de novos processos, sistemas ou serviços.
Em 2017, o I&D representou 1,33% do PIB portugês. Da despesa total investida, 51% foi feita pelo setor das empresas, seguindo-se o ensino superior com 43%. As empresas garantiram a maior parte do aumento em relação a 2016, investindo mais 139 milhões do que no ano passado, enquanto no Ensino Superior se investiu mais 24 milhões do que em 2016. O Estado e instituições privadas sem fins lucrativos asseguraram, respetivamente, 5% e 2% do investimento.
É fundamental o investimento em I&D para que as nossas empresas se tornem mais produtivas, para que estas criem melhores produtos e produtos mais inovadores. Este investimento é necessário para conseguirmos exportar mais bens e serviços de alto valor acrescentado. Só assim a nossa economia pode progredir e o país criar condições para crescer sustentadamente.
Deve-se aumentar a despesa em I&D pública e privada, através de estabilidade na inovação. Esta estabilidade pode ser conseguida através de: aumento do emprego qualificado e científico associado a atividades de I&D empresarial; apoio a capacitação das pessoas e organizações para a transformação digital; reforço das ligações entre os ‘atores’ do sistema de inovação (empresas, universidades, instituições de I&D, centros tecnológicos, centros interface e outros), criando oportunidades de orquestração de atividades, preferencialmente à escala global; definição, estrutura e apoio no desenvolvimento de agendas de inovação orientadas para a criação de valor económico e social; entre outras.

Em suma, é muito importante o investimento em I&D para que Portugal possa competir com os outros países de igual para igual.

Adriana Ferreira

Bibliografia:
·         Observador
·         Jornal Público

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho

Compro ou alugo carro?

Há alguns anos, para se ter carro ou o pagávamos a pronto ou recorríamos a créditos bancários. Apesar deste cenário atualmente ainda se verificar, outras opções foram aparecendo, como é o caso do aluguer de longa duração (ALD) e do leasing.
O ALD e o leasing são formas de financiamento relativamente similares. No leasing, também denominado como locação financeira, através da celebração de um contrato, a instituição de crédito (“locadora”) cede ao cliente (“locatário”) a utilização temporária do automóvel, tendo como contrapartida o pagamento de uma renda mensal fixa. No final do contrato, o cliente poderá adquirir o automóvel, se estiver interessado, mediante o pagamento do valor definido no contrato (“valor residual”).
O ALD difere do leasing aquando do período em que o contrato termina. Neste caso, o cliente tem obrigatoriamente de ficar com o automóvel, ou seja, terá de pagar o valor residual e comprar o veículo. Após este pagamento, a Locadora transfere a propriedade do carro para o cliente.
O leasing tal como o ADL é vantajoso para as pessoas que não dispõem da quantia necessária para pagar a entrada para terem o automóvel. Para além deste ponto, o leasing tem outras vantagens, tais como: a possibilidade de obter 100% do financiamento; rapidez na resposta e elaboração do contrato; opção de compra do automóvel no final do contrato, mediante o pagamento de um valor residual; isenção do Imposto de Selo sobre os juros do financiamento; juros, normalmente, inferiores aos de outras opções de financiamento; benefícios fiscais para as empresas, tais como a dedução de IVA das rendas; maior flexibilidade na escolha do prazo, da entrada inicial e do valor residual; possibilidade de escolher o equipamento, bem como o fornecedor do mesmo.
No entanto, o leasing também apresenta algumas desvantagens. São elas: o facto do comprador não ter direito de propriedade do bem até à liquidação total do valor em dívida; as comissões serem, normalmente, superiores à de outros tipos de financiamento, caso o indivíduo opte pela liquidação total do leasing antecipadamente; ser obrigatório a contratação de um seguro contra danos próprios, com franquias mínimas estipuladas pela Locadora; ser um compromisso que não pode ser interrompido por qualquer uma das partes, e em caso de não pagamento das mensalidades, a devolução do veículo é mais rápida.
O Banco de Portugal fez um estudo em que comparou o número de contratos do crédito automóvel entre o leasing ou ADL e o crédito com reserva de propriedade e outros. Desse estudo resultou notória uma variação positiva no número de contratos de crédito automóvel celebrados do agosto de 2017 para o agosto de 2018. A nível do leasing, deu-se uma variação homóloga de cerca de 6%. No caso dos créditos com reserva de propriedade e outros, a variação homóloga foi de aproximadamente 13%. Desta forma, conclui-se que o número de contratos no mês de agosto de 2017 face ao agosto de 2018 sofreu um maior aumento nos créditos com reserva de propriedade e outros. 
A meu ver, para quem não consegue comprar um carro a pronto ou então não pretende fazer este investimento de uma vez, este tipo de financiamento é uma alternativa. No caso de uma empresa que usa muito os automóveis, fazer um leasing, por exemplo, a mais de 5/6 anos pode-lhe ser vantajoso, porque se calhar ao fim desse tempo os carros já estão desgastados e teria de comprar um carro novo. Desse modo, o investimento que teria feito ao comprá-lo acabaria por não lhe ser muito lucrativo. Para além das empresas, o leasing também se pode tornar vantajoso para particulares que utilizam muito o carro, ou então, que simplesmente ao fim de um curto período pretendem trocar. 
Em suma, este tipo de financiamentos comporta alguns pontos positivos e permite que pessoas com mais dificuldades financeiras possam também utilizar um carro, nem que seja alugado, sem terem de disponibilizar inicialmente quantias insuportáveis para elas. Como qualquer crédito causa encargos também para o credor, resta saber até que ponto as agências financiadoras os podem suportar, sendo estes de relativamente fácil acesso. Como já vimos em anos passados, a criação de expetativas mais favoráveis do que aquilo que é a realidade pode causar pesados danos. Desde que as pessoas façam uma análise consciente do compromisso e saibam que o podem comportar, este financiamento pode ser sustentável tanto para o credor como para o devedor.

Ana Isabel Costa Pereira

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[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]